As grávidas da noite natalina.
Gustavo e Marina eram um jovem casal, ambos tinham 35 anos. Gustavo trabalhava no escritório de advocacia de seu pai e Marina trabalhava como arquiteta. Os dois planejavam o primeiro filho há cerca de um ano, pagavam um plano de saúde para ter cobertura do parto.
Marina ficou grávida e há 8 meses iniciou o pré-natal com uma competente obstetra.
Carlos e Maria, também, eram um jovem casal. Maria tinha 29 anos e Carlos 36 anos. Ela, Maria, coletava materiais recicláveis nas ruas. Carlos trabalhava vigiando carros e, também, coletando materiais recicláveis. Carlos e Maria, moram numa pequena casa com dois cômodos.
Maria é mãe de uma menina, chamada Alice, que mora no interior com sua mãe. Agora, Maria está esperando o seu segundo filho. A cerca de nove meses iniciou o pré-natal no posto de saúde.
Hoje, 24 de dezembro todos comemoram a noite de Natal. Gustavo e Marina estão na casa do pai de Gustavo, numa grande e farta ceia com peru, rabanete, arroz de forno, leitão assado, frutas, verduras, sucos e vinhos. Todos estão muito felizes, mas Marina deseja ir na barraca de venda que fica perto do seu trabalho para comer uns churros. Gustavo, mesmo contrariado, vai com sua esposa até a barraca que vende churros e outros lanches.
Noutro lugar daquela cidade, Maria e Carlos contam moedas para comprarem alguma comida naquela noite. Após a contagem, ele veem que dá para comprar um cachorro-quente e um copo de suco que, para aquele casal, será o jantar naquela noite de natal. Assim, vão até à barraca que vende cachorro-quente, churros, refrigerantes e sucos.
Gustavo chega na barraca com sua esposa para comprar churros, Marina escolhe uma mesa e senta. Na mesa ao lado estão Carlos e Maria jantando um cachorro-quente.
Carlos percebe que Marina está grávida e olha, pois nota a barriga daquela mulher quase do tamanho da barriga de sua esposa. Então, Carlos percebe que a cadeira está se quebrando com a moça e corre para não deixar ela cair, ele segura moça e não a deixa cair.
Logo, Gustavo ver e pergunta o que está acontecendo imaginando que ele está incomodando a sua esposa. Inevitável julgamento, pois é um rapaz mal vestido.
Marina sorriu e falou: __ Ele evitou que o pior acontecesse. Eu cairia, pois, a cadeira estava quebrando.
O rapaz arrogante agradece ao rapaz prestativo por não ter deixado sua mulher cair. Depois dos ânimos calmos, os dois homens resolveram juntar duas mesas. Aliás, no Natal é sempre necessário construir novas amizades. Carlos busca Maria na outra mesa, enquanto Gustavo troca a cadeira que Marina estava sentada e junta outra mesa com mais duas cadeiras.
Maria comeu apenas metade de seu cachorro-quente, parecia não está muito bem. “Vamos para casa. Guardarei a outra metade para você comer mais tarde, caso sinta fome”, fala Carlos. Quando a moça se levanta da cadeira para ir embora sua bolsa rompe. Todos, escutam o forte grito que ela dá.
Logo, Gustavo e Marina oferecem ajuda para levá-la no hospital mais próximo, Carlos e Maria aceitam o gesto do espírito natalino. Dentro do carro de Gustavo e Marina, Carlos e Maria desejam passarem primeiro em casa, pois precisam pegar os documentos. A casa ficava pertinho da casal da barraca de lanches. Ao chegarem na casa, Gustavo e Marina se surpreendem com a pequena casa aquele casal pobre.
Os quatros seguem para o hospital público em busca de atendimento para Maria, mas a maternidade está lotada e tem não como fazer a internação. A bolsa já estava rompida, Maria com fortes dores teria que ser levada para o outro lado da cidade, aonde ficava mais distante, e, para complicar, estava acontecendo uma festa de Natal na avenida que seguia a direção daquela outra maternidade.
O casal, Gustavo e Marina, fica muito preocupado por perceber o bebê de Maria e Carlos estava prestes a nascer. Ali perto fica a maternidade do plano de saúde que Marina paga. Gustavo liga para lá e pergunta se é possível receber uma mulher prestes a dar à luz, mas que não tem como pagar no exato momento e, a recepção do hospital, negado a internação sem o pagamento na hora da internação.
Marina tem uma ideia, “Gustavo você está com meu cartão do plano de saúde?”, pergunta ela. “Sim, estou, não saio de casa sem o cartão”, responde Gustavo. A ideia rápida da moça é levar Maria em seu lugar já que as duas são parecidas (cor e tamanho dos cabelos).
Gustavo fica com medo, pois é crime de falsidade ideológica se passar por outra pessoa, e, para piorar, ele seria cúmplice. Mas, em meio a preocupação com a moça prestes a dar à luz, aceita o plano da sua esposa e, leva Maria se passando por Marina.
Chegando no hospital particular, na recepção, ele mostra o cartão do plano de saúde. Por sorte, não é perguntado muitos detalhes da vida de Marina (Maria), pois a moça já está com bebê prestes a nascer.
Gustavo entra na maternidade com Maria como se fosse o pai do filho dela, segurando uma pequena bolsa velha com itens de bebê, pois o enxoval do bebê tenha sido doado. Aquele detalhe chamou um pouco atenção das assistentes administrativas do hospital, enquanto Carlos espera com sua esposa Marina no carro.
Logo, nasceu o bebê com cordão umbilical enrolado no pescoço. A obstetra e a pediatra, da equipe que realizaram o parto, falam que não poderia demorar mais tempo porquê o bebê teria morrido asfixiado.
Gustavo emocionado ouve o choro do bebê como se fosse seu filho e fala para Maria que está tudo bem com o bebê. Logo, a obstetra que fez o parto liga para obstetra que acompanha Marina no pré-natal, falando que ela já deu à luz a um lindo menino. Marisa, obstetra de Marina resolve ir até a maternidade, pois o bebê que Marina esperava era uma menina. Se nasceu logo seria prematura, além da falta de sentido na diferença de sexo da criança. Marisa, vai rápido para ver o acontecido na maternidade, já que não entendeu nada.
Chegando na sala de parto ela viu Gustavo com uma moça diferente e um bebê que a moça segura em seu braço. Marisa, logo perguntou o que estava acontecendo, Gustavo muito nervoso conta tudo que ocorreu. A Obstetra compreendeu e explicou para sua colega que aquela não é Marina e sim outra moça chamada Maria. Por solidariedade, Gustavo trouxe outra mulher no lugar da esposa, rapaz fala que vai pagar pelo procedimento médico do parto.
Mas, todos ali se emocionam, a doutora Marisa sócia da maternidade e dá o parto de presente para aquela moça chamada Maria. Gustavo vai chamar sua esposa e Carlos para verem o menino que acabou de nascer. Todos ficam muito emocionados, porque aquele rapaz arrogante chamado Gustavo fala, “hoje aprendi o verdadeiro significado do que é Natal”.
Maria recebeu alta, após três dias, e passa a morar na casa de Marina e Gustavo. Quando termina o repouso do parto, torna-se empregada e, também, babá do filho do casal (Marina e Gustavo) quando nasce. Carlos, também, foi trabalhar como faxineiro na empresa do pai de Gustavo, e à noite voltava para casa que ficava os fundos da casa dos seus patrões.
Gustavo e Marina foram padrinhos do filho de Carlos e Maria que se chama Manuel, pois nasceu para meia-noite do Natal. Carlos e Maria, também, tornaram-se padrinhos de Beatriz, nascida um mês depois que Gustavo e Marina tiveram Manuel.
Maria foi buscar sua filha Alice para morar novamente com ela e estudar numa escola particular.
Assim, aquelas duas famílias pareciam uma só, pois as crianças que cresceram juntos. E assim, naquela maternidade todos perceberam a presença do menino Jesus, presente no choro e no sorriso daquele bebê do pobre casal.
A direção daquela maternidade, resolveu que todos bebês que nascessem na noite de natal, o parto seria por conta da instituição. Como uma forma de receber o Menino Jesus o filho de Deus, num lugar onde nascem os filhos de homens.
Escrito por mim, Vera Lúcia Batista Aguiar.
Quando amamos enxergamos com o coração.
Em um pequeno sítio morava um casal muito apaixonado, não tinham filhos, pois casaram com a idade já avançada. O homem era um dos melhores sanfoneiros da região e sua esposa fazia deliciosos bolos para vender na feira da cidade.
Eram muito felizes, mas queriam muito ter uma criança. Na vida é só ter fé somada com paciência para que um sonho aconteça. Assim, todos os dias uma atitude de fé com paciência, o destino presenteou o casal. Numa certa madrugada, a mulher escuta um choro fora de casa.
Ela pensou que poderia ser um gatinho miando em sua porta, pois aquele choro era fraquinho e parecia de um bichano. Quando a mulher abriu a porta segurando uma lanterna, viu uma caixinha na porta, então ela baixou e abriu a caixinha clareando com a lanterna.
Teve uma surpresa grande, quando olhou dentro tinha um pequeno bebê.
_ Veja deixaram na nossa porta um bebê, a mulher gritou para o seu marido.
O homem correu para olhar o acontecimento, apanhou a caixinha e levou para dentro de casa. A caixa tinha um bebê muito pequeno com aparência de ter nascido prematuro.
Aquele ser humano pequenininho ainda estava com seu cordão umbilical. A mulher colocou uma chaleira no fogo para aquecer água, desinfetou na água quente uma tesoura e usou para cortar o cordão umbilical daquele bebê, amarrou com cuidado e, depois, com ajuda do seu esposo deu o primeiro banho naquele bebê, em seguida, o nenê foi envolvido em lençóis quentinhos (aquecidos em um ferro de brasa usado para passar roupas).
O homem foi no curral e tirou um pouco de leite numa vaquinha, trouxe para a mulher que colocou um pouco de água e ferveu aquela mistura. Aguardaram o leite com água ficar morno e, a mulher, deu ao menino com uma colher pequena.
No outro dia, o homem foi na cidade comprar roupas e fraldas para o bebezinho. (Naquele tempo, por volta dos anos 1940, era comum alguém chegar com um bebê e registrar no cartório como seu filho). Assim, o casal registrou aquele menino como filho dando a ele o nome de Miguel, porém eles o chamavam de Sereno (Diziam: _ No sereno da noite ele foi trazido para nossas vida. Nós, amamos ele muito).
Aquele casal ficou feliz com a chegada daquela criancinha. Ao completar 6 meses de vida, seus pais perceberam que Sereno não enxergava, pois não acompanhava movimentos do mundo em volta com seu olhar.
Os pais de Sereno ensinaram tudo ao menino, andar passo a passo sentindo os detalhes do chão, conhecer nomes de objetos com toque de mãos. Aquele menino cresceu esperto com sabedoria, ele percebia e sabia de tudo em volta (onde ficava a água, a comida, o fogão e tudo mais dentro de sua casa). O menino quando andava em casa parecia que não tinha nenhuma deficiência visual.
Sereno, tinha muitos amigos, ele conhecia o passo de cada um quando se aproximava, o som da voz, a risada e, também assim, reconhecia na natureza o som de todos os animais à sua volta (o canto dos pássaros, o canto das aves domésticas, as vacas com seus barulhos no curral, etc.) e som de cada objeto humano (o rádio, o chocalhos do gado, o barulho do pilão de sua mãe, os cantadores de viola que passavam na comunidade no mês de São João, o grupo de pastoril chamado Súditos do Rei que passava na comunidade do mês de dezembro até a primeira quizena de janeiro.
Sereno, tinha um mundo cheio de sons que servia como um livro para ser lido. Porém, entre tantos sons na sua vida, ele ouvirça muita música no rádio de sua casa.
Muito além de tanta sonoridade no mundo, o menino cresceu ouvindo seu pai tocar sanfona. Sereno era muito bom de ouvido, logo aprendeu todas as notas musicais (agudos e graves) na sua memória, rápido se familiarizou com o instrumento musical de seu pai.
Aquele som típico da sanfona (Fom Foron Fom Fom Foron Fom Fom) aquele guri sabia fazer na boca, não tardou para saber usar os acordes dos "baixos" da sanfona. A maior dificuldade, no começo para o menino que começo tocar cedo, era a sanfona ser muito pesada para uma criança.
Reconhecendo o talento nato do filho, seu pai comprou na "Feira de Caruaru", já que no seu estado era raro esse instrumento naqueles tempos, uma pequena sanfona de 30 baixos e presenteou seu menino.
O menino, fazia jus ao nome carinhoso dado pelos pais, era uma criança serena, pouco a pouco foi tocando aquela pequena sanfona e num tempo muito breve já sabia tocar as músicas clássicas do repertório do nordeste, entre tantas músicas estava "Asa Branca".
Depois, conforme seu corpo cresceu, seu pai comprou uma sanfona de 60 baixos e o menino executava as músicas cada vez melhor, com a idade de 12 anos já acompanhava o seu pai nos "Forrós".
A sanfona do pai do garoto era de 120 baixos e o menino também já tocava umas músicas nela. Quando o rapaz já estava com 19 anos seu pai faleceu e ele ficou só com sua mãe. Os ensinamentos do seu pai valeu muito e permitiu ele trazer algum dinheiro para o sustento seu e da mãe.
Todo final de semana o rapaz tocava, às vezes naquele mesmo sítio que morava, sempre tinham moças e rapazes que ficavam dançando perto dele. Sereno conhecia todos os seus amigos através da voz, do cheiro e dos passos sobre o chão. Uma das suas melhores amigas era a Mariana.
Mariana, às vezes dançava com alguns rapazes, outras vezes ficava só por perto de Sereno girando o corpo e rodando sua saia rodada e arrastando seu pé no forró. Enquanto que, noutros momentos, o rapaz tocava e a moça cantava. Sereno achava linda a voz daquela moça, ele não via com os olhos mas enxergava com o coração. Aquela moça tinha longos cabelos que às vezes batia no rosto do rapaz sentado, tocando maravilhosamente sua sanfona.
Todas as amigas de Mariana falavam que ela sentia amor Sereno não era só amizade a moça e sempre sorria mas não falava que sim nem que não.
Quando o dia estava para amanhecer, Sereno sempre ia para casa acompanhado do seu primo, pois ele o conduzia pelo caminho para o rapaz não cair. Porém, uma noite o primo de Sereno foi embora para casa cedo, devido uma dor de barriga, enquanto isso, Sereno continou tocando.
Quando o baile acabou Mariana pediu ao seu pai para deixar ela conduzir Sereno até em casa. O pai da moça concordou, pois era perto da casa de Sereno a casa da família da moça. Por isso, os dois se conheciam muito bem desde criança.
A moça falou que ia conduzi-lo até em casa. Sereno colocou sua sanfona nas costas. A moça deu o braço para o rapaz e os dois saíram vagamente pela madrugada serena.
_ Seus cabelos são muito cheirosos (O rapaz falou para a moça), gosto quando você fica dançando à noite perto de mim e ela batem no meu rosto.
_ Como você sabe que eu danço perto de você a noite?, a moça perguntou.
_ Sinto o seu cheiro, falou o rapaz.
_ Você também é muito cheiroso Sereno, seu sorriso é lindo, seus olhos também bonitos (Verdes como o verde das canas do canavial ali perto de nós), falou Mariana.
Aquela moça sonhava em beijar a boca daquele rapaz, assim como ele que nunca tinha provado um beijo desejava beijá-la. O rapaz não sabia o que era um beijo, apesar de cantar sobre beijo.
Queria sentir aquela moça mais próxima do seu corpo. E, aquela moça queria muito beijar o rapaz, pois o amava e falou para ele que iria lhe dar um beijo.
O rapaz esperava um beijo no rosto como sua mãe sempre o dava. Ele tomou a iniciativa e falou: _ "Quero o seu beijo?". Então, a moça, aproximou-se do rapaz e colou seus lábios sobre o dele e assim sentiram juntos aquele beijo.
O rapaz perguntou: _ "O beijo quer dizer o quê?". A moça respondeu: _ "Que estamos namorando".
O rapaz tocou toda face da moça, cheirou seus longos cabelos, deslizou os lábios seus até os lábios da moça boca e beijou ela novamente.
Quando chegou em casa, sua mãe abriu a porta para seu filho e, rápido, ele falou que estava namorando com Mariana.
Sua mãe não acreditou, entretanto a moça confirmou que sim. "Amo muito o sereno", ele disse para a mãe do rapaz.
Algum tempo depois, eles fizeram um grande forró para comemorar o noivado, depois casaram na capelinha toda enfeitada de flores brancas. Marina estava linda com um belo vestido de noiva sendo conduzida pelo seu pai, enquanto Sereno tocava a "Marcha Nupcial" do próprio casamento, já que o rapaz sempre tocou a marcha nos casamentos de outras pessoas.
Naquela cerimônia, os dois disseram "Sim ao Amor". Na lua de mel os dois pouco a pouco foram se tocando: O rapaz conheceu todo o corpo de sua amada com o toque de suas mãos lentamente, despiu ela, e, juntos, entregaram-se ao amor.
(Aquele rapaz enxergava o belo corpo de sua amada com alma).
Sereno casou com Mariana, mas morava na casa de sua mãe, pois no lar materno ele sabia onde estava no lugars cada objeto e detalhe. Mariana era costureira e ajudava na renda da família. Daquele feliz casamento nasceram quatro filhos (2 meninos e 2 meninas) e, aquela família era muito feliz. Sereno era um homem realizado, trabalhava no que gostava, tinha uma esposa maravilhosa, filhos e cuidava de sua mãe na velhice (Mulher que lhe deu abrigo, ensinamentos, coragem e amor).
Conto escrito por mim, Sol Lúcia, inspirado numa história real de um jovem sanfoneiro que era cego. Meu tio e sogro, Daniel Aguiar, contava-me que tinha conhecido nele o melhor sanfoneiro.