não queria ter de escrever sobre ela
mas é impossível evitar
faço pausas longas, arrumo meus óculos
respiro profundamente e a cabeça dói
a visão fica turva, meu corpo não responde mais
é isso.
talvez seja isso,
e pensar nisso,
faz meu coração
se afogar lentamente
naquele cheiro
naquelas tranças
naqueles grandes lábios sorridentes
naquela deliciosa boca
adornada com os mais
perfeitos dentes
naquela pele lisa
delicada e suave
e macia e quente
e em como nossas testas
se encaixam
entre as pausas
de nossos beijos incandescentes
o longo silêncio
poético e estridente
vem de novo
quando falo sobre ela
para meus amigos
que sabem exatamente como eu fico
quando um ser de luz desses
resolve me visitar aqui na Terra
e levar de mim, todo o breu
mas temo admitir,
que estou
assombrosamente maravilhada
por aquele pequeno rosto
que brilha no sol
e na lua
transtornada
por aquela voz
suavemente doce
aquela risada contagiante
aquelas mãos grandes
de pianista
que abrigam as minhas
tão, tão bem
andamos entrelaçadas
pelo bar mais sujo da cidade
e eu fiz vista grossa
pra qualquer par de olhos
que ousasse se intrometer
talvez só ela saiba
o que viu em mim
nesse ser confuso
cheio de marcas
de traumas grotescos
que arranham cada parte do meu ser
e não me permitem sentir
tão intensamente,
quanto antes eu já senti
mas ela docemente sorri
e acaricia meus dedos
diz que eu não pareço ser assim
talvez só eu saiba
o que eu não quero
que ela nunca veja em mim
mas eu amei ceder
um rústico e suave toque
um sopro que apaga
as fagulhas enfeitiçadas
por três luas, duas divindades
foram encharcadas
com borrifadas de emoção
parece ser tão surreal
quando finalmente
o afeto de outro alguém
não é ilusão
é que as estrelas nos olhos dela,
brilham mais para mim
que estou na escuridão.