Adergleyson estava caindo desesperadamente. Tudo girava dentro de seus olhos fechados, enquanto o universo se retorcia e gritava, acompanhando o som dos pássaros que dançavam sem asas, rumo a morte, caindo velozmente pelo penhasco.
Ao longe podia-se ouvir a cachoeira chorando lágrimas de flores e desespero. Seus habitantes não mais tinham vida, pois foram cruelmente dizimados pela ação de um humano colecionador de cadáveres.
Esse era o povo Borbo-tigresa-nossárico: pequenos dinossauros com rostos humanóides, asas de borboleta e pelagem de tigre. Na noite em que ocorrera o massacre, a lua estava alegre em formato de coração, declamando poemas e profetizando lindas bençãos de amor para o futuro. Seu povo cantarolava no ritmo dos poemas declamados, casais se abraçavam e crianças brincavam de esconde-esconde por entre as árvores coloridas e deformadas da floresta.
Mas assim que um urro gutural e aterrorizante começa a ser ouvido, as crianças se retorcem inteiras e têm um surto de catapora e de dengue hemorrágica, começando a sangrar violentamente por seus ouvidos peludos. Os adultos desesperados para proteger seus bebês iniciam um ritual de exorcismo terapêutico, no qual rasgavam suas próprias línguas em oferenda ao Deus-Diabo-do-Sangue, cantando músicas da Xuxa como forma de se comunicar com ele.
Marisclêida era esposa de Destrubião, que muito prestativo quis acelerar o processo de exorcismo, indo estancar com os próprios dedos o sangramento das crianças. Porém ele não tinha noção de sua própria força, e em cada ouvido infantil que ele enfiava seus dedos, suas unhas enormes apenas rasgavam tudo e pioravam ainda mais a já preocupante hemorragia.
Ao ver a situação, sua amiga Prítyci – mãe de uma das crianças perfuradas – fica enfurecida, então ela com sua força descomunal arranca uma árvore do chão e com toda raiva do universo espanca Destrubião, que de tanto arrependimento, chora enormes e fedorentas lágrimas de fezes verdes e usa suas unhas compridas para perfurar a própria cara, arrancando seus olhos.
– Eu não mereço viver, eu não mereço viver... – grita o homem já sem as esferas que antes lhe davam a visão.
– Cala essa boca maldita, seu desgraçado infeliz – retruca a jovem, em suas últimas palavras antes de ser morta por Marisclêida – que para salvar seu marido, abre bem fundo a sua própria bunda e retira de lá de dentro de seu cu uma enorme motosserra e corta sua amiga ao meio.
Mas infelizmente sua mira não foi das melhores, e ela acaba também cortando seu marido ao meio. A cena explodia com fogos de artifício e pétalas de rosas, a cachoeira chorava, o colecionador urrava e espreitava de longe, os dois corpos estraçalhados pela motosserra se transformavam lentamente em vômito purulento, e Marisclêida entrava gradativamente em um estado de pânico e loucura.
Sua dor é tanta, que perde completamente a razão e começa a maiar sua cabeça nas pedras enquanto solta muitos puns azul-escuro que se transformam em elefantes endiabrados que vão pisoteando e destruindo tudo.
Nesse instante o colecionador para de urrar e começa a atirar com uma metralhadora em formato de guitarra tântrica freudiana. A lua está sangrando vômito amarelo, as nuvens estão chorando argila, todas as crianças cagam sangue pelos ouvidos, umbigos e olhos, e o pequeno Adergleyson cheio de pústulas de catapora grita desesperadamente para salvar sua mãe Marisclêida, mas sem sucesso pois ela consegue explodir sua cabeça nas pedras, e os elefantes azuis terminam por devorar seus restos mortais em poucos segundos.
– Mãããee!!!!!! Ovo friiiiito!!!!! Profiterooole!!!!!!!
O pequeno menino jura vingança e vai atrás do colecionador. Apesar de toda a dor da catapora, ele resiste, pois é uma criança especial, suas asas de borboleta soltam purpurina venenosa em formato de capivara. As capivaras ganham vida e mordem o colecionador – que antes de morrer infelizmente joga uma bomba de dinamite na aldeia. Todos explodem em mil pedacinhos, menos Adergleyson que consegue fugir com suas asas especiais e a ajuda de suas capivaras.
Porém a terrível explosão fez suas asas e suas capivaras pegarem fogo e se dissolverem em ácido, e agora Adergleyson estava caindo desesperadamente. Tudo girava dentro de seus olhos fechados, enquanto o universo se retorcia e gritava, acompanhando o som dos pássaros que dançavam sem asas, rumo a morte, caindo velozmente pelo penhasco.
*****
Adergleyson estica seu esguio pescoço de girafa, para dar um pequeno arroto após beber o leite de sua mãe. Seus olhinhos estão inchados de tanto chorar por ter tido um pesadelo deveras estranho na noite passada.
– Meu anjinho, não se preocupe, a mamãe sempre vai te proteger, não se importe com esses pesadelos feios sobre dinossauros, borboletas e elefantes azuis, nada disso existe, meu filho – diz gentilmente Marisclêida, a mamãe girafa.
– Ah mãe, esse pirralho é um fracote, você só sabe mimar ele – reclama Destrubião, irmão mais velho de Adergleyson.
– Eu não sei o que fiz de errado na sua criação, desde pequeno você é um menino tão rancoroso, parece até que sente ódio de mim… – comenta tristemente a mãe.
– O que você fez de errado? Pô mãe, você nunca deixou eu participar do clube de motoqueiros funkeiros assassinos, e você sabe muito bem que esse sempre foi o meu sonho. Você só sabe destruir minha liberdade, igual aquela vez que você não deixou eu fazer a excursão naquele necrotério do tráfico humano, e o pior de tudo, é que você não deixou eu participar daquele super desafio da internet, o Baleia Vermelha, que era pra eu ter ganhado, se você tivesse deixado eu rasgar meu pescoço em três partes, porra!
– Só pode ser um castigo eu ter sido escolhida pra ser sua mãe…
Ao ouvir essa frase, Destrubião começa a se descontrolar de tanta raiva. Seu longo pescoço de girafa começa a crescer e a ficar hiper musculoso, com as veias saltadas para fora. Suas unhas crescem em formato de estrelas pontiagudas e explodem seus dedos, que começam a pingar gosma verde por entre os buracos da explosão.
– Eu te odeio mãããããe!!!!!! Eu vou te mataaaar!!!! – grita guturalmente Destrubião.
Todo o pelo de seu corpo amarelo e laranja fica eriçado. Seu ânus se transforma em uma protuberância caída para fora de seu corpo, que tal como uma metralhadora, solta milhares de pedaços de fezes apodrecidas e pinks, lançadas como mísseis em direção à sua mãe.
O pequeno Adergleyson começa a entrar em desespero. As imagens do seu pesadelo da noite passada inundam sua mente. Ele ouve gritos e relinchos vindos de dentro de sua alma. Seus olhos já não enxergam quase nada, apenas luzes psicodélicas dançando furiosamente ao redor de toda essa cena.
O irmão mais velho continua atacando sua mãe com a metralhadora de fezes. A mãe chora pedindo perdão, imitando o som de uma moto enquanto dança funk.
– Filho me perdoe, olhe só pra mim, eu pareço um membro do clube de motoqueiros funkeiros? Vamos juntos, meu filho amado, vamos juntos virar assassinos!
– Agora é tarde demais, sua velha imunda. Você nunca vai ter o meu amor! Mas sim, nós podemos virar assassinos juntos! – retruca Destrubião com um olhar alucinado, gargalhando enlouquecidamente.
– Sim, meu filho, nós podemos ir juntos ao necrotério, e para eu provar de uma vez por todas, todo o meu amor por você, vamos cortar juntos os nossos pescoços, como se a gente estivesse participando do Baleia Vermelha! – sugere a mãe tremendo o corpo inteiro, com os olhos esbugalhados de tanto chorar.
Destrubião fica tão feliz que começa a gritar, urrar e uivar, pegando duas facas e cortando vinte vezes seu próprio pescoço. A mãe corre para perto do filho, a fim de fazer a mesma ação. Porém de tanto desespero Adergleyson começa a chorar pedaços de ossos, que rasgam seus olhos, e mesmo cego o pequeno menino jura que salvará sua mãe.
Ele já não é mais uma girafa. Ele é uma zebra. Ele é um cavalo. E depois é uma zebra novamente. Seu relincho é tão alto quanto as trombetas do apocalipse. Vermes caem de seu corpo junto a uma gosma preta feita de petróleo.
Adergleyson avança como uma manada inteira, estraçalhando seu irmão mais velho. Joaninhas gigantes dançam sensualmente ao redor da cena. A pobre mãe também dança enquanto profere palavras de um antigo ritual maligno asteca. Thor e Zeus estão brigando no céu para ver quem tem o pau maior, então raios mortíferos atravessam a madrugada e ateiam fogo na casa dessa família.
– Profiteroooooleee!!!!!!!! – grita a zebra Adergleyson enquanto ele é possuído por mil espíritos malignos de antigos incas que amaldiçoam sua alma por toda a eternidade.
Tudo explode em urina sulfúrica apodrecida que queima e dissolve todos os habitantes dessa cidade.
*****
Adergleyson é um menino urso com asas de morcego e bico de urubu. Adergleyson está comendo cérebros humanos em um acampamento de crianças escoteiras que estavam se escondendo do Vampiro Yeti na noite anterior. O luar banhado de sangue chora o som das mariposas cintilantes, refletindo todas as cores do arco-íris em chamas.
O enorme Vampiro Abominável das Neves chega uivando e Adergleyson é enterrado vivo por ele. Mas apesar de estar vivo, ele já está esquartejado e devorado por vermes mutantes herbívoros que vivem no gelo da Antártida subsaariana, perto do Trópico de Capricórnio no hemisfério leste do globo ocular do Vampiro que continuará a proteger eternamente as crianças escoteiras – mesmo que elas sintam muito medo dele.
*****
Adergleyson é um recém-nascido fazendo terapia de regressão de vidas passadas perto do corpo de sua mãe morta no parto, enquanto ele recém-nascido toma cachaça ao fazer 60 anos de idade correndo na pista de fórmula 1 mesmo sem os olhos que foram arrancados quando ele ainda tinha 87 anos, e ele era tão jovem quanto sua altura de 2 metros sendo o menino mais baixinho de sua turma de caracóis.
Em sua regressão de vidas passadas ele enxerga uma cachoeira chorando por causa de crianças com catapora, e um urro ensurdecedor de um caçador que explode tudo em meio a elefantes azuis feitos de pum. E na próxima vida ele enxerga sua santa mãe tendo problemas freudianos com seu filho mais velho assassino, e uma zebra salvadora surge para destruir tudo enquanto deuses fúteis discutem sobre seus órgãos genitais e crianças escoteiras sentem medo de um Vampiro das Neves que na verdade só queria protegê-las.
Adergleyson não é mais um recém-nascido, ele ainda é um feto e provoca seu próprio aborto.
*****
Adergleyson está tendo visões do futuro cósmico da humanidade se o curso da vida continuar igual, e ele estava dentro do útero de seu pai que era uma freira aos 26 anos de idade, depois de ter se formado com honras e dívidas na Faculdade de Adultério da turma de 1978 aos 54 anos de idade quando já era a menina-menino mais rica-rico dos esgotos. Era uma vida difícil vivendo na miséria do seu iate de 80 mil dólares que nadava com os tubarões e salvava o mundo da guerra fria lá no reino das formigas amaldiçoadas brilhantes em todas as cores metalizadas que flutuavam igual um cocô dentro da privada, naufragando igual o Titanic ao soar do alarme escolar para as crianças acordarem às 10 horas da madrugada junto com os refugiados da guerra entre as super potências interplanetárias Marte e Júpiter. Todas as almas intergalácticas sofrem com o suco de uva apodrecido dentro da geladeira em Netuno quando o Sol finalmente se transforma em uma super-nova e destrói toda a Via Láctea.
*****
Marisclêida acorda de seu breve cochilo induzido por remédios. Ela está no meio de uma cesariana para seu filho primogênito nascer. Durante esse cochilo, ela tivera sonhos muito estranhos com esse tal de Adergleyson.
Os médicos terminam a cirurgia e começam a ficar muito assustados. O pequeno bebê humano começa a se transformar lentamente: sua pele fica peluda, laranja e rajada tal como um tigre. Seu corpo fica escamoso tal como um dinossauro, e de suas costas saem asas enormes de borboleta.
O bebê cresce instantaneamente e, gritando de dor, quebra seus próprios pés expelindo saliva ácida que deforma os rostos dos médicos e também de sua mãe. Marisclêida grita desesperadamente pedindo socorro para os zumbis do Minecraft, porém morcegos feitos de fetos mortos e de pétalas de rosa fluorescentes começam a invadir a sala de parto e tudo desmorona em fogo que Hefesto lança contra a maternidade para matar todas as suas amantes que iriam pedir pensão alimentícia caso os bebês nascessem.
*****
Marisclêida acorda de seu breve cochilo induzido por remédios. Ela está no meio de uma cesariana para seu filho primogênito nascer. Durante esse cochilo, ela tivera sonhos muito estranhos com esse tal de Adergleyson.
Ela então tem um momento de clareza cósmica e entende que tudo aquilo era um sonho profético sobre suas vidas passadas e futuras de sua família e da humanidade. Ela estava sendo abençoada com a capacidade de encerrar esse ciclo de traumas e agressões.
Então, tomada por um terror puro e ancestral, em um breve segundo de pura lucidez, Marisclêida pega a tesoura médica e perfura seu pescoço, se matando enquanto grita “Adergleeeeeysooon eu te ameeei”.
Sem entender nada, pois tudo estava acontecendo rápido demais, o médico responsável pela cesariana, o doutor Destrubião, entra em desespero e em estado de profunda dor e horror, misturado com medo insano e tristeza destruidora, com seu coração sangrando de melancolia enquanto pequenas fadas em formato de hipopótamos alados sobrevoam a mesa cirúrgica e beijam seus cabelos.
Ao olhar para Marisclêida morta ele é tomado por um impulso ancestral de amor e ódio, e ódio e amor, gerando enorme confusão dentro de seu âmago. Hades compadecido de toda a situação envia para o cérebro de Destrubião uma visão sobre todas as suas vidas passadas e futuras. Assim, com a clareza das visões, estando em estado de profundo trauma, o doutor se arrepende de todos os seus pecados. Ele se transforma em messias da humanidade e rasga o bebê ao meio e se mata logo em seguida, proferindo suas últimas palavras:
– Eu nos liberto a todos nós, minha querida família… e toda a humanidade… (um dilúvio de fogo, gelo, raposas psicodélicas e sons distorcidos de violino cobre toda a superfície do planeta, e todo o pecado é queimado e destruído até não restar mais nada sobre a triste face da Terra).