Deus escreve certo por linhas tortas. E esse ditado, todo mundo já está cansado de ouvir. Por isso, não é novidade alguma. O Todo Poderoso também é um escritor. Mas infelizmente, não faz parte de nenhuma Academia de Letras. Afinal, seria o único de seus Imortais que realmente não morre. E para não ficar ocupando uma cadeira por toda a Eternidade, decidiu humildemente não se candidatar. Aliás, o seu best-seller já tem milhares de anos e... pasmem!, sempre esteve no topo das paradas. Principalmente, depois que o Gutemberg imprimiu e jogou na mão do povão.
Curiosamente, um dos gêneros que Ele mais gosta é o dramático. Quem nunca se inundou de tanta emoção lendo o Dilúvio ou teve a imaginação ardendo de curiosidade debruçado no Apocalipse? Certamente, as muitas gerações do passado. E ainda mais do nosso incerto futuro. Mas Deus, muitas vezes, também capricha é no romance. Inclusive, foi ideia Dele incutir na cabeça do Shakespeare a inspiração para escrever Romeu e Julieta. O casal de pombinhos mais famoso da História. Ajudado por uma imaginação onisciente, onipresente e onipotente, nem se deu ao trabalho de pensar. Tudo já estava escrito. Mas houve um probleminha com o final.
Nos originais, os dois se amariam para sempre. Até por que foi Deus quem escreveu. Mas aí o capeta resolveu passar a borracha. E fazer uma discreta alteração. O Romeu não amou a Julieta para sempre. No final, aconteceu uma confusão dos diabos, literalmente. Ele tomou veneno de rato e ela meteu uma peixeira no peito. Os românticos nunca se conformaram com isso. E até hoje exigem um final feliz.