Entendemos, muito bem, porque é desejável ter amigos. Mas um milhão? Não seria esse número um tanto exagerado?
A resposta é curta: não. Mas por que não? Por que ter um milhão de amigos, e não cinco ou seis como uma pessoa normal?
É preciso, para responder a essas perguntas, entender porque a amizade é tão fundamental não apenas para um indivíduo, como também para toda a humanidade.
Imagine, você, um dos primeiros seres humanos. Antes da tecnologia, antes da palavra escrita, antes mesmo da palavra falada: uma criatura frágil e inofensiva; outros animais são cobertos de pelos para resistir o frio, couro grosso para se proteger de mordidas, pernas e patas fortes para fugir velozmente, garras para caçar. O ser humano primitivo não possuía nada disso: para resistir ao frio não tinha nada, sua pele era facilmente penetrada, seus ossos facilmente destruídos; não era tão lento quanto uma lesma, mas era lento demais para fugir de qualquer coisa.
E então, passamos a andar juntos. Nossa força, que sozinha de nada valia, junta conseguiu mover montanhas. Despistamos predadores e capturamos a nossa presa. À noite, dormimos juntos, pertinhos um do outro. E nem o frio, e nem a solidão, e nem nada mais que fosse, conseguiu nos abater.
Nossa amizade foi tão valiosa que queríamos que ela fosse eterna, e até isso conseguimos: nos tornamos eternos nas plantações que fizemos para garantir que nunca mais precisássemos nos distanciar do lugar que chamávamos de casa, nas grandes construções que erguemos como símbolo de nossa conquista contra o resto da existência. Até mesmo a morte conquistamos; quando de nossa união nasceu uma vida, o mais belo milagre, o rosto de um bebê, um rosto que não é meu e nem seu, mas o nosso.
Aprendemos até mesmo a falar, para expressar melhor os nossos sentimentos; e que beleza construímos com nossas línguas e linguagens! Se já éramos eternos, agora somos ainda mais. A matemática, a linguagem universal: será que ela pode expressar a nossa amizade? É claro, com um simples símbolo, o do infinito.
E isso tudo pelo simples fato de termos sido amigos.
Tivemos nossas brigas, é claro, mas a gente sabe que a amizade de verdade não tem fim: a nossa já durou seiscentos mil anos. Chegamos até a nos separar: ficamos tão cansados da cara um do outro que formamos novas civilizações em novos continentes, novos povos em novas nações, apesar de também termos destruído muitos. Mas no fim, sempre nos perdoamos, sempre voltamos a nos abraçar, a continuar nossa caminhada rumo a eternidade.
Um amigo, conspirando contra o universo e a natureza para que pudéssemos alcançar o inimaginável, já foi bom, imagine um milhão!