O arrancador de corações
Pequena Estrela
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/10/20 11:32
Avaliação: 9.67
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 6
Comentários: 5
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Palavras: 781
Este texto foi escrito para o concurso "Concurso Macabro - Monstro" Te convidamos a olhar debaixo da cama e nos contar qual monstro está escondido aí. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Bem vindos senhoras e senhores, a morada do diabo! *risada malvada intensifies*

brincadeiras a parte, espero que gostem da obra!

Capítulo Único O arrancador de corações

Albert novamente fazia seu ritual padrão, um banho gelado, um café sem açucar e vestindo o mesmo sobretudo de 20 anos atrás, as mesmas luvas que logo seriam incineradas, as olheiras eram visiveis, assim como a escuridão ao seu redor, sempre sozinho, sempre no escuro.

_ Mais um dia 10 de novembro... _ diz ele saindo de seu casebre em meio ao mato, caminha zombeteiro em plena 3 da manhã, em meios as arvores secas, procurando qualquer pessoa, em principio uma mulher.

Assoviava de forma assombrosa a canção, que só ele sabia...

"Pobre homem, doce homem

sem coração, feito de carne e ossos

sem propósito, ele precisa de amor

mas um dia achará

um achará?

até lá, permanecerá vazio"

Achou depois de um tempo no meio da estrada, sua primeira vitima, moça alta, não tão bela, parecia pensativa, tão zombeteira quanto ele, cabelos compridos no rosto, um vestido branco e curto, maquiagem pesada, saltos.

Um banquete grande.

Ele se aproxima sorrateiro, não havia ninguém ali, e Albert sabia disso, então fica frente a frente com a tal dama, que distraida o olhava.

_ O senhor precisa de ajuda? _ diz a voz meio embargada, meio risonha.

Pobre coitada, estava bebáda, coração adormecido pela bebida era mais facil...que sorte.

_ Não querida, mas você parece precisar da minha ajuda, céus, seus olhos estão vermelhos, andou chorando?

_ Ah, bem, talvez, desculpa só quero voltar para casa.

_ Claro, claro _ a voz dele soava melodiosa _ Quer que eu te acompanhe? Parece perigoso uma mocinha tão doce andar sozinha, existem pessoas más por ai.

Ela não poderia recusar, ele tinha boa aparencia apesar do tempo ter corroido tudo de bom em sua alma, mas ainda, superficialmente ele parecia perfeito, parecia confiável, também não tinha como pensar, estava tão cansada...

_ Tudo bem... _ ela diz com um sorriso e passa então a caminhar com ele, mal sabia que era em rumo a morte.

_ Qual seu nome, moça?

_ Angel

_ Um nome bonito

_ E o seu?

_ Hm, me chamo John.

Albert não foi criativo com um nome novo, ele admitia, mas já usou tantos...

Enquanto caminhavam, Angel dizia o que a fazia triste, terminou com o noivo, perdeu o emprego, a melhor amiga era uma vadia, tudo tão vão e patético, um coração tão pobre e carente de atenção, eram os melhores, Albert tentava não sorrir com a narrativa triste da pobre donzela, mas era inevitável, disfarçava com palavras amigáveis de superação, conseguia mante-la entretida, ela não notou, mas já tinha passado longe do caminho de casa, indo parar em um cemitério belo e barroco, pobremente abandonado.

Horas se passaram em meio a conversa sobre sentimentos, e ela enfim se deu conta.

_ Onde estamos? Não me lembro desse lugar

_ Isso não importa mais...

Um movimento rapido, uma imobilização meticulosa, um pescoço quebrado em segundos, um corpo morto.

um rosto palido e manchado das lagrimas que sequer conseguiram cair a tempo.

Ajoelhou ate o corpo, acariciou os cabelos dela como se fossem de uma amada distante, deu um sorriso vazio.

_ Meu nome é Albert, uma pena que você nunca saberá, pelo menos tive uma boa ouvinte para falar sobre o que sentia, acho que pela primeira vez

Pegou a faga em seu sobretudo, e rasgou a frente daquele belo vestido branco, uma pena, parecia ser caro, abriu a caixa toraxica de forma suja, não poupou apunhaladas, nem rasgos, sujou o belo corpo e o belo jardim abandonado, enquanto os santos barrocos observavam com olhares tristes, por fim, quebrou as costelas de forma rude, espalhando os ossos de forma aleatoria e arrancou com suas próprias mãos, o coração puro e triste de Angel.

_ Nunca mais sofrerá por amor ou pela sociedade injusta e falsa, meu amor _ segurava o coração que já não pulsava, e por fim fechou os olhos da vitima, tomando cuidado para não mancha-lo de sangue. _ Agora, não sofrerá com mais nada.

não poderia borrar a maquiagem de uma linda mulher, poderia?

saiu dali, sorrateiro, fez o sinal da cruz quando viu a igreja ao longe, caminhou em direção ao vazio.

_ Enquanto tenho um coração... preciso arrancar os dos outros _ sussurrou pensativo _ Uma pena que ninguém fará o mesmo favor por mim, me manterão sentimental, sofrendo neste mundo podre, mas poupo o sofrimento do próximo, como um novo santo, santo Albert... _ riu ele _ nome patético...

Logo amanheceria, ele teria que fingir ser o pobre Albert novamente, o abandonado pela esposa, o traído pelos amigos, o amaldiçoado pelo patrão, o que dava medo em crianças com seu olhar sério, o que sorria de forma vazia e esparsa para o vizinho...E o que teria que fingir choque, ao notar no noticiário, o pobre assassinato cruel naquela noite.

Até lá, ele seria ele mesmo.

O arrancador de corações.

❖❖❖
Notas de Rodapé

EEEEEEEEEI

Terminei, e sinceramente, foi um prazer escrever esse genero mais pesado, foi quase uma loucura!!!

cuidado com Albert crianças, não andem sozinhas...

beijão da estrela.

Apreciadores (6)
Comentários (5)
Postado 05/10/20 15:00

SANTÍSSIMO, QUE OBRA PRIMA * - *

Tudo estava caminhando para ser uma história de um assassino louco por sangue, sádico, que gostava do sofrimento alheio...

Mas não, é justamente o contrário, Albert é um lunático sentimental que pensa estar ajudando os outros a se livrarem dos pesos de suas tristezas....

Isso foi tão interessante, eu adorei essa motivação tão peculiar dele!!

Adorei também poder ver um texto de terror tão pesado escrito pela senhorita!! Você é uma escritora muito talentosa, e consegue se dar bem em todos os gêneros que se propõe a escrever!!

Parabéns, querida Estrela <3

Um grande abraço para você <3

Postado 05/10/20 20:20

Aaaaaa Meiling! Você não sabe o quão estou feliz em vê-la aqui!

Seus comentários sempre tão precisos e gentis, você sempre consegue capturar a obra em sua essência.

Albert é um pobre louco, mas acho que no fundo todos somos loucos, só não arrancamos corações kk

Mas fico feliz que tenha gostado minha flor de lótus.

Beijão da estrela pra você ❣️❣️❣️❣️❣️❤️❤️❤️❤️❤️

Postado 06/10/20 22:05

Se eu não conseguir dormir, a culpa é sua rs

Mas falando sério agora, eu achei muito muito muito legal que você ao longo do texto fez as correlações simbólicas. O nome Angel com vestes brancas e sofrimento, o Santo humano Albert e seu propósito para com a humanidade e os santinhos barrocos observando tudo.

É como se estivesse lendo uma nova versão do Barroco, mas trêz vezes mais macabro e realístico. E você até se sente tentado a ter uma certa simpatia por Albert, afinal, ele só queria acabar com o sofrimento alheio.

Espero que tenha mais do que sorte neste concurso e venho aqui também deixar meu abraço quentinho a sua pessoa <3

Postado 07/10/20 08:00

Aaaa, seus comentários são como um abraço gostoso logo pela manhã!

Você sempre consegue observar algo novo em minha obra, coisas que nem eu mesmo notei e fiz acidentalmente! Tinha que ser Malva, princesinha das letras.

E obrigada por ter apreciado, abração! ❤️

Postado 08/11/20 01:48

O tema abordado aqui foi muito macabro. E nos faz questionar quantos Albert já não passaram em nossa vida, direta ou indiretamente, e quantas vezes não fomos a Angel correndo o mesmo perigo, mas sendo salvas por quaisquer motivos ou situações alheias. Albert é a figura fiel de um homem depressivo, que na visão de sociedade é deprimente devido aos traumas existentes pelo abandono, enquanto utiliza deste fato como uma máscara para cometer crimes e sair ileso e sem suspeitas.

Até porque, quem desconfiaria de alguém tão inofensivo e depressivo? Um disfarce perfeito para quaisquer crimes e assassinatos. Um monstro oculto em um personagem que indiretamente é defendido.

A motivação do Albert chega em determinado momento a ser nobre, afinal, em seu pensamento ele está finalizando uma dor e impedindo que o coração da vítima seja novamente quebrado, o que é irônico, não? Ele literalmente foi arrancado. Será que existirá outro Albert com o mesmo objetivo? Quantas vítimas mais serão necessárias para que Albert tenha, enfim, sua tão desejada remoção do coração?

Parabéns pela obra e muito obrigada pela participação ♡

Postado 17/11/20 11:27

Seus comentários como sempre, impecáveis, eu adorei ter participado e agradeço deveras pela oportunidade, foi alucinante adorável, fico feliz demais de ter feito parte disso.

Obrigada e abraços.

Postado 08/11/20 01:56

Enquanto lia, pensei naquele ditado “lobo em pele de cordeiro”. Quantos e quantos lobos, como o Albert, não existem por aí? Com suas verdades, suas máscaras e a falsa moral. Albert realmente é a personificação de um monstro.

Quem sabe, algum dia, ele encontre um lobo mais perigoso que ele, que não faz o sinal da cruz ao passar por uma igreja e que não se importa em fingir ser o que não é. É uma possibilidade, no final das contas.

Parabéns!

Postado 17/11/20 11:28

Vlw Blod, fico mega feliz que tenha apreciado, eu adorei ter escrito e pensei todas as coisas que pensou enquanto escrevia, quem sabe Albert não encontre um rival tão insano quanto ele não é?

enfim adorei seu comentário, abração da estrela <3

Postado 06/01/21 15:55

Que loucura! Quase nem pisquei durante a leitura. O assassinato brutal e a narrativa quebram o pescoço do leitor sem perdão! Impossível não sentir o impacto da leitura.

Obrigada por compartilhar conosco!

​Parabéns, Estrela ♥