Uma lasca de pele seca,
um filete de unha tingida de sangue,
meus dentes já se desgastaram tanto,
nem consigo mais alcançá-las...
costuradas na pele, rentes às cutículas...
Mas faço o possível, não me esqueço
destas minhas amigas,
enchem-me o estômago
sensação pontiaguda,
estão entre os dentes,
inflamando as gengivas,
estão digitando agora,
este poema que lúcidamente escrevo.
Recordo-me da exata primeira vez que as toquei
com os dentes,
era apenas uma criança,
alguém me desferiu um tapa na mão
tire a mão da boca, menina!
Então, nunca mais pude parar.
Ansiedade... Dedos rasgados.
Medo... Dedos em chamas.
Depressão... Sangue escorrendo.
Tédio... Unhas na garganta.
As unhas dos pés, eu arranco, torço,
e ateio fogo, escondo-as em lugares hospitaleiros,
elas pregam peças em nádegas que ousam sentar-se no sofá...
As unhas dos pés, são mais cruelmente atacadas, sem dó,
com tanta força trucidadas, que é quase impossível andar.
Devoro e destruo esta parte específica de meu corpo,
espero que algum germe me liberte desta vida,
devoro estas células e atómos.
devoro em meus dedos,
o que a vida não me leva à boca.