Feliz Aniversário
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 13/08/20 23:38
Editado: 27/08/20 23:23
Gênero(s): Comédia Drama Reflexivo
Avaliação: 9.93
Tempo de Leitura: 4min a 5min
Apreciadores: 8
Comentários: 7
Total de Visualizações: 975
Usuários que Visualizaram: 14
Palavras: 693
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

“No matter what gets in my way

As long as there's still life in me

No matter what, remember you know

I'll always come for you

I'd crawl across this world for you

Do anything you want me to

No matter what, remember you know

I'll always come for you

(I'd Come For You - Nickelback)

Capítulo Único Feliz Aniversário

Cordélia olhava ao redor buscando encontrar um corpo composto de alma, apesar da aglomeração humana em sua casa. Seus olhos azuis e asiaticamente puxados, constataram que existiam dois grandes grupos naquele lugar: o primeiro era composto pelos forçados a estarem lá, contemplado pela maioria dos netos tecnológicos que interagiam mais com o celular do que com aqueles ao redor; o segundo, formado pelos filhos e agregados, possuíam os cumpridores de obrigação, que estavam lá somente para mostrar à sociedade que eram bons.

Todos que desejavam feliz aniversário, ouviam-na murmurar um ríspido:

— De feliz não há nada.

A senhora que estava completando noventa anos naquela pacata tarde de sexta-feira 13, se sentia furiosa e azarada, para não dizer angustiada. Furiosa, pois não pediu a presença de ninguém que não queria estar ali. Azarada, porque era sexta 13 e nada de bom acontece em um dia assim, mas ainda não havia vindo o sinal de azar. Angustiada, porque a única pessoa que ela queria ver não estava lá. Tratava-se de sua neta, Cordélia Anne, batizada em sua homenagem e filha de seu falecido filho mais novo. A jovem de 28 anos havia ido para o Canadá concluir o seu doutorado em psicologia, o que enchia a avó coruja de orgulho, mas, ao mesmo tempo, de saudade. Se ela estivesse presente, a atmosfera seria outra; provavelmente ácida. A senhora soltou uma baixa risada, lembrando-se que no último aniversário em que a neta esteve presente, ela disse que a tia, Victória, era uma grande rabugenta.

Cordélia realmente amava a todos os presentes, apesar de suas irritantes falhas, mas possuía um carinho, uma conexão — ou seja lá como denominam isso — com a sua homônima não presente. Não era algo que podia ser denominado como amor somente, pois em seu coração era um sentimento que ardia, iluminava e transformava. Quando ela segurou a neta nos braços pela primeira vez e a pequenina de olhos azuis encarou-a como se soubesse exatamente o que estava acontecendo e, possivelmente, sobre álgebra avançada, algo mudou no coração da mulher amarga que Cordélia havia se tornado por conta da morte marido. Nem mesmo com o falecido digníssimo tivera um amor à primeira vista, mas com aquela garotinha de 1 mês, de alguma maneira, havia acontecido. Após segurar nos braços todos os 10 netos, aquela parecia a primeira vez que ela sentiu uma conexão de alma; ela sentiu um amor tão grande em seu coração que não se fez necessária a presença de palavras.

A hora de cantar parabéns havia chegado, quebrando os devaneios de Cordélia. Todos estavam mais à vontade, pois sabiam que iam poder ir embora em breve com a barriga cheia de bolo de… morango? Com trinta demônios, quem havia trazido aquele bolo maldito? Aquilo era a gota d’água, o sinal de azar da sexta 13, contudo, antes que ela pudesse protestar a respeito, uma voz disse no meio da multidão familiar:

— Eu dou trinta segundos para que a pessoa que trouxe o bolo de morango se retire da casa. Vocês sabem que a vovó é alérgica a morango! Mas é claro que eu sabia disso, por isso trouxe um enorme bolo de creme para a nossa velha favorita!

Todos os familiares gritaram em uníssono “surpresa”, enquanto fitas coloridas voavam para todos os lados. Cordélia Anne ia na direção da aniversariante com um gigante bolo de creme que continha noventa velas. A senhora, que fora enganada o tempo inteiro por caras feias e pensamentos de saudade, acabara de ser surpreendida por toda a família. Por isso, foi impossível conter as lágrimas.

— Você não é de chorar. — Disse a neta se aproximando, após deixar o bolo na mesa, e abraçando a avó.

— Não estou chorando. Foi o Ted que jogou fita no meu olho. — Respondeu a senhora, retribuindo o abraço.

— Vó, o Ted é um cachorro!

— Ele é muito sagaz.

As duas permaneceram abraçadas por mais alguns segundos, mas antes de se separarem para que a neta contasse à avó cada minúcia de seu ultra plano familiar, a senhora disse chorosamente:

— Pensei que você não viria…

Soltando a avó e encarando-a com muito afeto, sua homônima respondeu:

— Eu sempre vou vir por você.

❖❖❖
Apreciadores (8)
Comentários (7)
Comentário Favorito
Postado 16/08/20 22:46

Eu tô impressionada em como um texto pode causar um misto de sentimentos discernidos. Comecei lendo rindo, por causa da avó rabugenta e diferente - normalmente é o clichê da vovozona alegre e de bem com a vida, então amei esse primeiro diferencial - e depois comecei a sorrir e chorar com o final. Ah, Ternura, porque deixas a Tristeza fazer isso conosco? Hahahaha.

Ao mesmo tempo que eu lia cada linha, ficava tentando encontrar a conexão com a música, e quem diria que eu iria encontrar uma conexão de alma tão bem explicada e detalhada? Ainda tô chorando, só para reforçar.

Não é questão de amar ou de preferir alguém, normalmente ama-se em igualidade. Mas sempre haverá alguém que é a nossa conexão, não há como contestar. Apesar de ansiar, não esperava que Cordélia Anne fosse aparecer. Eu não esperava por esse final.

Foi tocante e extremamente emocionante. No decorrer da leitura eu lembrei da minha avó, e foi um misto de saudade com aperto no peito, e só de presenciar o reencontro das Cordélias já fez a minha noite valer à pena.

You know I'd always come for you ♡

Parabéns pela excelentíssima obra ♡

Postado 18/08/20 18:49

Ah, Pão, fico muito feliz que você tenha gostado tanto do texto. Meu coração tá super quentinho com esse comentário maravilhoso!

Obrigada demais, mil vezes ♥♥♥♥

Postado 14/08/20 13:18

Eu estou em prantos. Como comentar em um texto tão maravilhoso como esse? Mocinha Ternura, a senhorita faz jus ao seu nome!! Essa história linda me enterneceu de tal modo que não consigo explicar!!

Minha bisavó faleceu no final do ano passado, com 90 e poucos anos, e tudo aqui me lembrou muito dela. Deve ser horrível o sentimento de ter dentro da sua casa pessoas que estão ali só por obrigação. Pessoas com cara de bosta que preferiam estar no shopping ao invés de estar ali fazendo companhia.

Mas não sei, talvez tenha algo pior. Duas netas dela que, mesmo morando a MEIO QUARTEIRÃO DE DISTÂNCIA, não viram sua avó por uns 7 ANOS, e uma delas nem sequer apareceu no velório! A outra apareceu logo de manhãzinha para não vista por quase ninguém. Nojo define.

Apesar que eu compreendo, afinal, se não foi ver a avó viva para dar um pouco de felicidade, não precisa nem aparecer no velório, pois não faz falta nenhuma.

Seu texto me emocionou muito mesmo. Você usou as melhores palavras para descrever toda a situação! E eu não pude me conter de felicidade quando Cordélia Anne entrou com o bolo de creme!! Isso foi tão lindo!! Sublime mesmo!!

Muito obrigada por compartilhar essa obra maravilhosa conosco <3

Um enorme e muito carinhoso abraço para a senhorita <3

P.S. Eu amo Nickelback, tem cada música perfeita!!!

Postado 15/08/20 01:24

Sinto muito pela sua avó, Mei, e por toda a situação que você contou. Ninguém merece passar por isso. É cruel e desumano... :c Tenho certeza que a sua avó está em um lugar muito melhor.

Obrigada mesmo pelo comentário e fico muito feliz que tenha gostado do texto. Sua presença é sempre adorável ♥

Postado 14/08/20 20:00

Vc retratou muito bem essa situação tão triste que a maioria das pessoas idosas vive, e isso é triste demais, pq quando se é jovem todo mundo gosta de vc, daí basta ficar velho pra ser descartado, mas pelo menos no seu texto ainda tem alguém que ama a velha, e isso foi bonito demais de ver a emoção dela no final, parabéns, ficou incrível *_*

Postado 15/08/20 01:26

Realmente, Vilminha. É muito triste ver essa situação. Pessoas não deveriam ser descartáveis, principalmente nossos idosos, que merecem todo o nosso cuidado e carinho.

Muito obrigada pelo comentário e presença ♥

Postado 27/08/20 22:45

Aaahhh! Eu quero chorar! (。ŏ﹏ŏ)

Historias com animais ou velhinhos são os que mais tocam meu coraçãozinho!

Seu textos me lembro uma propaganda e alguma marca (que não ei de lembrar hahaaha), onde um velhinho faz convites para todos os filhos ocupados para que eles venham passar o natal com ele, parece que eles não iriam vir mais aí todos aparecem... Eu chorei e choro toda vez que vejo essa propaganda! •́ ‿ ,•̀

Adorei todo o seu texto e a forma como construiu a conexão entre as duas personagem e toda a família, afinal sua alma gemia não precisa ser seu amante. Wow

Muito obrigado por compartilhar sua obra e emocionar-me tanto.

Assinado alguém que amo bolo de chocolate (tipo floresta negra), <3

Postado 27/08/20 23:18

Sei de qual propaganda você se refere. Ela dá mesmo vontade de chorar T-T

E, sim, o intuito do texto era abordar as mais variadas formas de amor e como almas gêmeas estão além daquela constituição do amor romântico.

Muito obrigada pelo comentário e presença, Shizu ♥

Postado 28/08/20 20:29

AI MEO DEOS!!!!ONZE!!!!!11

Essa surpresa definitivamente foi a melhor de todas. Mas, fazer aniversário em uma sexta 13 deve ser muito da hora. Já pensou, decorar a casa com escadas e almofadas pretas em formato de gato? Ia ser um show. Certeza que até a Dona Cordélia ia gostar.

E, que cachorrinho esperto. Mais esperto até que os ninjas cortadores de cebola. Que coisa, viu?

O final me deixou muito feliz. Não esperava por algo assim, mas fiquei feliz de verdade.

Parabéns!

Postado 28/08/20 20:32

Eu também acho que ela ia gostar! kkkkkk Cachorros são espertos demais, né?! Às vezes a gente não pode duvidar das habilidades deles kkkkk

Fico feliz que tenha gostado!

Obrigada pelo comentário e presença, Flavinha ♥

Postado 19/11/20 22:26

"ô, modeuso". Foi literalmente o que pensei lendo esse texto, acho que não tem expressão melhor para definir a sensação gostosa que me causou. Você sempre surpreende, sabia? Sua escrita se adapta muito bem aquilo que você quer causar, é um dom muito bonito e raro. Parabéns pela obra♥

Postado 31/12/20 17:11

Esse comentário aqueceu meu coração!

Obrigada pela presença e comentário, Minerva ♥

Postado 27/10/21 17:24

Esse texto é como um carinho na alma... Divertido e dramático na mesma proporção.

Parabéns, meu amor :)

Postado 30/10/21 23:17

Obrigada pela presença e comentário, meu bem ♥