As conversas me sufocam
Fazem meu pulmão ter desejo
De saltar para fora;
As conversas me afogam
Enquanto esses trezentos pares de olhos,
Apenas me ignoram,
Enquanto eu dou vida,
Ao meu plano melódicamente fatal.
Minha mente arde e roda e,
Com uma entorpecência atroz,
Me amofina dentro das memórias;
Minhas sobrancelhas pesam
Acompanhando meus lábios que em silêncio,
Choram.
As palavras e os pensamentos
Cortam minha pele pouco a pouco
Retalham-na com arranhões
Até que estes, valas escarlates se tornem;
Estou condecorada,
Perfeitamente acabada,
Esta gloriosa desalmada,
Perversamente caiu em sua própria cilada.
O pássaro negro de asas prateadas
De minha alma foi arrancado,
Ainda ouço o piar baixo e rouco,
Acho que ele foi é esmagado,
Por meu próprio coração mesquinho
Que já não sabe bombear carinho,
Desta forma, eu sei,
Em minhas veias corre apenas ansiedade,
Minha alma nasceu sem ninho.
Embrulhada para presente,
Meus olhos são uma ampulheta
Colada por ambas as extremidades,
Espremida por duas muralhas,
Apesar de não ter opção de perspectiva,
Não enxergo apenas minha metade pois,
Tenho minha voz que é um ponte,
Sim... Rachada e esquecida,
Eu a vejo apodrecida,
Mas os que se aventuram,
Ousam achá-la bonita;
É minha forma de reinar.
Eu sou um retalho
Preso num galho
E eu sempre falho
Ao tentar escapar,
O vento não me abeçoa,
Nem Deus me perdoa;
Com minha pele repartida,
Com a voz ferida,
E o pássaro roubado,
Já dei-me por conta:
Me encontro temporariamente incapaz de voar.
Sinceramente,
Uma escritora
coberta por uma fina
camada de fumaça nicotinada,
que os observa vidradamente inspirada,
do canto mais opaco, ignorado e temido que há.