Uma Noite de Histórias
BiancaLuna
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/10/16 21:58
Editado: 05/10/16 22:02
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 12min a 16min
Apreciadores: 5
Comentários: 2
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Palavras: 1995
Este texto foi escrito para o concurso "Concurso de Halloween" No Concurso Oficial de Halloween da Academia de Contos, apoiado pela DarkSide Books, convidamos os participantes a escreverem textos no estilo "creepypasta", ou seja, obras detalhadas de terror escritas com o objetivo de assustar os leitores e deixá-los se perguntando o que é real e o que é ficção na história. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único Uma Noite de Histórias

A noite foi tecendo seu manto lentamente, jogando suas sombras por cima do céu laranja róseo do crepúsculo. Uma atmosfera peculiar também começava a se formar e quase era possível sentir aquela energia flutuar, era quase tangível.

A medida que o céu escurecia uma majestosa lua cheia, no seu mais belo tom laranja, subia por entre as nuvens cinzentas, ora sendo encoberta e ora se mostrando novamente. E para acompanhar tal cenário, uma brisa soprava levando consigo algumas folhas secas, fazendo os galhos se encontrarem e deles uma melodia soar.

Todos os anos, no mesmo dia, era possível presenciar essa atmosfera tão estranha e mágica e sentir o caminhar dos seres de outro mundo.

E como tradição, todas as casas eram enfeitadas com abóboras encenando caretas, vezes felizes ou então assustadoras. Em algumas casas essa época do ano era celebrada como um novo começo, em outras era somente uma questão de tradição não pensada e para uma minoria a data era vista como o dia em que os seres da noite andavam livremente por este mundo, capazes de sugarem a vida de quem quer que fosse.

Para essa minoria, os tempos antigos ainda espreitavam os arredores e os assombrava. E para o restante o tempo passou rápido de mais, fazendo com que deixassem as velhas histórias para trás, tornando-as contos de terror, fábulas ou meras lendas.

-Não devíamos passar por aqui!- A voz de Karen era baixa, como se temesse importunar alguém.

-Porque não?- Lydia retrucou.

-Você sabe porque!- Foi a resposta impertinente de Karen. -Você sabe que dia é hoje e o que acontece durante a noite…-

-São apenas histórias Karen, apenas histórias.- Lydia falou com desdém.

Elas estavam passando em frente ao cemitério da cidade, com seus grandes portões de ferro escuro, imponentes e altos. Aquele era o trajeto mais rápido para voltarem às suas casas e quase ninguém se arriscava passar por ali durante a noite – não por temerem algo sobrenatural, mas sim porque temiam ser vítimas de algo mais carnal.

Ou, pelo menos, era a desculpa davam, alegando que durante a noite poderiam haver pessoas mal intencionadas por ali.

-Você dá ouvidos demais às histórias que sua avó conta.- Lydia falava enquanto encarva o terreno por trás dos portões.

-Mas e se o que ela viu for verdade?!-

-O lobisomem?! Por favor Karen, são apenas histórias.- Lydia falava com a amiga, porém ainda matinha seu olhar para dentro do cemitério.

-Okay, mas…-

-Você já viu alguma coisa?- Lydia se voltou para Karen, parando sua caminhada e encarando a garota profundamente.

-Não…- Foi sua resposta imediata, mas num tom baixo.

-Então! Eu nunca vi nada também!-

-E quanto a história da Ellen, no ano passado?- Karen levantou os olhos e fitou a amiga, num ar quase inquisitório.

-Você sabe que ela gosta de aparecer e faz de tudo para ter a atenção de todos.-

-Porque você sempre tem uma resposta para tudo?!- Karen elevou a voz, irritada com a teimosia da amiga.

-Tudo bem, tudo bem… eu apenas estou tentando tranquilizar você, não precisa ficar irritada.- Lydia disse a primeira coisa que lhe veio a mente, já que a atitude da garota a tinha surpreendido. -Vamos embora!-

As duas voltaram a caminhar, em silêncio, nenhuma querendo invadir o espaço da outra naquele momento. Lydia não poderia ficar com raiva dela, pois sabia que a avó de Karen realmente enchia sua cabeça com muitas histórias sobre o que acontecia no Halloween. Ela também não conseguia acreditar em nenhuma palavra da história da Ellen, sabendo que metade do que a garota falava era apenas para chamar a atenção dos outros.

No entanto, uma estranha inquietação se formou em seu coração. Ela não sabia se era porque estavam passando pelo cemitério ou se era a atmosfera que pairava naquela noite. Lydia não tinha palavras para descrever o que sentia, ela tentou jogar tal sentimento para longe e decidiu pensar no que faria quando chegasse em casa.

Escrever! Sim, vou escrever algo sobre o Halloween e o que acontece por aqui… ou o que dizem que acontece... O pensamento a deixou mais feliz, quase a fazendo esquecer que ainda estavam próximas do cemitério.

O restante da caminhada continuou silenciosa, cada uma em seu próprio mundo, com seus próprios pensamentos e dilemas. Karen apenas desejava chegar em casa, tomar um banho e ir para cama, torcendo para que a noite logo passasse e o sol voltasse a reinar. Lydia pensava muitas coisas ao mesmo tempo, não fixando nenhum pensamento, exceto sobre a história que escreveria.

Talvez eu possa escrever algo sobre vampiros também... Aquelas eram suas criaturas sobrenaturais favoritas e quando era mais nova ela realmente desejou que vampiros existissem, não apenas vampiros, mas lobisomens também.

Em alguns momentos Lydia sentia uma estranha nostalgia do medo que tinha dessas criaturas. Ao mesmo tempo em que desejava que existissem. Um mero ruído a noite era capaz de fazê-la ficar debaixo das cobertas, imaginando se poderia ser um vampiro ou lobisomem. Era algo bobo, de criança, porém que a fazia se sentir estranhamente bem quando se lembrava.

-Lydia?-

-O quê?- Ela pediu, voltando sua atenção para amiga.

-Eu ouvi alguém atrás de nós…- Karen disse quase num sussurro, se aproximando mais da outra.

No mesmo instante Lydia se voltou para trás, porém nada viu, nem mesmo um carro ou uma folha. Ela olhou para Karen de maneira interrogativa, chacoalhou os ombros e voltou a andar.

-Estamos quase chegando, faltam apenas duas casas para a sua.- Lydia disse apontando para a casa da amiga.

Enquanto elas seguiam pela rua, era possível ver que todas as casas tinham alguma decoração, algumas mais modestas e outras mais extravagantes. Porém todas apresentavam abóboras em suas varandas e quintais, com as mais variadas caretas.

Depois de deixar a amiga em casa e em segurança, Lydia colocou os fones de ouvido e continuou caminhando, seguindo para sua própria casa e de volta ao seu próprio mundo.

Enquanto caminhava e ouvia música, Lydia ficou observando o lugar a sua volta, olhando cada detalhe daquela composição, observando o tom de cada cor e como se mostravam na sua combinação. Eram tons de marrom e verde-escuro, em contraste com o laranja das abóboras ou da luz dos postes. No céu, a lua já estava mais clara, porém ainda era ornada pelas nuvens cinzentas, sua luz criava um halo colorido a sua volta e o céu era de um azul profundo.

E a brisa era a encarregada pelo farfalhar das folhas e galhos, compondo uma melodia típica daquela época do ano.

Lydia sorriu, tendo em mente cada detalhe para depois reproduzir na sua história. Talvez fosse um romance ou apenas um conto de terror, ela ainda não tinha certeza.

E em meio aos seus devaneios e através da música que escutava, um uivo sinistro ecoou ao longe. Ela logo retirou os fones e ficou olhando o nada, como que procurando de onde tinha vindo aquele som, mas parecia ter vindo de todos os lugares. Não havia ninguém na rua e só então Lydia reparou em tal detalhe.

Mesmo que fosse noite de Halloween, as crianças ainda saiam para pegar doces, adolescente saiam para pregar peças nas pessoas e os adultos iam festejar a sua maneira.

Ela olhou para as casas, poucas tinham luzes acessas, enquanto as outras estavam mergulhadas na penumbra total.

-Apenas continue andando!- Disse para si mesma, retomando sua caminhada.

Sua casa estava mais a frente, apenas poucas casas de distância e ainda assim, Lydia sentiu seu coração acelerar e de repente a noite ganhou aquela atmosfera nostálgica de sua infância e a realidade se fundiu à sensação de estar sonhando.

-São apenas coisas da minha cabeça!- Voltou a falar consigo mesma.

De repente ela sentiu seu coração quase rasgar seu peito, de tão rápido que bateu.

Um grupo de pessoas surgiu de detrás de uma casa e começou a gritar e gargalhar, passaram por ela e gritaram ainda mais, um deles tinha um celular na mão e dele vinha o mesmo uivo sinistro de antes.

-Ficou com medo Lydia?- Alguém falou, rindo alto.

Foi quando reconheceu o rosto na sua frente e também a voz, que ela percebeu que eram seus colegas pregando uma peça. Logo em seguida alguém de dentro da casa saiu gritando e esbravejando para eles. O grupo deixou Lydia para trás, ainda gargalhando alto e falando frases incoerentes.

Lydia suspirou e respirou fundo, sentindo seu coração voltar a bater no ritmo de sempre, ela apertou as alças da mochila e voltou a andar, faltando apenas três casas para chegar até a sua.

3 Dias Depois

Os policiais locais não conseguem achar uma explicação coerente para o que tenha acontecido a jovem. As buscas continuam…”

Os dedos enrugados tamborilavam, impacientes, sobre a bancada da cozinha, enquanto seus olhos fitavam a mulher bem-vestida do noticiário local.

Na sala, policiais falavam com Karen, interrogavam-na com inúmeras perguntas e das mais variadas, diziam ser parte da investigação, mas ela sabia que nenhuma delas iria realmente ajudar na busca por Lydia. No seu íntimo, Karen sabia que a amiga não tinha apenas desaparecido da noite pro dia.

-Eu já disse tudo que sei…- Ela respondeu, mas antes de continuar a frequência do rádio do policial se fez presente e uma voz feminina pôde ser ouvida.

-Prossiga base!- O policial respondeu de imediato.

-Temos um corpo no rio…- A mulher explicou a situação e deu detalhes do corpo. E a cada palavra dela, Karen sentia seu coração afundar, pois a mulher havia descrito Lydia perfeitamente.

Movida pelo instinto, Karen deixou os policiais em sua sala e saiu de casa, não dando atenção aos gritos deles e à sua avó.

Ela dirigiu até uma trilha próxima ao rio e desta vez não se importou se algo poderia acontecer ou no fato do cemitério estar apenas do outro lado da estrada.

Seus passos eram apressados, deixando um rasto de estalos das folhas amassadas para trás. Karen abriu caminho com as mãos, empurrando para longe qualquer galho que estivesse na sua frente e logo pode ouviu o barulho da água correndo.

E antes de estar realmente preparada para o que estaria prestes a ver, ela se deparou com o rio. Olhou para os lados e avistou dois policiais próximos a margem observando algo e falando em seus rádios.

-Ei, você não pode se aproximar garota!- Alertou um dos policiais quando ela correu na direção deles.

-Me deixe ver!- Karen os empurrou e se aproximou da margem.

E ali, boiando com uma graça mórbida, estava o corpo inerte de Lydia. Seu corpo estava coberto por um vestido branco de tecido leve, acentuando sua pele pálida e seus cabelos escuros, que fluíam junto a água.

Seu rosto era ilegível, com seus olhos fechados, lábios entreabertos e semblante lívido, ninguém poderia dizer quais foram seus últimos pensamentos ou sentimentos.

No entanto, dois pontos peculiares e próximos ao seu seio esquerdo chamou a atenção de Karen. Eram dois pequenos furos, arroxeados em volta e com um líquido escuro, já seco, que parecia ter escorrido deles.

-Oh não!- Foi a única coisa que Karen conseguiu proferir antes de cair de joelhos e entender o que tinha acontecido com a amiga.

Logo mais policiais chegaram e a tiraram dali. Porém aquela imagem era algo que ninguém poderia tirar da mente de Karen, ficaria para sempre marcada na sua memória, mas tão pior quanto, era a conclusão do que tinha acontecido a Lydia.

-Tenha cuidado na noite do Halloween, onde criaturas espreitam a noite, pois o véu que separa nossos mundos fica mais fino e elas podem andar livremente entre nós.- Lydia fechou o livro com um sonoro baque e sua plateia permaneceu calada, num silêncio mórbido, enquanto a encaravam.

De repente ela sorriu e palmas explodiram de todos ali, elogios foram gritados e assovios foram soprados. Lydia agradeceu, tentando afastar a lembrança de alguns anos atrás, bem como a fisgada próximo ao seu seio esquerdo, que sempre se fazia presente quando ela se lembrava daquela noite.

FIM

❖❖❖
Apreciadores (5)
Comentários (2)
Postado 08/10/16 18:05

Oiii!

Em primeiro lugar, boa sorte no concurso! :D Em segundo, gostei da história, apesar do final ter ficado meio confuso. Até pode ter sido a tua intenção, não sei. o_o Mas a Lydia afinal morreu ou não? A parte que ela aparece morta é do livro dela? o_o Isso ficou meio incerto de saber... De qualquer forma eu gostei! o/~

Inteh!

Postado 13/10/16 22:18

Oii.

Muito obrigada! E fico feliz que tenha gostado.

Sim, a intensão foi deixar esse "ar" mesclando a história que contei, com a história que a Lydia estava contando... então você pode assumir que aconteceu realmente, mas que ela está contando uma versão diferente.

Inteh!!

Postado 15/10/16 21:00 Editado 15/10/16 21:01

Muito bom! A imersão é excelente e tem ótimas reviravoltas. Parabéns.

Postado 21/10/16 23:05

Muito obrigda! *o*