A atendente da livraria afirmou categoricamente que o papel grosso era ruim para fazer origamis, mas Eduardo simplesmente a ignorou e pediu dois pacote de quinhentas folhas sulfites vermelhas. Já em casa, ouviu de sua mãe que o melhor lugar para fazer as dobraduras era na mesa da sala de jantar, mas Eduardo preferiu a mesinha de centro na sala de estar. Na tela do notebook, o site de tutoriais de origamis mostrava preferencialmente os passos mais fácil para construir o origami de estrela, mas Eduardo escolheu o mais difícil.
Sabia que iria ser trabalhoso fazer diferente do que lhe foi sugerido, mas Eduardo queria fazer as coisas do seu jeito, pois garantiria que seu trabalho final tivesse uma maior qualidade, algo que era imprescindível para conquistar o sucesso em seu plano. Assim, pegou a primeira folha, e começou a fazer de acordo com o tutorial: dobrar no lado esquerdo do papel como se fosse um sinal de multiplicação para marcar o vinco, levar uma das pontas do papel do lado direito até o vinco, dobrar o papel de acordo com as linhas pontilhadas até formar um pequeno pacote e, por fim, abrir o pacote puxando as duas extremidade opostas.
As duas primeiras dezenas de estrelas foram muito trabalhosas para ser confeccionadas, visto a falta de experiência. Mas, com o passar do tempo, a dificuldade diminuiu e a quantidade de estrelas vermelhas aumentou, atingindo, após dez horas, o número de novecentos e noventa e nove. Assim, Eduardo, muito exausto, pegou a última folha sulfite e escreveu “Caixa de Desejos” com uma caneta dourada e a colou numa caixa de madeira, onde guardou todas as estrelas vermelhas.
Com tudo pronto, Eduardo se dirigiu até a casa de Sara, onde tocou a campainha e aguardou até a porta ser aberta.
— Eduardo? O que você quer aqui?
— Eu vim ter meu desejo realizado, Sara.
— Desejo? Que papo é esse, seu louco?!
— Depois que você brigou comigo, eu comecei a relembrar tudo aquilo que fazíamos juntos.
— E o que isso tem a ver?
— Lembra-se o que nos aproximou naquela tarde em que conversamos pela primeira vez, lá no consultório do Dr. Jacinto?
— Origamis...
— Isso mesmo. E lembra-se o que dizia naquela reportagem que acabamos lendo juntos?
— Sobre uma lenda de estrelas de origamis.
— Exatamente! Se você fizesse mil estrelas, era lhe dado o direito de ter um desejo atendido.
— Verdade. Era essa lenda mesmo. Tá, mas o que isso tem a ver?
Assim, Eduardo entregou a Caixa de Desejos a Sara, quem a abriu lentamente e viu uma enorme quantidade de estrelas vermelhas. Sua primeira reação foi de espanto, em que seus olhos arregalaram e seus pelos arrepiaram. Após reparou em como os origamis foram bem construídas e nos mínimos detalhes, o que revelou o enorme carinho que lhes foram depositados.
— Você fez mil estrelas, Eduardo?
— Fiz novecentos e noventa e nove estrelas, Sara. Não precisei fazer mil, porque a estrela que mais brilha, a estrela que me guia, a estrela que ilumina o meu ser já está aqui, diante os meus olhos.
— Duda...
— Meu único desejo é poder viver em paz contigo. Por isso, me perdoe! Eu sei que fui rude, que não fui legal no que fiz. Eu me arrependo pelo que fiz. Por isso: perdoe-me e volte a viver comigo, Sara!
—Duda... assim você me deixar sem ação. Aguarde um pouco aqui, que já volto. Preciso pensar...
Sara entrou em casa e logo sumiu do campo de vista de Eduardo, quem a esperava na porta. Ele estava muito ansioso e receoso com a resposta que Sara lhe daria. Ele sabia que tinha errado e por isso seria difícil para Sara responder sem ao menos uma breve reflexão. Sara demorou cinco minutos para voltar, mas, para Eduardo, pareceu ser cinco horas, em que o coração palpitou a ponto de querer sair pela boca.
— Duda, acho que não tem como ser diferente. Hoje de tarde, eu me lembrei justamente do dia no dentista e sobre a lenda. E você não vai nem acreditar, ou vai, já que sabe o quanto conectados que somos, mas comecei a fazer origamis de estrelas para ter o direito a um desejo atendido e aqui está a única estrela que fiz. É azul, mas acho que não tem problemas, né?
Sara abriu a caixa e depositou a estrela junto as demais. Eduardo estava perdido e não sabia como reagir e no impulso pegou a mão de Sara e indagou:
— Sara... Eu, eu não sei o que falar. Você também decidiu usar da lenda para nos reaproximar?
— Tudo que eu queria é que você reconhecesse que tinha errado e que viesse mostrar a arrependimento. O meu desejo se realizou, Duda!
— Então você me perdoa?
— Óbvio que lhe perdoou, seu bobão!
Eduardo caiu de joelhos no chão e começou a chorar. Sara o amparou com lágrimas nos olhos. Ambos estavam muito felizes em seguir a voz de seus corações e por viverem o amor que os unia, o amor o qual é o fruto do poder de uma lenda de estrelas de origami.