O Bunker (Em Andamento)
Aaron Nicholas
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 09/07/24 19:05
Editado: 28/07/24 08:18
Qtd. de Capítulos: 2
Cap. Postado: 27/07/24 11:37
Cap. Editado: 28/07/24 08:18
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 9min a 12min
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Palavras: 1452
Não recomendado para menores de dezoito anos
O Bunker
Notas de Cabeçalho

Sinto tanto frio...

Manuscrito 2 Erro Fatal

Hora do almoço. Todos nós estamos sentados discutindo o que vimos nos níveis inferiores ontem. Estou absorto demais em meus próprios pensamentos para dar qualquer opinião. Não sinto fome e a lata de milho em conserva que me deram não é muito palatável, digamos assim. Mas vou deixar claro nessas folhas por ora: não devíamos ter descido lá e nem devemos procurar essa suposta segunda saída. Se eu pudesse, diria para todo mundo que não devemos descer mais lá embaixo e que ou o exército vem nos tirar daqui, ou morremos todos logo de uma vez. Porém, não há nenhum argumento convincente que eu possa usar. Se eu começar a falar sobre o que sinto a respeito, vão achar que estou procurando cabelo em ovo. Tem alguma coisa errada aqui e não consigo atinar o que é.

Ontem, perto das 9h, estávamos todos ao redor do alçapão. Foi decidido que eu, Raquel, Álvaro, Larissa e Fábio desceríamos, enquanto Rafael e Tabosa ficariam no andar superior. Eu tinha uma forte suspeita que Tabosa e Fábio estariam de conluio por causa do comportamento de anteontem. Claro que não podia contar a ninguém quais eram minhas verdadeiras preocupações, então sugeri que dois homens deviam ficar perto do buraco durante a expedição, para ajudar a içar alguém de volta caso subir se provasse dificultoso, e também consegui induzir que Fábio não fosse um desses homens. Assim, Rafael, que é jovem, forte e de minha confiança, ficaria de olho em Tabosa, que é mais velho e menos ágil, enquanto Fábio estaria lá embaixo, separado do parceiro, onde eu podia ficar de olho nele.

Não levamos muita coisa, porque não tinha muito o que levar. Levamos lanternas, pilhas reserva, cordas, meu canivete e a valise de trabalho de Álvaro com algumas garrafas de água dentro. Eu desci primeiro, depois Fábio, Raquel, Larissa e Álvaro.

-Gritem se precisarem de alguma coisa. Boa sorte. – disse Rafael quando todos nós já estávamos no chão.

Pensei muito a respeito e acho que não tem um bom jeito de descrever o local em palavras em que eu passe uma ideia completa e fiel do que achei do lugar. Mas aqui está o cerne da definição: parece um lugar que você veria em um sonho estranho. Não em um pesadelo, mas naquele tipo de sonho em você acorda se sentindo deprimido e seu quarto parece pouco confortável. E depois você passa a manhã lembrando dele; aquelas salas simplesmente não parecem reais.

As salas inferiores estão em estado pior do que as superiores. Não há nenhum resquício de decoração ou acabamento em qualquer canto, fios elétricos pendem dos tetos sem nenhuma lâmpada sequer e o chão está cheio de sobras de construção, materiais e ferramentas abandonados e enterrados debaixo de uma camada incrivelmente grossa de poeira. O que mais me chamou atenção foi o formato das paredes; elas também estão erodidas, mas estão estranhamente lisas e aredondadas, como uma rocha ficaria depois de anos em contato com as ondas do mar. Porém, não há nenhum vestígio de água por ali. Quase pensei que tivessem escavado o abrigo em alguma caverna natural, mas aquilo não faria muito sentido. Todos esses aspectos contribuem para dar um ar de surrealidade ao ambiente.

Começamos a andar pelo grande cômodo em que descemos. Ele era simplesmente imenso. Raquel espirrava muito por causa da poeira e precisou cobrir o nariz com um pano. Eu ficava de olho em Fábio, que não parecia muito interessado na exploração. Álvaro ia na frente, virando a lanterna para cá e para lá sempre que divisava algo na penumbra.

Chegamos eventualmente a um corredor que levava para outros corredores adjacentes.

-Para onde devemos ir? – Perguntou Larissa. Ela não falou alto, mas o eco da sala pareceu amplificar sua voz.

-Bem… - disse Álvaro – Onde vocês acham que a saída ficaria?

-Acho que poderíamos pensar onde ela nos levaria na superfície. O que tem ao redor desse prédio?

-Estamos no centro da cidade, praticamente só outros prédios.

Opinei:

-Se levarmos em consideração o que Tabosa disse sobre o dono, podemos inferir que a saída não leva a outra construção, já que ela poderia desabar. Então provavelmente ela leva a algum espaço aberto… Uma avenida talvez. A Presidente Vargas ou a Rio Branco; possivelmente a Praça Pio X.

-Como podemos saber onde elas ficam daqui debaixo? – perguntou Larissa.

-Se tivéssemos uma bússola daria para triangular usando o endereço do nosso prédio como referência. – Disse Álvaro

-Então a ideia de Ian de nada serve. – Disse Raquel.

Essa mulherzinha não cansa, não é?

Ficamos em silêncio pensando em como nos localizarmos. E por muito tempo.

O silêncio. O ar parado. O estranho frio. A poeira. Absorto em meus pensamentos, comecei a contemplar o ambiente. Por que esse lugar existe? Para salvar pessoas? De alguma forma, naquele momento, me convenci que aquele lugar estava errado. Todo errado. Ele não podia ser real, e, no entanto, era tão real quanto as partículas radioativas que poluíam o ar lá fora; um ar bem mais fresco que esse que respiro. Algo dentro de mim dizia que, de alguma forma, havia algo de sádico naquela construção. Era uma ratoeira humana, mas percebi que essa definição ia muito além disso; era algo a mais.

Não somos bem-vindos aqui, mas queriam que viéssemos para cá.

Senti um estranho senso de perigo crescer dentro de mim. Meu coração começou gradualmente a bater mais rápido e senti meu corpo paralisar. E o frio. O frio…

Tomei um susto e saí do transe quando Álvaro disse:

-Acho que não adianta. Vamos ter que explorar ao acaso para achar a saída.

-É. – Disse Raquel com um suspiro. – Mas uma hora ou outra vamos achá-la.

-Pois é. – disse Larissa. – E não há risco da gente se perder por causa de nossas pegadas.

Com isso, escolhemos um corredor qualquer e vasculhamos todos os seus quartos. Demoramos bastante, apesar de não haver muita coisa para se ver nesse vinte e dois cômodos. Todos os quartos eram idênticos em dimensões e estavam posicionados simetricamente. Larissa acha que deveriam ser alojamentos, onde deveriam haver beliches, guarda-roupas, chuveiros; essas coisas. Não registrei muitos detalhes porque me sentia perturbado. Não conseguia tirar aquela sensação de frio e perigo da minha cabeça. Com muito esforço não estava me comportando como um animal acuado, apesar de eu estar me considerando um. Queria sair logo dali, mas também não queria parecer louco. Nem me empenhei em prestar atenção em Fábio.

Por fim, voltamos ao buraco para o nível superior. Fui o primeiro a subir e nem sequer pensei em esconder meu medo dos outros. Senti alívio, mas não completo. Só Rafael estava perto do buraco. O desgraçado da Tabosa voltara para sofá de couro. Discutimos a expedição e depois fomos descansar.

Hoje, de manhã, pensei bastante a respeito. Não tem nada que explique o que senti lá embaixo e realmente há algo de estranho na arquitetura desse “abrigo”. É fato que ele foi feito para abrigar duzentas pessoas, mas ele é grande demais. Só a grande sala em que descemos e o corredor de alojamentos denota isso. Sem falar nas paredes estranhas e na camada grossa de poeira; de onde ela veio se não há ventilação?

Vamos voltar a explorar amanhã. Preciso continuar a ficar de olho no Fábio e no Tabosa, mas também tenho que pensar em alguma coisa para convencer todos a apenas esperar pelo exército. Sei que não posso sabotar o alçapão porque seriam capazes de me matar por causa disso. Vou precisar criar algum argumento convincente. Acho que consigo puxar Rafael e Álvaro para meu lado, porque eles ainda me respeitam. Duvido que consiga convencer a Raquel, mas sou obrigado a admitir que ter ela do meu lado seria uma mão na roda. Tabosa não tem importância. Larissa é uma incógnita. E Fábio… Não quero contar com ele. Mas acho que ele também não tem muita importância em termos de opinião.

Não quero, mas vou ter que voltar lá para baixo amanhã. Dessa vez, Rafael descerá conosco e Álvaro ficará em cima com Tabosa. Preciso manter a cabeça fria se quiser sair dessa, mas estou cheio de preocupações e não posso deixar ninguém ler esse caderno. O quão grande pode ser esse bunker? Tabosa falou em níveis inferiores, não em nível inferior, e isso me desconcerta muito. Como seriam capazes de construir algo tão grande debaixo da cidade? Estou tentado a dizer que as paredes do andar em que estivemos não foram feitas pelo homem, mas… Tenho certeza que Deus não teve a menor participação na criação desse lugar.

Vão deixar a porta do alçapão aberta. Também não gosto nada disso, mas não posso falar nada. Só posso cruzar os dedos para que nada tenha acontecido enquanto dormimos.

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