um homem caído no chão nas escadas do quintal (Em Andamento)
Green
Usuários Acompanhando Nenhum usuário acompanhando.
Tipo: Roteiro (Longo)
Postado: 04/04/24 07:53
Editado: 04/04/24 08:39
Qtd. de Capítulos: 2
Cap. Postado: 04/04/24 08:37
Cap. Editado: 04/04/24 08:38
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 0
Comentários: 0
Total de Visualizações: 217
Usuários que Visualizaram: 1
Palavras: 901
Não recomendado para menores de doze anos
um homem caído no chão nas escadas do quintal
capítulo dois análise psicológica

o homem caído no quintal representa os problemas que na infância eu percebia a presença, mas que eram responsabilidade dos adultos e eu não tinha maturidade para reclamar. problemas escrachados, mas que não eram solucionados pelos adultos mesmo que parecessem tão sérios quando um homem morto no quintal. problemas que eram empurrados de um adulto para outro, porque ninguém a minha volta tinha maturidade para assumir responsabilidade por eles;

ainda assim, eu estava dentro de casa, protegido. não sabia como tinha chegado ali, mas de alguma forma o problema e os medos não me tocavam. me alienei e anestesiei a mim mesmo a infância inteira, uma vez que a realidade a volta era caótica demais para uma criança suportar. se eu não pensasse sobre, o problema não existia. se eu me privasse de entender, eu estaria bem. me mantive vendado dentro de casa;

meu irmão mais novo ao meu lado representa as responsabilidades que minha mãe, após separar do meu pai, depositava em mim, uma vez que eu era a irmã mais velha. tudo que ela não podia suportar acabava caindo nos meus braços. era eu a responsável por resolver tudo que ela não conseguia. não tenho certeza em qual momento comecei a acreditar que esse era meu objetivo de vida, mas desde sempre me lembro de ser a mediadora da minha família. eu via as falhas de comunicação, a falta de disciplina, a falta de responsabilidade emocional e tentava de todas as formas compensar tudo que minha mãe deixava a desejar. eu era apenas um adolescente então, naturalmente, eu falhava boa parte das vezes. meus irmãos carregam feridas até hoje por conta da tirana que eu fui desde pequeno;

meu tio mais novo tem minha mãe como nêmesis desde que eu me lembro por gente. ele a despreza num nível que me assusta profundamente. hoje em dia eu vejo o mesmo sangue nos olhos que ele aponta para minha mãe, nos olhos dos meus irmãos mais novos em minha direção. é pavoroso, mas eu me recuso a repetir esse padrão;

a decisão da disposição de quartos é da minha mãe. por mais que eu veja as falhas dela desde sempre, ela ainda é a pessoa responsável no final. não sou eu a mãe, mas sim ela. não sou eu que tem a palavra final, não sou eu o adulto da situação;

tento fugir da presença do meu irmão do meio, uma vez que ele é uma pessoa extremamente agressiva e eu, sensível a sons e intensidade num geral. atualmente tenho consciência de que é minha responsabilidade encontrar soluções para os meus problemas, mas lidar com ele ainda é um dos maiores desafios da minha vida;

minha mãe anda de um lado para o outro da casa. eu atualmente estou nos meus vinte e poucos anos, a idade que ela tinha quando eu era pequeno. atualmente eu me encontro perdido sem saber pra onde ir, assim como imagino que ela estava na minha idade. não tenho memórias de como exatamente ela agia na minha infância, mas se fosse chutar diria que ela se sentia de uma forma muito parecida como eu me sinto atualmente;

meu irmão mais novo se afasta de mim. ele fez isso, no momento que começou a me julgar da exata forma como eu julgo minha mãe, ele perdeu o interesse em mim. sempre volta quando precisa de amparo, mas os sentimentos dele borbulham muito mais fortes que os meus. o ódio dele é muito mais intenso que o meu. ele me despreza com tanta sinceridade que eu imagino que ele mesmo não deve ter consciência disso, uma vez que ele não deve me odiar totalmente;

a casa é um trem. no fundo do âmago da minha alma eu gostaria de não precisar sair de casa para enfrentar o mundo;

sento no chão como uma criança e não tenho medo porque minha mãe está ali. eu me pergunto quanto da tranquilidade da minha infância eu perdi por ter que ficar prestando atenção em como ajudar os adultos desequilibrados da minha vida. hoje eu não tenho mais o amparo da minha mãe sempre que preciso. eu decidi abandonar todos e ser responsável apenas por mim, porque minha mãe viveu a maior parte da vida fazendo o extremo oposto disso;

a menina é alguém que eu não preciso cuidar. ela trás alívio e confusão, uma vez que para mim não faz sentido alguém ter interesse em mim sem depender dos meus cuidados;

a menina também é o universo fora da minha mente. ela é alguém externo, que sorri de forma suspeita quando eu peço seu celular, como quem diz "você acha que temos isso nessa camada de realidade? só me dê os números que eu vou lembrar" e me convence de que realmente não há problema nenhum em fazê-lo;

se eu não tomasse a iniciativa de descobrir como chegar em casa, ninguém tomaria. a mãe é a responsável, mas até ela me segue. quando se vê em perigo, sai correndo desesperada de forma irracional e, quando eu me lembro que o psicológico dela não é nem um pouco confiável (não em crise), que é uma coisa que eu não sabia quando era menor, simplesmente desisto, largo mão de cuidar dos meus irmãos e no exato momento em que meu cérebro começa a raciocinar a situação de forma lógica e prática eu acordo antes que uma crise de pânico me atinja.

❖❖❖
Apreciadores (0) Nenhum usuário apreciou este texto ainda.
Comentários (0) Ninguém comentou este texto ainda. Seja o primeiro a deixar um comentário!