Amor (bleargh!). Palavra um tanto quanto... Bizarra para ser dita por algo como eu. Entretanto, creio que sim, seja válida. Ao menos para esta confissão inesperada que farei a seguir.
Para falar a verdade, eu era bem mais novo quando a vi pela primeira vez. Admito que a achei meio esquisita, até intimidadora no início; sua aparência me assustou um bocado e eu não entendia nada do que ela tentava me dizer. Mas, movido pela curiosidade, acabei me aproximando dela. Heh! Chega a ser engraçado recordar disso agora, depois de tanto tempo...
Tivemos um começo de relacionamento bem conturbado, por assim dizer. Nossa proximidade se deu aos poucos, pois eu era atrapalhado demais, não sabia lidar direito com ela e custei a compreendê-la de fato. Ela era (foi e há de ser até o Final dos Tempos) muito exigente, tanto que às vezes chegava a me irritar. Só que eu não conseguia mais ficar longe dela, sabe? Eram horas e horas ali, me deixando consumir pelos seus encantos, cada dia descobrindo algo a mais, tentando (até hoje, por sinal) desvendar todos os seus mistérios com muito esforço e paciência.
Uma pitada de masoquismo também, creio eu.
Nessa época de ignorância e adequação da qual particularmente me envergonho, a maltratei tanto... Minha incompreensão gerava críticas e eventuais afastamentos. Por vezes xingamentos e palavrões infestavam minha mente ou mesmo minha boca. Diabos, era tão trabalhoso conceber determinados aspectos dela! Todavia, não conseguia ignorar seu chamado tentador, ainda que deveras rigoroso. Fui obrigado a buscar ajuda, aprender e me aconselhar com os mais velhos, ser mais insistente. O que tínhamos era valioso demais para que eu simplesmente desistisse.
Ela merecia meu melhor. Precisava!
Eu estava completamente apaixonado. Envolvido. Entregue. Quantas vezes deixei de ficar com meus amigos e até mesmo com minha família para me dedicar a ela? Fui criticado, ridicularizado, taxado de louco até em mais de uma ocasião. Só que a tudo relevava (ou algo parecido). Como eles poderiam entender o quanto ela me fazia feliz, como o vazio e a malevolência de meu cerne eram aliviados por meio de nossa relação já praticamente íntima? Chegamos a tal ponto que me era permitido fazer tudo, absolutamente qualquer coisa com ela... Do sublime ao grotesco! Nem o Céu, nem o Inferno eram o limite: somente minha imaginação o foi e seria...
Satã, esse grau de liberdade foi (e ainda é) tão bom!
Graças a ela, me tornei alguém melhor (ou seria pior...?) que outrora, fiz amizades incríveis que pretendo levar para o resto da minha vida, expandi meus horizontes, externei minha doença, enxerguei novas oportunidades e pontos de vista sobre a Vida, o (I)Mundo e a própria Existência! Inacreditável, não é mesmo? Devo tanto à essa companheira de todas as ocasiões, que ainda hoje me conforta, me desola, me renova, me seduz, me enlouquece!
Ah, Escrita... Você foi e sempre será meu primeiro (e provavelmente único) amor...