Alguns dias mais tarde...
Há uma sala onde a luz não vai encontrá-lo
De mãos dadas enquanto as paredes desmoronam
Quando elas caírem, estarei bem atrás de você
— Lorde, Everybody wants to rule the world.
Do céu mais escuro
Da noite mais tensa
O bem esvairá
E o mal reinará
Era tarde da noite, os olhos amedrontados brilhavam conforme a luz da lua refletia sobre eles. O silêncio sufocava as três pobres almas que insistiam em se esconder do inevitável.
Não sabiam há quanto tempo estavam dentro daquele escritório, utilizando da enorme mesa de madeira para esconderem seus corpos cansados e cheios de marcas e cortes da coisa.
— Alexia! – Sussurrou a menor, recebendo como resposta um sonoro ‘’Shiu’’ de Erik, que mantinha sua atenção pelo vão da mesa que dava visão da porta.
Perdidos. Sem saber o que fazer. Sem escapatória. Sim! Era a atual situação dos três naquela casa antiga, afastada da cidade e rodeada por uma imensa floresta bem densa.
O jovem jornalista suava frio, deixando sua camiseta social marcada pelas gotículas de suor que eram sugadas pelo pano fino e macio. As manchas eram tão visíveis que Alexia, a herdeira mais velha dos Bennet já tinha notado, o que acabou por deixando-a ainda mais preocupada. Ela sabia dos problemas que Erik sofria, e os dois que a preocupavam naquele instante era a ansiedade e a pressão.
— Erik. – O chamou em um sussurro, fazendo com que ele à olhasse. — Acho que podemos sair. – Disse por fim.
Entretanto, antes que o loiro pudesse lhe responder ou ter qualquer atitude que fosse, a porta do escritório se abriu com brutalidade, fazendo os dois se assustarem e se encolherem ainda mais, enquanto que a menor, pelo medo peguinhado até nos ossos, fechou os olhos com força.
Com o dedo indicador, o jornalista fez o sinal de silêncio para a morena, que apenas assentiu e apertou a irmã mais nova entre os braços. Ao terminar de ‘’avisar’’, Erik voltou a olhar pelo vão, rezando para que não visse nada que não fosse anormal. Entretanto, como sussurrado antes Deus não escutaria as preces de ninguém naquele lugar; a pupila dos olhos castanhos diminuiu sua forma circular, assim que avistou a silhueta de uma sombra negra à frente da porta. Não aguentando a visão, fechou os olhos, sentindo o sistema nervoso de seu corpo se acelerar.
— Louise... – ouviu-se à voz assombrosa ecoar pelo escritório. — Eu sei que está aqui! – Disse.
Os três se mantinha da mesma forma, ninguém ousaria a dizer um A que fosse para responder aquela coisa.
— Louise, por que não me responde? É feio deixar seus amigos FALANDO SOZINHO! – E então, os livros e qualquer tipo de objeto que estivesse naquele espaço, começou a ser jogado. O barulho dos vidros de jarras se quebrando ao chocarem no chão era ensurdecedor e com toda certeza alguém sairia surdo dali se os barulhos tivessem continuado.
Em questão se segundos, o silêncio voltou a se fazer presente. Louise, a pequena Bennet que mantinhas as mãos em torno da cabeça, aos poucos foi retirando e abrindo os olhos que encaram logo os de sua irmã, que os desviou para encarar os de Erik.
O jornalista, acreditando que a coisa havia ido embora, simplesmente voltou a olhar pelo vão da mesa. Pela pequena abertura ele enxergava todo o estrago que tinha sido feito no escritório antes bem organizado; ele olhava para todos os cantos com extrema calma e cuidado, até que, inesperadamente, um olho negro e ensanguentado se formou pelo vão, ao mesmo tempo em que a mesa foi jogada para o alto, fazendo Louise gritar pelo susto junto de sua irmã.
— Corram! – E como ordenado, as duas irmãs saíram desesperadas do escritório.
Erik por estar atrás das duas irmãs, acabou por sendo jogado com brutalidade contra a parede esquerda, caindo logo em seguida em cima dos estilhaços de vidro, que o perfurou em algumas partes do corpo.
Um suspiro sôfrego foi solto pela boca junto do sangue cuspido pelo jornalista. Não sentia mais seu corpo, assim como não conseguia enxergar nada em sua frente.
Será que aquele seria o fim para o jornalista fracassado?
Não! Ele não merecia aquele fim, não daquela forma, não por aquela coisa.
Mesmo com dificuldade, aos poucos o jovem se pôs de pé, sentindo a dor agoniante do golpe que recebeu, porém não era o bastante para fazer com que ele desistisse. Ele tinha que sair daquele lugar, e ainda mais, ajudar as duas irmãs a se livrarem daquele mau.
Caminho em passos lentos, o mesmo seguia no corredor mancando e as vezes batendo-se entre as paredes.
— Alexia! – Chamou pela mais velha, entretanto não teve respostas. — ALEXIA! – Chamou mais uma vez, porém nada ainda. — Alexia! Louise! Onde vocês estão? – Perguntou, só que dessa vez ele ouviu o grito de horror de Louise ecoar por toda a casa. — LOUISE! – Gritou terminando de descer as escadas. — Louise! Onde vocês estão? Me responda! – E então, ele ouviu as notas do Soneto da Noite serem tocadas pelo piano solitário na sala de estar.
E foi tudo que ele ouviu ao levar um golpe que o fez cair na profunda escuridão de sua mente.