Aqui, novamente, estou amarrado mais um dia. Trancado as sete chaves, o que me aguarda hoje?
O vento dessas cavernas parece estranho. Me parece trazer confissões de traição, trás junto rezas para algum deus aleatório, trás inclusive, a agonia de alguns.
Mas quem seria capaz de fazer os homens armados daqui temerem dessa forma?
Acorrentado, com os olhos vendados, em uma cela isolada, mas nada me impede de escutar ou sentir. Ouvi um chamado, parece que houve uma invasão... chamaram por reforços.
- Ah, hoje as coisas serão divertidas... - Eu disse, o que fez o guarda da minha cela rir.
- É? Achei que não seria necessário lhe calar.... mas se for falar mais alguma coisa, irei lhe calar então com minha arma! - O guarda riu mais uma vez e bateu com sua metralhadora na grade.
- Você não faria isso numa condição dessas. Invadiram este local.
- Apenas o primeiro piso, estamos no sétimo piso, como vão chegar aqui? A segurança aumenta a cada andar. E esse é justamente o último. Impossível chegarem aqui! - O guarda disse enquanto se segurava para não rir.
- Terceiro piso, não é? - O guarda parou de rir no mesmo instante.
- Você sabe?
- O vento me trouxe o sofrimento dos guardas do terceiro.
- Vento? Não existe nada aqui.
- É você que é tolo para não senti-lo. - O guarda bateu novamente a arma na grade.
- Quer me tirar do sério garoto?
- Você não pode atirar em mim, correto? - Ele se acalmou por alguns segundos. - Sétimo andar.
- O-O QUE? - O guarda gritou e eu escutei o som de um corpo caindo no chão.
- Eu encontrei os cinquenta e sete brinquedinhos. Isso foi um bom jogo. - Eu escutei uma voz feminina e alegre.
Eu escutei o som de chaves. A porta rangiu quando foi aberta, então a venda que tapava meus olhos foi removida. Eu abri os olhos e demorei alguns minutos para poder enxergar naquele local, meus olhos não conheciam a luz há alguns anos.
Quando abri os olhos, me deparei com uma garota de cabelos brancos longos e olhos azul-claros me observando. Ela vestia um shorts preto e uma blusa de manga comprida azul escuro.
- Como é enxergar depois de tanto tempo, hum? - Ela disse, então eu notei que ela tinha uma máscara de lobo branca com detalhes em azul escuro na sua mão.
- Creio que é bom. Mas, não me diga que você tentou se disfarçar usando uma máscara dessas. - Eu dei um meio sorriso e tentei mexer minhas mãos.
- Ah, isso? Achei por ai e achei bonito. Parecia ser de um dos guardas mortos. Ah, nem tente se mexer, essas correntes ainda estão apertadas. - Ela sorriu.
- É frustrante uma garota ter conseguido vir aqui em menos de uma hora, enquanto eu não pude escapar daqui durante três anos, eu suponho. - Eu revirei os olhos, me irritando um pouco. - Me solte logo de uma vez.
- É? É frustrante eu ter feito isso? Bem, foi frustrante também ver você, o tal humano sobrenatural amarrado por correntes simples e de olhos vendados, e sem camisa. - Ela olhou para mim com um olhar suspeito - Achei que estaria trancado as sete chaves, vendado, impossibilitado de falar, de escutar e de se mexer totalmente, e é claro, sem nenhuma parte do corpo exposta.
- Então você reparou bastante em mim, hein garotinha. - Eu dei outro meio sorriso – Mas.... você acabou de me subestimar?
Meus olhos negros se tornaram vermelho vivo, o fogo que surgiu em minhas mãos derreteu as correntes que me prendiam, então eu toquei o chão pela primeira vez em anos. Eu sorri maliciosamente enquanto fazia o fogo cercar aquela garota.
- Você... me subestima agora? - Eu me aproximei dela, fazendo o fogo ficar bem próximo, ela apenas fechou os olhos. - Está com medo agora, hein?
- Não. - Ela sussurrou e abriu os olhos, eles estavam agora azul-escuros.
Ouvi o som de um cristal quebrando, o cenário a minha volta se tornou azul escuro, bem próximo ao preto, e foi lentamente iluminado por brilhos azul-claros, tornando o ambiente colorido apenas com azul. A garota teve seus cabelos tingidos para preto e sua roupa foi modificada para um vestido branco com um colete preto, e laços azul-escuros. O fogo que eu criei desapareceu e eu não conseguia mais criá-lo.
- Seus olhos voltaram para a cor preta, apesar que seu cabelo ainda é o mesmo branco, não se preocupe. Essa é uma combinação interessante. - A garota disse suavemente enquanto sorria.
- Mas... que lugar é esse? - Falei assustado, aquele local não tinha fim nem começo, piso nem teto, mas era estranhamente confortável.
- Este lugar...? Está é a SUA dimensão. - Ela virou de costas para mim e me olhou por cima do ombro. - Que tal começarmos do extremo começo?