As paredes do meu coração começam a mofar, afinal lágrimas causam terríveis infiltrações. Ouço ao fundo a melancólica canção do desmoronamento: cairá sobre este chão mofado o que restou de meu coração.
Sempre estive prestes a ruir, porém ninguém quis me ouvir.
Tarde demais para dizer adeus. Santa hora para descansar. O eco agudo de um vazio escuro foi o que sobrou. Tomo em meus braços o silêncio que, com sua sutileza, me conforta. Constante foi a tristeza que rasgava minha alma. Agora, resta-me somente este eterno momento.
Um minuto de silêncio para o resto da eternidade.
Sou um ponto luminoso no meio de vários outros, pois faço parte da constelação de corações partidos. Contudo, logo serei uma estrela morta. Cai por dentro, explodi por fora: é chegada a hora de partir rumo ao desconhecido.
No meu copo já vazio, um veneno mortífero consome meus fragmentos de vida. Fecho lentamente os olhos. Sentada na poltrona de minha sala, ao lado de minha máquina de escrever, espero a morte vir me buscar antes do anoitecer.
Te faço conhecedor, leitor, de minhas últimas palavras. Guarde-as, pois são os últimos segundos do que restou de meu viver.
Guarde com carinho meus últimos suspiros.