Egoísmo
Lucia
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 01/07/16 04:17
Editado: 01/07/16 04:18
Tags: Goodbye
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 11
Comentários: 3
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Palavras: 496
Não recomendado para menores de doze anos
Capítulo Único Egoísmo

Os três nunca souberam que viviam em um triangulo amoroso. Nunca souberam que não eram correspondidos, mas que eram amados por outro.

Nunca descobriram antes do fim.

O amor é algo complicado, bonito e de difícil acesso. Ele nunca vem como você deseja, e para os três não foi nada se não a parte trágica do amor.

Apenas um sobrou para contar a história. Odiava um dos outros dois restantes, e amava o outro; odiava a si mesmo acima de tudo, por não conseguir impedir o fim trágico dos dois. Odiava-se por não ter correspondido o amor de um, para salvar o amado. E odiava ainda mais o outro não amá-lo, porém o amava como nunca tinha amado a nada.

Odiava o fato de só ter descoberto o porquê depois do fim.

Lembrava-se do quão contagiante tinha sido no começo; a amizade que os três nutriam um pelo outro, e como compartilhavam os segredos. Era difícil imaginar que nunca mais fosse tê-los por perto para seguir como antes.

Sabia que havia problemas com um deles, e ele odiava-o tanto por não tentar compartilhar e por não ter conseguido ajudá-lo quando mais precisava, por motivações egoístas. Percebia que quem ele amava, dava muito mais atenção para o outro, e isso o deixava enfurecido.

Foi nesse momento da amizade deles, que tudo começou a ruir.

De repente, nada era como antes. Não se falavam, tentavam manter distancia uns dos outros, e o sentimento gritava com urgência pela aproximação. Cada um desejava o outro com tanta força, que para um deles, foi difícil lidar com esse tipo de sentimento.

Ele se foi.

O que sobrou culpava-se por isso, sabiam de tudo um da vida do outro e sabia que deixá-lo seria a pior coisa que poderia fazer, mas mesmo assim, por ser egoísta e só pensar em seu próprio bem estar, o fez.

Mal sabia que os outros dois tinham o mesmo pensamento egoísta.

E foi ai que o outro também se foi.

Foi só então que ele percebeu o verdadeiro inferno que tinha se instalado na vida dele. Foi nesse momento que percebeu que poderia ter feito tudo diferente, que poderia tê-los por perto ainda, ter sua amizade e seu amor. Continuar seguindo suas vidas, mesmo que não do jeito que nenhum queria, mas juntos.

— Dizem que o amor não é egoísta, e não concordo com isso. Eles fizeram o que acharam melhor. Eles foram mais egoístas do que nunca, não sequer pensaram o que suas ações poderiam causar. — A mão dele tremia com os compridos que segurava. — Eu também mereço ser tão egoísta quanto eles...

Aquele foi um adeus para qualquer coisa que tivessem construído. Desde sua amizade, até o amor imenso que sentiam um pelo outro. Nada tinha mais significado para nenhum dos três, tudo estava perdido. Aquele foi um adeus para os três.

E o que nos restou?

Apenas mais três corações despedaçados que não batem mais, vitimas do grande vilão da história... O egoísmo.

❖❖❖
Apreciadores (11)
Comentários (3)
Postado 01/07/16 08:38

Como de praxe,a senhorita não decepciona nem cansa de me surpreender... Mas que belíssimo texto temos aqui, tão rico em sentimentos, intensidade e realidade que faz o leitor submergir totalmente no drama que magistralmente é narrado e conduzido ao seu trágico, mórbido e inexorável desfecho.

O modo como a senhorita narra é digno de aplausos, verdadeiramente me deleito admiro o quão densa e incisiva é a sua forma de transmitir ideias; mais uma vez me deparei com uma narrativa da qual iniciei e prossegui com avidez até o perfeito término. E quantas mensagens poderosas e reflexivas temos aqui!

De quem foi a culpa de tudo isso? Ou seriam todos ineputáveis do erro que cometeram uns com ou outros? Seria possível que tudo pudesse ter sido diferente se tal sentimento que os permeava fosse revelado e a situação explicada a todos ou ao menos a um deles? É válido amar sem ser amado? É possivel... Ou melhor, suportável se contentar com a felicidade da pessoa amada quando esta condição depende de outra pessoa?

Se bem que, neste caso... Era tudo uma questão de tempo para um desastre anunciado. No final, o Amor continua não me parecendo algo tão nobre e desejado assim. O Amor por vezes é o próprio Egoísmo com uma roupagem colorida.

Bravíssimo, Srta Lucia! Bravíssimo!

Atenciosamente,

Um ser que nunca amou nem foi/será amado, Diablair.

Postado 03/07/16 23:56

Coitada da Flá na hora de julgar as obras.

Postado 05/10/20 22:59

Eu amo o fato de você conseguir colocar tanta intensidade nos seus textos; a maneira como você constrói o enredo, brincando com as palavras e utilizando de metáforas e personificações, torna tudo mais glorioso e irreal.

Para mim, o amor é o sentimento mais egoísta que se possa existir. As pessoas lutam por ele, morrem por ele, almejam ele... Coloca em um pedestal tão grande que ficam cegos ante aos atos. Ficam cegos na tentativa de alcançá-lo, não percebendo as consequências por detrás de cada ação ao redor.

E foi isso que aconteceu com nosso triângulo amoroso. O orgulho e o egoísmo coexistem entre si, e na maioria das vezes trazem cicatrizes difíceis demais para se lidar.

Uma obra linda, Lu, com uma intensidade reflexiva ótima. Parabéns ♡