Boa Viagem
True Diablair
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 30/06/16 16:10
Editado: 30/06/16 20:36
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 4
Comentários: 4
Total de Visualizações: 663
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 760
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Texto originalmente postado em outro site para outro concurso e também como homenagem/retribuição por um texto que eu havia recebido de presente em um Amigo Secreto.

Resultado: além de ser um dos últimos colocados na competição, a pessoa deve ter achado uma diarréia literária absoluta pois jamais disse uma palavra sequer sobre este lixo. Por isso, não citarei o nome dela.

Tendo tudo isso em mente e considerando que esta foi minha primeira tentativa de criar algo assim, se ainda quiser ler essa imensurável porcaria, faça-o por sua própria conta e risco.

Penúltimo.

Capítulo Único Boa Viagem

Pensando bem, talvez fosse meu destino ter uma queda por ela, afinal...

Diariamente nos víamos no interior do ônibus pela manhã. Eu ficava olhando aquela garota de pele clara roubar a cena com sua extensa, volumosa e invejável cabeleira preta cacheada que emoldurava aquele rosto de feições agradáveis, delicadas. Ela sempre conseguia se maquiar e vestir de uma forma que a deixava sexy sem ser vulgar, o que só me deixava mais abobalhado enquanto ela passava por mim e se sentava metodicamente no mesmo banco do outro lado do corredor do coletivo... Bem no que era paralelo ao lugar em que me habituara a ficar.

Nossos encontros não duravam muito tempo, apenas algumas paradas adiante e ela tornava descer: provavelmente fazia alguma baldeação. Então eu aproveitava o curto período para observar vez ou outra aquela beldade de baixa estatura. Sabe aquelas olhadas ligeiras, meio de lado? Foi assim e com o passar do tempo que descobri que, quando ela sorria ao ver algo legal no celular, graciosas alcovas surgiam em suas bochechas. Que ela aparentemente era fã de Star Trek. Que possuía o hábito da leitura. Que eu estava cada vez mais atraído por aquela moça.

Nossa, já não era mais queda: era um tipo inusitado de "crush", como estava na moda dizer. Sim, porque eu não achava que tinha muita chance por N motivos que agora me parecem bem idiotas. Então, ficávamos nessa rotina de me perder nos raros vislumbres daquelas íris castanhas e imaginar toda a promessa de ternura e felicidade ali contidos, de sentir o coração levemente acelerar quando ela se ajeitava no assento e arrumava o cabelo, de aspirar seu perfume e suspirar baixinho ao perceber que aquela proximidade física era tão ilusória quanto provavelmente imutável.

Só que hoje o motorista freou abruptamente enquanto ela vinha na minha direção com atípica pressa e ambas as mãos ocupadas; de imediato me ergui e a segurei, impedindo que a mesma colidisse de rosto com a haste metálica logo adiante. Ela sentou ao meu lado(!) e finalmente ouvi sua voz enquanto agradecia pela ajuda: santo Deus, que timbre e sotaque lindos eram aqueles?! Quase emudeci, ainda absorto pela inebriante sensação de ter enfim tocado naquele corpo feminino tão admirado e desejado. E o sorriso gentil, sincero? E o olhar sutilmente intenso? Perfeição definia aquela garota.

Nos apresentamos, conversamos brevemente e para meu espanto e tristeza, descobri que ela também me notara há tempos e estava indo passar as férias em seu Estado natal. Qual não foi minha surpresa quando ela, faltando um ponto para descer, perguntou se eu tinha Whatsapp e me pediu o meu número de telefone para mantermos contato! Meio gaguejante, forneci a informação sem crer no que estava havendo.

"Não posso me atrasar, socorro! Logo te mando um oi e a gente vai se falando! Até mais! E muito obrigada de novo...", ela afirmou antes me beijar na face, saltar do banco e descer do ônibus apressada, levando as malas, meus pensamentos e um pedaço do meu coração junto. Segui meu itinerário meio que no piloto automático, o calor daqueles lábios e a consistência do batom me mantendo animado e corado mesmo depois de eu ter descido e seguir meu caminho pelo parte de pedestres viaduto afora.

Logo, meu celular tocou, vibrante como meu espírito. Estaquei por um instante, o retirei do bolso às pressas e vi cinco mensagens daquele número desconhecido: era ela! Cliquei ansioso, vendo a tela ficar toda branca enquanto o aplicativo carregava. A expectativa e felicidade foram tamanhos que naquele ínfimo momento, o resto do mundo deixou de existir para mim.

Vai ver que foi por isso que não vi a carreta desgovernada cruzar a pista, colidir com uma moto, atravessar a mureta de proteção dos pedestres e me atingir em cheio, me arremessando para fora do viaduto enquanto igualmente caía na estrada abaixo. Foi uma longa e lenta queda, cheia de dor e incompreensão até que eu literalmente explodisse no asfalto.

O celular vibrou e tocou segundos antes disso. Eu sorri enquanto uma lágrima verteu sobre a marca de batom.

Escuridão.

Silêncio.

Regresso.

Agora observo meu corpo, ou o que sobrou dele, bem como o desastre infernal à minha volta. Enquanto os outros gritam e soluçam, eu apenas olho entristecido para aquela mão ensanguentada segurando tenazmente um celular com a tela escura e tão despedaçada quanto eu. O que será que ela tinha me mandado? Eu só queria saber isso antes de ir embora. Só que nunca irei.

Nunca...

Estão me chamando. Hora de partir.

Que ambos façamos uma boa viagem...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Ânsia de vômito e lixo definem.

Grato por sua leitura e por quaisquer improváveis reviews...

Apreciadores (4)
Comentários (4)
Postado 30/06/16 16:37

Já falei que eu adoro quando tá tudo dando certo e aí dá tudo errado? kkkkkk

Massa demais, Diab! nada de "Epick Fail' (apesar de ser um nome de um ep de House que eu gosto muito). Criar amores em textos pra matar é tão legal (muaaaaah!) , nem tem motivo pra ânsia de vômito.

Postado 30/06/16 16:49

Ó Satã... Temos um apreciador de tragédias/desastres/afins aqui! Quão grata surpresa, ainda mais sendo quem é!

Tais palavras são de uma gentileza imensa da sua parte, Sr Giordano... Fico lisonjeado que tenha apreciado esta... Coisa. Bem sabe minha opinião sobre este tipo de assunto/vertente literária: simplesmente não me apetece. De toda forma, humilde e regiamente lhe agradeço pelos elogios e feedback!

Gratíssimo, gratíssimo!

Postado 01/07/16 20:59

Eu realmente não esperava por esse final. super massa teu texto cara, adoro tuas obras, tu é um pessimista fantástico, parabéns. Realmente foi inesperado. E ficou muito bem trabalhado.

Postado 02/07/16 00:20

Eu quem não esperava um feedback tão positivo, levando em conta minha aversão e dificuldade para com este tipo de obra! Fico lisonjeado,senhor, que tal... Coisa possa ter lhe apetecido!

Gratíssimo pelos elogios, especialmente ao pessimismo inerente aos meus textos! Gratíssimo!

Postado 03/07/16 14:11

Esse final foi simplesmente perfeito, moço! Nem eu esperava por algo desse tipo.

Postado 09/07/16 10:44

Milagrosamente lhe surpreendi então, moça... O que me deixa deveras orgulhoso!

Gratíssimo, Srta Flávia! Gratíssimo!

Postado 04/07/16 18:04

Eu adoro quando o Diablair diz que seus textos não estão lá muito bons. Ele sempre nos engana, hahaah.

Adorei. Gostei muito, por envolver felicidade e tragédia numa medida certa para me agradar. Parabéns!

Postado 09/07/16 10:48

Shahahahahahaha! Mas por Satanás encarnado, é verdade! Os senhores e senhoritas que estão sendo gentis quanto ao que comentam sobre certas... Coisas que posto aqui!

Meu caro amigo, saiba que fico muito feliz e satisfeito em saber que, a despeito de minha opinião acerca deste conto, ele conseguiu lhe entreter e agradar a este nível!

Gratíssimo, de todo o meu maldito e enegrecido coração!

Postado 16/07/16 15:10

Sabe o que eu acho mais incrível desse texto? A capa! Eu tenho certeza que essa foto é em Nancy, cidade em que morei por um tempo.

Postado 20/07/16 00:11

Satan, isso foi meio bizarro...

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