Mikael Levett tentava pensar em como havia ido parar ali quando subiu no onibus, umas poucas dúzias de crianças espalhavam-se pelos bancos. Todos eles pareciam ter sua idade, quinze, talvez dezesseis.
Uma garota tinha pintado os cabelos de três cores diferentes: rosa, loiro e verde-limão. Um garoto só usava preto — sombra preta, calça preta e camisa de mangas compridas preta. O estilo gótico não parecia combinar com o cabelo loiro e os olhos azuis, mas de alguma forma parecia legal nele.
Mikael olhou pela janela para ver se havia alguma chance de fuga.
— Sente-se — disse alguém às suas costas.
Mikael virou-se e viu que era o motorista. Embora não tivesse reparado antes, percebeu que ali até a motorista era esquisito. Seus cabelos grisalhos tingidos de violeta e piercings nas duas sobrancelhas.
— Vamos, Vamos — disse o homem. — Tenho que deixar vocês lá na hora do almoço, portanto vá andando.
Como todos os outros já estavam sentados, Mikael supôs que o homem estivesse falando com ele. Deu alguns passos pelo corredor do ônibus, sentindo toda a vontade de viver esvair.
Um dos garotos parecia levemente familiar, Mikael não lembrava-se de onde poderia ter encontrado qualquer um daqueles delinquentes. Era grande como um jogador de futebol americano e mantinha uma expressão intimidadora, como se pudesse socar qualquer um que ousa-se sentar ao seu lado. Ele ergueu uma sobrancelha para Mikael como se estivesse o desafiando.
Mikael sentiu um calafrio percorrer-lhe e se apressou em seguir para o assento que tinha escolhido.
— Sabe como chamam quem vai para o nosso acampamento? — a voz vinha do lado do assento onde estava a garota de cabelo tricolor.
Mikael supôs que não era com ele, mas ainda assim virou a cabeça. Como a garota olhava diretamente para o seu rosto, achou que tinha se enganado. Seus olhos eram verdes brilhantes, pareciam quase hipnóticos.
— Quem? — perguntou Mikael.
— Os caras que vão para os outros acampamentos. São sete acampamentos num raio de cinco quilômetros em Fallen — com as duas mãos, ela repuxou os cabelos tricolores para cima do ombro.
— Os outros nos chamam de “vilões” — disse a garota com um sorriso travesso.
— Por quê? — Mikael acomodou os pés na beira do assento, quando viu um rato morto rolar para debaixo dos bancos.
— Porque é onde vão parar todas as crianças levadas e delinquentes irrecuperáveis— explicou a garota —, o Pandemônio.
Mikael então lembrou-se como havia ido parar ali. Havia roubado muitas pessoas, enquanto passava pelas ruas e apanhava as carteiras de suas bolsas e bolsos discretamente sem nunca ser notado. Até mesmo algumas pequenas lojas quando precisava de um pouco de dinheiro extra, vivia nas ruas sem ser notado pelos adultos. As vezes era como ser um fantasma e por vezes desejava realmente ser um, quando tinha que fugir dos donos das ruas e quando era obrigado por eles a ajudar nos roubos. O problema é que nunca ficavam satisfeitos e sempre voltavam a procura-lo por mais.
Havia se tornado um mentiroso compulsivo enganando muitas pessoas até que mentir tivesse se tornado um habito, um cleptomaníaco que havia roubado muitas coisas até que tivesse se tornado uma necessidade e comido muitos doces até que tivesse se tornado um vicio.