-Levanta, tá na hora - gritou minha mãe.
Porra, é uma merda ir pra aula de ressaca. Mas é assim mesmo, enfim. Levantei-me e fui ao banheiro escovar os dentes, lavei o rosto, porém não havia como esconder meu rosto. Estava um lixo.
-Você está podre.- disse ela. Muito obrigado, nem pude perceber.
Saindo de casa, senti o vento bater, e congelar minhas orelhas, um frio desgraçado, mas é assim mesmo.
Sentir os passos pode ser entediante pra muita gente, mas eu gosto disso, atrai de volta minha cabeça que se faz ultimamente tão distante. Chegando ao ponto de ônibus, não houve tempo de sentar-me e o ônibus havia chegado. Embarquei.
Passei a catraca, dei cerca de seis passos e sentei-me no banco que fica ao lado da janela à esquerda, estava meio úmido mas não me importa. Prestando atenção ao meu redor percebo quanto blá blá blá pode ser ouvido. Duas moças debatiam arduamente sobre uma terceira ter começado ou não relacionar-se com outro alguém a qual elas eram desafetas. Puta que pariu. É uma merda estar de ressaca, faz parecer que todas essas asneiras ecoam na sua cabeça, é só sobre terceiros que se sabe conversar ? Por que ninguém consegue falar de si mesmo ? Cansei-me do debate produtivo das duas e voltei meus olhos cansados para a rua, onde observei o chão molhado e reluzente. Debati comigo mesmo.
-Por que as pessoas não podem transparecer como a água com o asfalto ?
Ora pois, preferem guardar-se às sete chaves !
-Mas e se essas chaves se perderem ?
Ora pois, ficarás perdido também.
É, espero que eu não esteja pensando alto, mas acho que de louco todos temos um pouco mesmo. Talvez se eu pudesse falar um pouco melhor sobre eu mesmo não estaria podre assim. Talvez isso seja muito sentimento acumulado dentro de mim. Mas, que se foda, é mais uma longa manhã pela frente.
E afinal, quem se importa ? Já tive meu porre de humanidade, fiquei de saco cheio, quero de volta a minha outra realidade.