Quando foi que as coisas ficaram assim?
Num piscar de olhos, a menina largou os brinquedos e se deparou com a adolescência.
O último ano da escola, o vestibular. Só agora havia percebido. Ela se sentia tão pequena.
Queria ir brincar na rua a tarde inteira, ficar suja depois de rolar na grama do vizinho. Queria ralar o joelho e voltar chorando até sua mãe, que lhe daria uma bronca e passaria um remédio.
Não gostava de se preocupar inconscientemente com o que as pessoas achavam dela ou com sua aparência.
Ao trazer amigos para sua casa, já sabia o que diriam.
"Parece uma puta, trazendo esses machos pra cá. O que os vizinhos vão pensar?." Ouviu de seu próprio pai.
Em um dado momento também passou a ouvir assobios na rua e palavras de mau gosto.
Perguntava-se o que tinha acontecido. Quando foi mesmo que seus seios cresceram? E aquela menstruação, o que houve?
Tão jovem. Tão menina. Mas parecia que não era mais isso que os outros viam.
"Já é uma mulher", diziam.
Não, não. Ela queria continuar acordando cedo para ver desenhos na tv, sem preocupações; queria aquele carrinho que nunca ganhara. Queria ser uma super heroína.
Ela não estava pronta, achava que nunca estaria.
Via amigas se casando, tendo filhos.
Ela só queria fugir. Não queria ter medo.
Tão jovem, tão pequena, tão assustada pra dizer que cresceu.