Os ventos uivavam na solidão sem fim,
Do meu coração não mais carmim.
Do precipício pude enxergar as palavras tais,Materializadas em dores e clamores reais.
Um fim para minha alma eu vi na branca neblina;
Brumas esperando meu salto que também era minha sina.
Uma dor, uma solidão assassina!
Uma vontade de morte que a minha alma atina.
Tão sozinha. Tão singela. Tão sóbria. Tão bela.
Pude vê-la na ponta sangrenta de uma lâmina, mas fugi, com asco, para a ponta do penhasco.
E a voz me disse. “Não cedes”
Não entendi de imediato, mas atento ao vento estagnei.
Prestei-me atenção ao tênue ressoar da canção do mar.
E gritei. Gritei ao ar que logo lançar-me-á iria, sem pensar.
“Perdoe-me a ignorância. Ânsia de morte e temperança,
Perdoe-me a vingança, à Deus e os anjos dos tempos de criança.
Perdoe-me a pergunta, que da minha parca curiosidade oriunda.
Quem sois vós? Voz atroz que me espia e esguia.
Quem pensares que sois?
Vigiando os pecados futuros de um homem sem alma calma ou clara?”
Então eu vi, mesmo sem querer ver, e o senti.
Um alado ser, com um podre ramo na destra,
E um jovem gamo na que resta.
Sua pele é nuvem e seus cabelos é noite.
Seus olhos, que vão e que vem, a sóis se assemelham,
Me cortando num açoite ao que se limitam.
Olhou para mim com um ar de sabedoria tenaz.
E disse assim, com palavras que não voltam atrás.
“Queimardes-vos as lembranças felizes que testemunhares?
Renuncia, tu, o Pai vosso e nosso com quem sempre falares?”
Então lotei-me-eu de ira e mira, e disse para o anjo de voz bela, como lira:
“Mentira! Mentira disseste vós! Em minhas orações e canções sempre estive a sós.
Mentira! Digo que é mentira! Agora parti-me-irei em dor e hégira!
Perdoe-me a ignorância. Ânsia de morte e temperança,
Perdoe-me a vingança, à Deus e os anjos dos tempos de criança.
Perdoe-me, mas não! Não ficarei aqui esperando alguma mão em vão.
Cairei, até o baixo chão! Mesmo que esta seja, de fato, uma confissão,
Esperarei no inferno de fogo e imensidão.
Alguém que encaixe suas magoas ás do meu coração.”
Então desgrudei-me os olhos do ancião, providenciada, já, algum tipo de expressão.
E a voz me disse. “Não cedes.
Não caia na tentação de todos vocês!
Não embarque no massacre da alma, e credes!
Credes que tenhamos um ser de calma alma por vezes!
Tu verás se permaneceres! Mas o fará se não ficares?
Tenhas fé, homem santo e bom. Tenha fé e guardas seguro este dom.
O dom da vida, a nenhum anjo permitida.
O dom de bom tom, para aguardar o vosso doce Armagedom.
Não cedes!” O anjo tenta mais uma vez.
Então eu pensei na voz doce da morte escarlate.
“Então correrei veloz, pelas linhas vermelhas de um estandarte?
Não quero! Não zero! Um mero, ser defunto. Não irei para o outro mundo.
Não assim. Num lindo jardim. Sem ninguém no fim.
Tentarei. Esperarei. Sua promessa cobrarei.
Anjo. Anjo que vi e que sei. Anjo da paz e da lei.
Aqui nesta vida singela eu aguardarei.
Aquele que me prometeram e encontrarei.”
Então eu sentei na beirada do penhasco, contemplando a morte lá embaixo;
E vi o anjo ascender, para o alto e o paraíso retroceder. O alado que minha vida fez esclarecer.