O sol brilhava com esplendor no céu celeste acima da cidade de Auria, dentro dos muros, na orla exterior da cidade, se passava a rotineira movimentação do mercado de domingo, o constante ruído e gritos de comerciantes e aldeões conversando e barganhando era quase como uma sinfonia, em suas casas de madeira os aldeões aproveitavam seus merecidos descansos após uma semana árdua de trabalho. Nós muros interiores a nobreza relaxava em suas elegantes mansões, alguns já se preparavam para a festa do conde Richard, ele era primo do Imperador e, diziam por aí, dava as melhores festas do reino.
No centro da cidade estava o palácio real, um belo castelo constituído por um saguão gigantesco, construído a partir de uma antiga catedral, e três torres, duas nas laterais frontais e outra no centro, nesta última ficavam os aposentos do Imperador. Sempre acordava tarde aos domingos, ao se levantar apoiava-se em sua janela e procurava naquele céu azul, naquela paisagem que era a capital de seu reino algum motivo para continuar ali, mas achava nada a não ser um vazio em si mesmo. Embora estivessem em guerra, se expandindo para novos continentes, aqui na sua capital nada de extraordinário se passava, a vida era calma, serena, chata.
Ele nunca foi um homem de política, sempre preferiu fazer justiça e ajudar seu reino no campo de batalha, fosse criando estratégias para flanquear seus inimigos, como na batalha da floresta de Burienland (aqueles bastardos acharam que não poderíamos passar pela clareira sem ser vistos, idiotas) ou lutando na linha de frente como na invasão de Prost, bons homens morreram naquele dia (benditas sejam suas honoráveis almas onde quer que estejam), mas depois da morte de seu pai se vira obrigado a tomar a posse do reino, isso significava lidar com a nobreza, negociar com mercados estrangeiros, passar segurança e confiabilidade a seu povo, etc… todas essas coisas que são feitas dentro do palácio, ele sabia que este não era seu lugar.
Seus devaneios em frente à janela eram quase sempre interrompidos pela sua esposa, Abigail, uma bela mulher baixa de olhos e cabelos tão negros quanto breu da noite. Ela era de uma cidade vizinha, há alguns anos salvara a vida dele, encontrou-o inconsciente no meio floresta após ser atacado em uma vila não muito longe dali, ela cuidou dele por três dias e duas noites, ao acordar ele perguntou o que ela desejava em troca, ela insistiu que nenhum agradecimento era necessário e que ele poderia retornar a seu lar tranquilamente, algumas semanas depois ele retornou àquela cidade e a pediu em casamento.
— Se ficares muito tempo parado aí alguém pode te acertar uma flecha — disse ela num tom jocoso enquanto passava a unha levemente pelas costas dele — Bem... aqui — apertara a unha contra as costas dele, como para simular a flecha acertando-o. Riu delicadamente.
— Nesta cidade morta? Duvido muito— disse ele rindo junto com ela
— A cidade não está morta, olha como ela se movimenta, todas as pessoas indo de um lado pro outro, como a maré em noite de lua cheia — disse ela num tom sonhador com sua cabeça encostada nas costas dele abracando-o. Ficaram assim por alguns minutos até que ela, ficando na ponta dos dedos, aproximou-se do ouvido dele e sussurrou.
— Talvez o que tenha morrido seja teu senso de diversão, mo-ci-nho — ria como uma criança enquanto se afastava dele
— Ah não, agora você me paga, mocinha — disse ele já correndo em direção a ela. Pegou-a em seus braços e colocou-a em seu ombro, ela lhe dava tapinhas nas costas. Colocou-a na cama fazendo-lhe cócegas, ela gargalhava descontroladamente — Este é seu castigo, mocinha — disse ele rindo. Não era sempre que tinha tempo de ficar a sós com sua mulher, sempre havia alguém ou alguma coisa a se fazer. Ele parara de fazer-lhe cócegas e olhava-a tentando parar de rir, beijou-a lentamente, aproveitando o momento, foi um beijo demorado, ao tentar se afastar ela o puxara de novo, foram interrompidos pelo bater da porta.
— Quem é? — Gritou o Imperador
— Sou eu, preciso falar urgentemente falar com o senhor, pai! — de trás da porta vinha a voz de seu filho, William.
— Será que é tarde demais para fingir que estamos dormindo ainda? — sussurrou para sua esposa.
Ela lhe deu um tapa no peito nú — Pare com isso, seu bobo — Riu — Vá lá receber o seu filho.
Deu-lhe um beijo na bochecha e levantou-se para abrir a porta do quarto.
William, já com 19 anos, era um rapaz bem bonito, porém um pouco magro demais para o gosto de seu pai.
— Entre filho, fique à vontade — Deu um tapinha nas costas do filho — Não esqueça da dar “bom dia” à sua mãe —
— Bom dia, mãe. A senhora dormiu bem? — disse ele num tom monótono, fazendo a pergunta sem realmente se importar com a resposta. Sentou-se numa poltrona próxima à janela.
— Bom dia, meu filho — disse ela sorrindo ainda sentada na cama — Dormi sim. Você já tomou o seu café?
—Tomei sim. É exatamente disto que desejo falar com o senhor, pai.
— Alguma coisa errada com a comida? — perguntou Abigail
— Não, mãe. A comida estava ótima — disse sem nem sequer olhar pra ela — O problema é que, durante o café, tive uma conversa interessante com… hmm, qual é mesmo o nome dele? — disse ele colocando a mão na testa.
— Quem?
— O conselheiro do senhor, pai.
— Ah, Phillip.
— Precisamente. Estava conversando com este Phillips e el-
— Phillip — interrompeu o pai — Phillip, sem s.
William suspirou contendo a raiva — Tudo bem. Continuando… PHILLIP — disse ele dando bastante ênfase ao nome. O pai sorriu e acenou com a cabeça — estava me contando a respeito de como esta indo a expansão do império e ele acabou por me contar um pequeno detalhe que, pelo que ele me disse, não devia ter contado a ninguém.
— Ah, ele te contou que eu planejo estar na linha de frente na próxima batalha — disse ele naturalmente. Abigail olhou apavorada.
— Como assim? Porque você tem que ir? Você não devia ter que ir? Porque só estou sabendo disso agora? — disse ela andando em direção ao imperador, abracou-o.
— É pai, porque o senhor decidiu participar da batalha tão de perto? — perguntou o William com um tom mais curioso do que preocupado
— Relaxa, amor — o Imperador tentou acalmar sua esposa, passando a mão pelos seus cabelos — Eu decidi que independente do amor que tenho por vocês, meu dever é estar lá na linha de frente, com meus soldados, é a única maneira que sei para ajudar o meu reino, o meu povo, vocês. Partirei em poucas horas disfarçado com mais quatro guardas, seria imprudente fazer pública a minha viagem — Viu um sorriso se formando no rosto do filho — Vejo pelo teu sorriso que entendes agora a importância do que estou fazendo, filho
— O que? Hã… sim, entendo perfeitamente pai. — Levantou-se William e foi em direção ao seu pai — desejo a melhor da sorte ao senhor, creio que seja melhor fazermos nossas despedidas agora que é mais reservado — estendeu sua mão para o pai
—Tens razão meu filho — deu a mão pro filho.
— Adeus, pai.
— Adeus não, filho — sorriu — Até pronto.
Abigail ainda chorava nos braços do imperador.
A noite caia, a lua jogava sua luz prateada no imperador e seus quatro guardas cavalgando para fora da cidade que agora distante só conseguia se distinguir a luz brilhante da festa do conde Richard onde Abigail permanecia sentada numa luxuosa cadeira na biblioteca da mansão, não podia mais fingir prestar atenção ao que as pessoas diziam, tudo que passava pela sua cabeça no momento era seu marido, precisava relaxar. William estava no saguão tentando manter conversa com vários nobres, também tinha apenas seu pai na cabeça, porém enquanto Abigail tinha um rosto triste, desolado,seu filho mantinha um sorriso resplandecente, muitos que o viram naquela noite disseram que nunca o viram tão feliz.
O Imperador já adentrava uma pequena floresta a alguns quilômetros da cidade quando ouviu um dos seus guardas dizer “Merda” enquanto o resto parava seus cavalos e riam do pobre diabo. O Imperador parou e suspirou, tudo que queria era chegar à base do General Bhorem o mais rápido possível, será que trazer quatro guardas tinha sido demais? Deveria ter trazido apenas dois? Seus pensamentos foram interrompidos pelo comandante, um homem de rosto forte e bigode volumoso, embora tivesse uma aparência forte, acabara de ser promovido a Comandante e ainda era um pouco frouxo com seus soldados. Ele parara ao lado do imperador, as risadinhas dos outros guardas ainda podiam ser ouvida.
— Vossa Excelência, Edgar deixou o cantil dele cair, recomendo que façamos uma pausa para permitir que ele o encha no rio Grand que corre a poucos metros a leste daqui.
— Não pode ele enchê-lo mais à frente?
— Temo que não seja possível, Vossa Excelên-
— “Senhor” — interrompeu o Imperador com os dedos nas têmporas — “Vossa Excelência” é muito longo, me chame apenas de “senhor”
— Como desejar, Vossa Ex- Senhor — Será difícil me acostumar a isso, pensou o Comandante
— Como ia dizendo, pouco mais à frente o rio curva para o leste, nós nos dirigimos para o noroeste, do ponto de bifurcação haveria um período de 2 a 3 dias sem uma fonte confiável de água… e também — hesitou o Comandante um tanto temeroso — os outros dois dizem estar apertados.
O Imperador olhou para o comandante esperando talvez que ele dissesse que era uma brincadeira de mal gosto, mas só viu o seu rosto pálido aguardando uma resposta. Abaixou o rosto cobrindo com ambas as mãos.
— Sabia que deveria ter trazido apenas dois guardas — disse o Imperador em voz baixa
— Perdão, senhor?
— Nada, nada — O imperador suspirou alto com intenção que todos os guardas ouvissem e talvez sentissem um pouco da frustração que ele sentia agora, virou-se e olhou para os três guardas imóveis. Paul, um guarda do palácio e Benjamin, seu companheiro de turno eram conhecidos por ele, já os vira algumas vezes e inclusive trocara algumas palavras com os dois. O outro, era um rapaz novo, tanto no trabalho quanto em idade, não o conhecia bem e estava lhe dando uma péssima primeira impressão.
— O que estão esperando? Vão! Apressem-se! Não temos a noite toda.
Viu dois guardas indo apressados em direção à mata. Edgar descia calmamente do cavalo, ao bater os pés não chão deixou seu cantil cair novamente
— Pelo amor de- Venha aqui, você. Esqueci seu nome.
— Edgar, senhor — Disse o guarda andando na direção do Imperador com uma voz um pouco mais grossa do que se esperava de uma figura tão desastrada
— Tanto faz, me dá esse cantil aqui — disse o Imperador arrancando o cantil das mãos do guarda — Eu mesmo encho, preciso de um tempo pra pensar sem vocês idiotas por perto. Esperem aqui.
O Imperador marchou em direção ao rio, esperando achar alguma serenidade nele.
Abigail estava, como sempre, confusa em relação ao filho. Sabia que não gostava dela pois não era sua mãe biológica, a tratara com desdém mesmo sendo apenas um menino quando se conheceram, ela achou que ele se acostumaria com o tempo, não se acostumou, mas por que parecia ele tão contente? O pai acabara de sair pra participar de uma guerra, será que ninguém se importava ou ela se importava demais? Seria a felicidade do filho, orgulho? Seria ela a errada? Deveria estar lá fora se divertindo e festejando? Uma pequena parte dela achava que sim, mas não conseguia. Dissera ao conde que se sentia mal e voltara para casa, porém não conseguia dormir, estava parada olhando o céu estrelado pela mesma janela pela qual seu marido olhava o céu pelas manhãs, sempre que podia, o admirava de longe por algum tempo antes de tirá-lo de seu transe. Agora ela, em seu próprio transe, só podia pensar se o marido estaria olhando para o mesmo céu estrelado para o qual ela agora olhava.
Hoje havia sido um dia cheio de surpresas, descobrira que tinha alguma doença que o fazia mijar o tempo todo, o que não era nada bom se você trabalha como guarda do palácio, descobrira também que a esposa o traia com o sujeito que lhe vendia leite e manteiga, o cara era bonitão e ainda fazia uma puta manteiga boa, não podia culpar a esposa, se ele fosse mulher talvez teria feito o mesmo, se fosse mulher talvez não teria essa doença estranha que fazia mijar ser tão doloroso quanto frequente. Pelo menos, no final do dia, podia contar com seu companheiro de turno e grande amigo, Benjamin.
— Ben, amigo. Agradeço muito você ter vindo junto para eu não parecer um bobão que mija demais sozinho — disse ele mijando em frente a uma árvore tentando não transparecer a dor
— Tudo bem, parceiro. É pra isso que servem os amigos, não? — respondeu o Benjamin que se sentara atrás de uma árvore a poucos metros
— Agradeço muito mesmo, hoje estava tendo um dia péssimo, saber que posso confi-
Foi interrompido pelo som de passos na mata e uma corda se esticando
— Ben? Você esta bem? — perguntou um tanto alarmado
Antes de conseguir colocar o pênis de volta na calça uma flecha acertou-lhe em cheio a cabeça, assim terminou o fantástico dia do guarda Paul
Edgar viu o Imperador sumir em meio às árvores e a palidez tomou conta de seu rosto, estava sozinho com o Comandante Gilliard
— Não fique aí parado, bobalhão. — disse o Comandante — Se seu cantil caiu é por que os nós provavelmente estavam frouxos, olhe se tem mais algum, não queremos que da próxima seja sua espada a cair em vez de seu cantil
— Sim, senhor — disse Edgar obedientemente. Foi até seu cavalo e fingiu checar os nós, pegou sua faca de um dos coldres amarrados ao cavalo e com ela cortou o fio que segurava o coldre de sua espada — Acho que preciso de ajuda aqui, senhor — disse ele com um tom um pouco nervoso
— Francamente, o que está havendo com você hoje?
Edgar manteve-se de costas ao Comandante e deixou a mão com a faca grudada em seu peito para evitar que a visse, tentava parar de tremer para não comprometer a sua enganação, esperou até sentir que estavam próximos e esfaqueou seu comandante uma única vez na barriga. O comandante curvou-se pra frente e olhou para seu subordinado com um olhar de surpresa, realmente não esperava que isso fosse acontecer. O medo no rosto de Edgar era notável, sua mão ainda segurava a faca. Infelizmente estava numa situação em que era a vida do comandante ou a dele, obviamente escolhera a dele. Puxou a faca pra fora e enfiou-a novamente na garganta daquele que antes era seu superior, sentiu um leve sentimento de poder que foi rapidamente substituído pelo pânico, o corpo ensanguentado do comandante estava agora no chão rodeado de uma poça de sangue, ele mesmo estava com sangue encharcando sua mão, se o Imperador voltasse como se explicaria? Ouviu as plantas se mexendo, levantou sua faca em direção ao mato preparando-se para o pior, Benjamin apareceu de dentro do mato
— Olha a bagunça que você fez, imbecil! — disse ele olhando para o corpo no chão — Solta essa faca e me ajuda a jogar ele no meio da mata!
Edgar ficou parado por alguns instantes, colocou a faca de volta no coldre e segurou o corpo pelos pés. Jogaram-no fora do caminho do Imperador e se esconderam atrás de um arbusto do outro lado da estrada
O Imperador deixou sair um suspiro enquanto encarava o céu acima dele, seria uma viagem longa mas finalmente se sentiria em casa no campo de batalha, estava satisfeito porém ainda se sentia um pouco mal por não ter avisado a sua família com antecedência. William parecia ter aceitado a notícia bastante bem. Abigail, por outro lado, chorara quase o tempo todo que ele se aprontava para partir, lhe partia o coração ver sua esposa desse jeito, mas sabia em seu coração que isto era algo que ele devia fazer. Encheu o cantil e aproveitou para tomar um pouco antes de voltar. A água é a vista tinha lhe feito bem, se sentia um pouco mais calmo. Andando pela trilha de volta a onde estavam os cavalos ouvia apenas os sons da natureza, achou que ao voltar os guardas estariam conversando e rindo como um bando de crianças depois da escola, mas ao chegar não havia ninguém, apenas os cavalos
— Aonde se meteram? — disse em voz baixa — Pessoal, estamos com pressa! — gritou em direção à mata andando de um lado pro outro — Andem logo! — amarrou o cantil no cavalo do Edgar porém viu que uma das cordas tinha sido arrebentada só então notou no chão uma pequena poça de sangue, deu um pulo em direção ao seu cavalo para pegar a sua espada. Um som rápido atravessou a pequena estrada de terra, o Imperador sentiu uma pontada nas costas, seguida de uma dor intensa. Olhou para baixo e viu a ponta de uma flecha passando pelo seu peito, sua boca se encheu de sangue, perfurara seu pulmão, cambaleou e caiu de lado na lama, ouviu o balançar do mato, e dois pares de botas vindo em sua direção, um braço puxou-o pelo ombro para virá-lo. Primeiro ele viu o céu estrelado, depois ele conseguiu ver a figura de dois guardas olhando pra ele. Tentou falar alguma coisa, mas não conseguia, havia já muito sangue enchendo-lhe a boca. Conseguia apenas ouvir a conversa dos guardas
— Edgar, posso te fazer uma perguntinha rápida, meu rapaz? — Disse Ben com uma serenidade arrepiante em sua voz.
— O que? Huh…. Claro, eu acho — Edgar não conseguia tirar os olhos de seu Imperador ferido de morte no chão, apenas um pensamento passava na sua cabeça “O que eu fiz?”. Agachou-se colocando as mãos nos cabelos.
— Quantos guardas você acha que são necessários para se entregar uma mensagem?
— Não sei, acho que apenas um?
— Exato
Edgar só compreendera o sentido da pergunta de Ben quando a espada já estava a pouco centímetros de seu pescoço nos 10 segundo de consciência que restavam à sua cabeça decepada perceberá que tudo que fizera fora em vão.
— Ainda está vivo? — perguntou Ben ao Imperador
Não havia como ele responder, sua respiração era cada vez mais acelerada, ficava a cada segundo mais difícil
— Ainda respira, que bom. — disse ele agachando-se colocando o rosto próximo ao do Imperador — O chefe ficaria desapontado se eu não lhe desse a mensagem que pediu, ele disse que o senhor entenderia “Digo adeus e não até pronto porque não tenho intenção alguma de vê-lo novamente’” — Ouvir essa frase doera mais no Imperador do que a flecha que agora o matava — Bom — continuou Ben — parece que alguém não gostava mesmo do senhor, mas isso não me interessa, só me importa minha recompensa. — pausou e olhou para o corpo sem vida do jovem guarda — Pobre Edgar, infelizmente morreu num “acidente de trabalho”, sentiremos falta do bastardo, mas dinheiro é dinheiro, certo Imperador? — falava agora num tom sarcástico — Olhe a hora, temo que não posso ficar aqui olhando você morrer lentamente, tenho uma agenda a cumprir e quatro corpos, uma cabeça e cinco cavalos pra me livrar, noite cheia hoje. Bons sonhos, Imperador.
Fechou os olhos do Imperador que já não tinham mais forças para se abrir novamente, suas últimas energias gastaram-se nas lágrimas que agora escorriam deles.
William estava agora deitado em sua cama ao lado de uma mulher que jamais vira na vida, ou pelo menos não lembrava de ter visto, conhecera-a na festa, geralmente ele preferia manter distância das pessoas em festas, mas nesta ele tinha motivo para festejar porém deixara-se levar um pouco demais
— Hey, você, acorde — disse balançando bruscamente a garota ao seu lado.
— O que? Que foi? Quem é? — disse a garota ainda meio dormida
— Vá embora, cansei de você, quero estar só — ela olhou pra ele confuso — Não tá me ouvindo? — disse ele levantando a voz — Pegue suas coisa é vá embora daqui, meretriz.
A garota sentou-se um pouco assustada com a repentina hostilidade de seu companheiro da noite
— Mas… é o meio da noite, é perigoso sair às ruas a esta hora
— Me parece que isso é problema seu, não meu. Agora vá — disse ele empurrando-a
A garota levantou-se, pegou suas roupas e saiu correndo do quarto chorando.
Tendo se livrado da inconveniente garota, William agora encarava o teto de seu quarto sentindo-se realizado sabendo que conseguira tirar um peso tão grande das costas, ao amanhecer tudo seria diferente.