O inferno, talvez menos por ser inverno, é o local onde eu vivi minha vida até conseguir alguma maneira de me soltar do casulo e viver, desta vez, de verdade.
Eu era abandonada. Talvez não literalmente, mas em tantas outras maneiras que nem posso contar. Talvez, tudo isso fosse derivado da minha perda de memória, ou talvez, fosse verdade. Só sei que, cada vez que 'eles' tentavam me ajudar, eu sentia longos e finos dedos pálidos se enlaçarem em meu pescoço, prontos para me estrangular no meu menor discuido.
Algumas vezes desconfiei de meus próprios sentimentos, "devo estar exagerando", pensava, nas noite em que não conseguia dormir porque sabia que ninguém viria me ajudar. Ou, eu simplesmente não estava acostumada a sentir, depois de passar tanto tempo matando meus próprios sentimentos.
Nunca vivi naquele lugar. Mentira. Eu vivi.
Mas, qual a graça de viver se será esquecido?
Memórias? Que piada me perguntar algo, tudo foi enterrado pelo meu próprio cérebro, quando nem mesmo eu queria.
Era um inferno, eu não me lembrava e não sentia o que falavam ser normal, apenas solidão e solidão, densas mãos me segurando junto ao chão, para que eu nunca pudesse me levantar e mostrar que posso.
No inverno, recebi a notícia.
Um trágico acidente ocorreu. Eu voltei ao meu inferno desde que nasci.
Só que desta vez não havia ninguém, era apenas eu e uma imensa casa vazia. As rosas que eu tanto amei sequer estavam lá.
Quem lhe dera, de alguma maneira me senti infestada de memórias e de tristeza. Mas, matei tudo isso logo em seguida.
E nunca mais retornei ao inferno.