Um som estrondoso, o qual veio da entrada da delegacia, anunciava a chegada de uma fera e alertava que alguma criatura naquele recinto estava mais encrencada do que aparentava.
— Carlos Eduardo Pinto! O que fizeste desta vez?!
Após quinze minutos do telefonema do delegado, a mãe do Cadú, a Dona Terezinha, chegou à delegacia espumando de raiva. Era a quarta-vez que ela tinha que comparecer ao recinto em menos de um ano. Todos ali já a conheciam e se divertiam, embora de forma contida, com a extravagancia da mulher.
— Eu não fiz nada, mãe! Estes caras que estão loucos!
Cadú sempre utilizava a mesma desculpa, mas no fundo sabia que não enganava ninguém. Da última vez que foi pego, tentou acusar os policiais de colocarem sete caixas repletas de armas contrabandeadas em seu carro.
— Cala a boca, guri! Sei que estás mentindo. Hoje vais aprender o que é bom para tosse!
Dona Terezinha se aproximou do seu filho e deu-lhe um tapa na orelha, a qual ficou instantaneamente rubra. Logo em seguida, ergueu a outra mão para dar outro tapa, mas foi prontamente interrompida pelo delegado.
— Acalma-se, Dona Terezinha. A justiça se faz de outra maneira.
Bufando de raiva, Dona Terezinha se obrigou a concordar e se conteve. Pediu desculpas pela agressividade e quis conversar a sós com seu filho. O delegado, com um certo desconforto, decidiu fazer vista grossa e permitir a conversa.
— O que aprontaste, guri medonho?
— Ah, mãe... os porcos me pegaram com o diamante do museu municipal.
— Com o diamante do museu? Mas o quê?!
— Sim, mãe. Eu entrei na sala dos diamantes da ala leste do museu e roubei o maior diamante que estava lá.
— Mas puta que pariu, Cadú?! Por que fizeste isso?
— Eu queria te dar um presente, mãe. Um presente à tua altura e que conseguisse representar todo o meu amor por ti.
— O quê, meu filho? Isso é verdade?
— Sim, mãe. Eu te amo muito.
— Olha, mas que fofo. Eu também te amo muito. Vem aqui que quero te dar um abraço.
— Perdoas-me?
— Claro! Afinal, eu te amo! Vem aqui, vem!
Cadú se aproximou de sua mãe e estava muito feliz por receber o seu carinho e sua compreensão. Afinal amor de mãe tudo perdoa. No entanto, Dona Terezinha pegou seu filho pelo pescoço num Mata-Leão e sussurrou no seu ouvido.
— Guri otário! A minha altura tinha que ser o diamante da ala norte do museu, o qual é três vezes maior. Além do mais, se queres mostrar amor, faça as coisas bem-feitas.
— Desculpa, mãe. Desculpa! Eu só queria te agradar.
— Tu me agradas não fazendo merda!
— Desculpa. Eu não faço mais isso, mãe!
— Cala a boca e me escuta. Mesmo que mereças ficar aqui para o resto da tua vida, eu vou te safar de mais essa. Sou tua mãe, amo-te e não gosto de ver-te sofrendo.
— Obrigado, mãe. Obrigado! O que devo fazer?
— Nada! Meus homens aparecerão por aqui antes de tu ser transferido para o abrigo para menores e te tirarão dessa.
— Obrigado, mãe! E desculpa-me por ter dado tudo errado.
Cadú estava aliviado. Sabia que sua mãe o perdoaria e o tiraria dessa enrascada. Dona Terezinha era chefe de uma grande quadrilha de tráfico de animais e de pedras preciosas. Era responsável por invadir museus e centros de recuperação de animais para obter seus produtos. Além disso, seus filhos, como ela chamava àqueles que para ela trabalhavam, sempre eram resgatados, mesmo caindo na mão da milícia ou da polícia. Nada que o amor e armas de grande calibre de mãe não resolvesse.