Sabemos muito bem que momento é esse
- e mesmo que você tenha tentado impedi-la,
senhor, ela não pode mais aceitar.
Passada atrás de passada, batuques contínuos
Correndo vai a garota ao encontro de sua mãe,
quem a espera no fim do caminho, sorriso no rosto
o rosto sem desgosto, sem mágoas passadas.
“Você veio”, a velha disse, com a voz aveludada.
A garota assentiu, a garganta estava travada.
Deu-lhe um abraço esmagador, liberando a dor
e o amor, finalmente livre de seus pesadelos.
“Perdão, mãe”, balbuciou a menina em meio as lágrimas.
“Você não tem culpa de nada”, foi o que a mulher respondeu.
Ao longe se via uma figura irada, soltando fogo pelas ventas
e dos poros das vestimentas escorria sua recusa de redenção.
Chamou a menina uma, duas, três vezes; exagerou
nos insultos proferidos contra a mulher ao seu lado,
e chorando pela perda da filha para o “obscuro”,
ajoelhou-se no piso escuro, pedindo a seu Deus misericórdia.
Mãe e filha se entreolharam, e a garota suspirou,
pois o aperto no peito era tamanho, tamanho alívio
que sentia, a moça a qual agora sorria,
e dizia à mulher o quanto estava feliz em revê-la.
“Ficamos separadas tempo demais”, disse a velha,
“Vamos seguir o caminho?”, pediu a moça.
Passada atrás de passada, batuques contínuos,
seguiam as duas mulheres seu caminho para o limbo.
Sabemos bem que momento é esse
- e mesmo que venha a dizer o contrário,
senhor,
amor de mãe é impossível de acabar.