Uma... Pessoa resolve passear
Sem rumo certo a tomar
De incomum, nada se nota
(Por fora... Por fora.)
Discrição natural, inconsciente
Caminha (definha) lentamente
Uma vez entre a multidão,
Sente desejo de mutilação:
O anseio da destruição
Formiga-lhe o coração.
Olha para todas aquelas pessoas
E imagina o vermelho em suas roupas
Surgindo, tingindo, se esvaindo
Tudo ficando tão rubro... Tão lindo...
O casal de garotos abraçados?
Ainda unidos, mesmo aos pedaços.
Mesmo a criança que passa?
Inocência esparramada na calçada.
E quanto ao senhor de idade?
Sabedoria também se reparte.
Até aquele cão vira-lata?
Do avesso, vira arte abstrata.
Tudo e todos, sem assombro?
Tons escarlates combinam com escombros.
Segue, prossegue, não consegue
Fazer que o monstro interno sossegue
Apenas o esconde e acorrenta
Mas em seu íntimo, ainda o alimenta
Ouvindo o misto de bramidos,
Sussurros, ofensas e pedidos
Da Besta-Fera que luta e implora
Por uma chance de ir para fora...
Quem fitasse seu olhar um pouco
Nunca veria as íris de um "louco"
Apenas um nivel perigoso de tédio
Que dos anseios aumentava o assédio
Enquanto caminha por entre os outros
A quem já nem consegue enxergar-lhes o rosto;
Manequins que respiram, se movem
E (na sua mente, nas suas mãos) morrem.
Se conformando (deformando) com a realidade,
Continua o percurso pelas ruas da cidade
Até que, ao dobrar uma esquina qualquer
Eis que depara com uma mulher
As pupilas dilatam, o coração acelera:
Os olhos dela... Sim, os enxerga!
São de um castanho profundo como o Abismo
O marasmo dele próprio neles repetido
Ambos estacam, cada qual em seu lugar,
Sentindo o monstro de um ao outro notar
A passagem do tempo parece suspensa...
Distância, surpresa, silêncio, certeza:
Embora tal fato não seja proposital,
Estavam diante de um (de algo) igual.
No firmamento, se põe o astro-rei
No lábios, uníssono: "FINALMENTE TE ENCONTREI..."
Cada um saca duas armas e aponta
Gritos, correria; o caos se agiganta
Quando, à revelia e sem hesitação
Atiram nas pessoas que obstruem a reunião
Cabeças estouram, vidraças estilhaçam
Corpos se retorcem, armamento fumaça
Um carro explode, o bar incendeia
Cada bala que zune, a Morte norteia
É uma verdadeira orgia de matança
Sem aviso, nem plano ou qualquer vingança
O céu e o ar ganham um tom carmesim
Conforme o dia (a vida) chega ao fim
Ambos mantém a indescritível defrontação
Acertando os alvos por pura inspiração
Quietude assassina reina ao redor
Munição findando: sabiam de cor
Se aproximam (incrédulos) um pouco:
Possuem as mesmas armas de fogo!
Sentem algo estranho com a proximidade
Impressionados com tamanha familiaridade
Os cães são puxados, as mãos não tremem
Nem perante o longínquo som das sirenes.
Se fitam atentamente por um momento,
Tomados por algo. Seria um sentimento?
Se for, qual é? Não sabem explicar.
E o vácuo, o asco, a apatia? Não há.
Não naqueles segundos ínfimos
Em que, se sentindo tão íntimos,
Sabem muito bem o que fazer
Mesmo sem uma única palavra dizer
Um par de gargalhadas é tudo que ecoa
Antes que cada um dos gatilhos se mova
Tudo fica como que em câmera lenta
Quando em seus corpos a salva entra
Uns poucos dirão que ouviram estampidos
Todavia, o que eles escutam sãos furiosos rugidos
Monstros à solta, todo grilhão se quebra;
Com brutal extermínio, o cativeiro se encerra
E então, cada qual com um sorriso aterrador
Mata e morre, sem culpa nem dor
Murmurando em seu suspiro sangrento
Somente um adeus e um agradecimento.
Se pudessem ver seus cadáveres também,
Concordariam como o vermelho lhes caíra bem...