A coroa que ela nunca quis
Lullaby
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 10/05/16 17:32
Gênero(s): Reflexivo Romântico
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 7
Comentários: 4
Total de Visualizações: 954
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 475
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

HIstória também publicada no Spirit.

Espero que gostem, é um dos textos que mais gostei de escrever :)

Capítulo Único A coroa que ela nunca quis

Puseste-me uma coroa demasiado grande na cabeça. Demasiado pesada, demasiado fria, demasiado escura, demasiado para mim.

É uma coroa de ferro negro e eu não lhe vejo beleza ou utilidade alguma. Se fosse de ouro, eu podia embeber-me de vaidade e suportar-lhe o peso, e ela podia contrastar com o castanho dos meus cabelos e realçar as nuances douradas que oscilam nos meus olhos.

Sendo preta, parece carcomer a luminosidade das minhas íris, e roubar a cor à minha tez. Assemelho-me a um fantasma de amarguras e não a uma mulher cuja grinalda de metal deveria conferir um ar régio.

Tu foste o cavaleiro que me aprisionou. Aquele que eu sonhei que me daria rosas, que me cantaria canções, que me escreveria poemas. O qual eu fantasiei que me cortejaria de maneira galante e contínua até conseguir, como prémio pela sua persistência e dedicação, a minha pessoa e o meu coração.

Eu nunca quis uma coroa — só uma de flores, feita pelas tuas mãos.

Agora estou cercada por um castelo de angústias do qual sou soberana dos teus e dos meus pesadelos. Antigamente era rainha de mim própria e dos meus risos, e hoje já não tenho risos para governar.

Onde está o amor que me prometeste em silêncio? Onde se escondem os risos que pensei que partilharia contigo? As nossas conversas e sonhos confessados à luz da lua, o beijo de bons dias que me deverias dar e não que eu te deveria roubar pela manhã, responde-me, onde está tudo isso?

Eu nunca quis um castelo — muito menos um de angústias —, viveria feliz no teu abraço.

Antes era amada por todos e por ninguém. Envergava vestidos de cor clara, para parecer inocente, e colocava flores na trança que fazia no cabelo. Inclinava-me na varanda, com os cotovelos delicadamente pousados na trave de pedra, e distribuía risos e sorrisos a quem passasse pela minha rua e os quisesse.

Os homens exibiam-se, montados na garupa de cavalos brancos, e acenavam-me com panos brancos. As mulheres trocavam tesouros comigo, como se fossemos velhas amigas; um colar por um xaile rendado, uma cesta de romãs por um pente de ébano. As crianças ofertavam-me flores para prender no cabelo.

E então apareceste tu, brilhante, montado num cavalo, com promessas que nunca verbalizaste, mas que eu julgava que cumpririas. Levaste-me para longe de tudo e, quando demos por nós, estávamos rodeados de muralhas. Assusta-me saber se estás dentro ou fora delas.

Eu nunca quis ser rainha — apenas uma mulher apaixonada, detentora dos teus afetos e coração.

Então, deita isto tudo abaixo. Por favor. Eu abdico da coroa que nunca quis, mas que não neguei. Queima o castelo, derruba as muralhas, permite que o sol entre na janela do nosso quarto e tenta esquecer a dor, mágoa, rancor e ciúme que te manchou.

Tenta esquecer isso, ou então, esquece-me a mim.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigada por terem lido :)

Apreciadores (7)
Comentários (4)
Postado 10/05/16 18:12

YAS FINALLY! EU NÃO QUERIA POSTAR O MEU P.O.V ANTES DE POSTARES O TEU (8

Postado 10/05/16 19:58

POSTA POSTA <3

Postado 11/05/16 13:42

Tinha feito um lindo comentário, me esforçado, mas ele simplesmente sumiu. Mas a minha paixão por essa obra tão bem escrita e maravilhosa continua aqui. Parabéns <3

Postado 11/05/16 14:52

Man, eu sei bem o que é escrevermos um comentário todo lindo e grande e ele desaparecer, quer seja por causa da má conecção da internet ou outra coisa qualquer D: é uma chatisse.

Obrigada, obrigada <3

Postado 11/05/16 16:27

Essas tugas... Tsc tsc.

Excelente conto! :O

Postado 16/10/22 10:17

Meu Deus que tristeza...

Mas eu adorei <3