A troca
Mari Freitas
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/05/16 22:24
Editado: 09/05/16 10:00
Gênero(s): Drama Mistério
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 4
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Palavras: 564
Este texto foi escrito para o concurso "Rei do Mundo" No Concurso de Contos Oficial da Academia de Contos – Rei do Mundo, o autor terá chance de escrever e publicar um conto que narre alguma situação em que o sentimento de superioridade, de Rei do Mundo, se aflore e se prolifere. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de doze anos
Capítulo Único A troca

A lua brilhava com um fulgor diferente vista daquele ângulo da sua sacada, pensava ele bebericando seu drink solitariamente. Sorriu satisfeito, ao lembrar que, alguns segundos apenas o separava do cheiro adoçicado do perfume que sentiria ao ver sua bela acompanhante chegar. Como previra, a campainha tocou e lhe foi anunciada a chegada da beldade que o acompanharia ao baile oferecido por ele naquela noite. Sorrateiramente olhou para o espelho que cobria toda a entrada de sua sala, onde naquele exato instante a figura de uma morena, vestida e adornada com presentes ofertados por ele, momentos antes, dava entrada no recinto. Virou-se com seu sorriso peculiar estampado no rosto, e foi, gentilmente abraça-la oferecendo seu beijo para aqueles lábios carnudos da jovem. Sentia-se ofegante devido ao álcool já ingerido, mas conteve-se antes que ela percebesse seu instinto quase animal, que o fazia querer arrancar suas vestes deixando-a nua antes mesmo da festa começar. Era quase impossível não se deixar levar pelo encanto e beleza natural que existia na face da jovem que estava a sua frente se oferecendo como uma mariposa à luz de um holofote. Sim, ele era o holofote. Desviou o pensamento libidinoso que o açoitava, e simplesmente afagou as madeixas cor de ocre daquela que seria sua acompanhante para aquela noite. Para seu momento de glória. Pensando agora com mais sensatez, percebeu que a hora já estava avançada, e que precisavam ir. Pediu delicadamente a jovem, que o acompanhasse enlaçando seu corpo juvenil num abraço mais que apertado, a encaminhando à porta de saída, sem mais nenhum enlevo. O momento se aproximava, e ele não queria que nada fosse além do que tinha planejado. Naquela noite, todos poderiam desfrutar do que ele fez com as indústrias de jóias raras que o pai deixara na falência. Ele, o filho bastardo e reprimido por anos. Afastado para um local ermo, longe da família, longe de tudo. Amaldiçoado pelos servos de Deus, pela casta, por todos enfim. O momento de mostrar seu valor, era agora. Ele seria o rei, o que salvou várias famílias que dependiam do emprego fornecido pela fábrica ameaçada de fechar antes dele chegar ao vilarejo após a fatidica e misteriosa morte de seu pai. Uma morte que evidenciava a incapacidade total de seu genitor nos revezes, fazendo com que toda a investigação levasse ao suicídio e não a um possível homicídio. Seu retorno mostrou que era capaz de transformar o império falido na potência que hoje pagava aquele banquete para todos que duvidavam de seu potencial gestor. Ele, que resgatou o nome Da Veccio da ruína. Todos que o ignoraram por anos, teriam que abaixar a cabeça para sua soberania. Enfim, descendo para ser saudado naquele salão, seu peito arfou de prazer ao adentrar acompanhado da linda filha do pastor, que por certo, estaria, naquele instante, segurando em suas mão uma quantia generosamente doada para sua igreja. Imaginou-o calado, orando para que os seus fiéis não soubessem da troca asquerosa que fizera, colocando sua úncia filha como oferta. Orgulhoso de si, cumprimentou a todos, sentindo-se o dono do mundo naquele instante, calando na boca de todos, os impropérios que um dia escutou, por ser o filho bastardo do benfeitor da cidade. Mas hoje, hoje ele estava ali, soberanamente cuspindo em cada um, com seu sorriso e com sua pequena compra de olhos amendoados, cabelos cor de ocre e coração apaixonado.

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