Quebra-cabeça
Yvi
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 03/05/16 16:36
Editado: 17/04/21 13:02
Gênero(s): Drabble
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 37seg a 50seg
Apreciadores: 12
Comentários: 5
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Usuários que Visualizaram: 18
Palavras: 100
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Capítulo Único Quebra-cabeça

Aquilo que foi quebrado será agora consertado. João misturava as partes, para depois montá-las como em um quebra-cabeça. Isolado em seu frio e escuro porão, dia após dia ele reconstruiria seu tão grandioso sonho. Agulhas, linhas e partes quebradas de velhos brinquedos desprezados.

Uma vez consertado, já está pronto para ser apresentado. Seu porão, agora iluminado pelas fortes luzes das lanternas, despertava uma multidão. Todos desejavam conferir a belíssima obra de arte feita de partes humanas costuradas e remendadas.

No meio do salão, estava João, segurando uma pequena placa em sua falecida mão. “Fomos construídos a partir de partes quebradas.”

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Comentários (5)
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Postado 30/05/16 20:58

O que dizer? Poucas palavras mas uma intensidade muito grande. Há várias interpretações ante ao texto, e se você deixar alguns dias se passarem para reler, verá que o significado sempre mudará. Eu senti isso. Eu vi tudo mudar e se encaixar novamente, como um quebra-cabeça que almeja ser desvendado.

A primeira vez que li o texto quando você me mandou no wpp, a sensação não era de um texto macabro, não. Você deve ler além das palavras, descobrir o jogo que há por detrás de cada frase. Ao ler que as partes são humanas, logo dá-se uma sensação de horror. Mas talvez não.

Para mim, João apenas reconstruiu sonhos quebrados de pessoas que não poderão mais concretizá-los. Ele teve seu sonho quebrado, destroçado, arrancado, mas ele ainda poderia fazer algo com os sonhos alheios. Ainda poderia concertar, remendar, e formar um novo sonho. Ele ainda tinha esse direito.

"Agulhas, linhas e partes quebradas de velhos brinquedos desprezados." E lendo essa parte novamente, a sensação de tristeza veio à tona. João não é um vilão, como aparenta ser, muito menos um psicopata. Esses mesmos "velhos brinquedos desprezados" não passam de pessoas que tiveram uma vida tão infeliz como outrora ele teve.

Ele queria dar um sentido a mais. Queria fazer brilhar novamente, mostrar que, se algo for quebrado, com esforço, dedicação e carinho, ele pode ser concertado.

Todos nós somos feitos de partes quebradas. Lembranças boas e ruins, acontecimentos marcantes, pessoas que deixaram um vazio... Nós somos meros brinquedos quebrados nas mãos do destino, esperando por alguém que nos remende, nos concerte. Que nos enxergue.

Talvez por isso ele esteja com a "mão falecida". Ele sabe o que é ser quebrado.

Pelo menos, foi essa a ideia que me veio a mente.

Brilhante como sempre ♡

Postado 01/06/16 15:35

O que dizer? Eu ainda não aprendi totalmente a lidar com esses seus comentários divinamente divos.

Sim, o João nunca foi um cruel vilão (das histórias da Globo #corre) Ele é só mais um, igual a tanto outros, que foi sendo quebrado ao longo dessa vida estranha e quase sem sentido.

Eu não lembro mais qual foi a teoria que eu usei para esse texto, mas creio que seja algo pelo menos caminho que você foi, Pãoderosa.

Muito obrigada! *3*

Postado 08/05/16 21:20

Quão belo e grotesco é este conto, que inicialmente parecia tão bondoso, tão inocente. Ouso dizer... Nobre.

Todavia, do meio para o fim, eis que a psicopatia adorável da autora macula de forma irreversível e muito bem-vinda toda a história, brindando o leitor com um clímax sinistro e perfeito. Bravo, Srta Flávia! Bravíssimo!

Atenciosamente,

Alguém que despedaçou a cabeça há tempos e nunca mais conseguiu remendar a mente outra vez, Diablair.

Postado 09/05/16 15:30

Obrigada, Diab!

Pede pro joão remendar ela... kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Mentira, pede não! Tá bom do jeito que você tá! u_u

Postado 10/05/16 20:33

Simples e dark ao mesmo tempo... mto bom em sua sucinticidade (isso existe?)

Só... er... como vou dizer... conSerto é o ato de de arrumar algo, e conCerto é... bem... seria o ato de realizar uma audição de um grupo de músicos... fora isso... mto bom

Postado 11/05/16 15:51

Obrigada! (E eu que vou saber?)

Ops! Isso me passou despercebido! *indo arrumar*

Postado 03/07/16 21:59

Legal, diferente, muito bem escrito e aguniante. Junto as palavras com a cena imaginada e me pergunto se reflito ou se aparto tal pensamento.

Postado 04/07/16 00:32

Não faça nenhum dos dois, apenas aprecie a vista! :)

Postado 20/07/16 20:54

Ouvindo a voz da sabedoria, de quem já é acostumada a fazer isso....

Postado 29/12/17 18:13

Que obra extraordinária. É deveras impressionante como tu consegue transformar a inocência em algo mórbido e mortal; quase inumano.

Parabéns pela obra, Flavinha ❤

Postado 31/12/17 00:00

<3 Obrigada!