O moreno estava sentado na cama totalmente desarrumada. Os olhos totalmente pretos e vagos encaravam o quadro com o retrato de dois garotos vestidos com roupas de militar. Era ele e Aryan, seu irmão mais novo. Apesar de serem irmãos, eram completamente diferentes um do outro. Aryan, apesar de ser o mais novo, tinha ideias mais fortes e mais violentas que Khan, que de todas as formas preferia manter a calma e a sutileza.
Aryan gostava de guerra, Khan de paz. Aryan gostava de dominar, Khan de ser dominado. E mesmo que fossem completamente diferentes, eram irmãos e se amavam. Como era lei, eles se alistaram no exército e tinham que servir durante pelo menos três anos. Khan só pensava em completar logo os três anos e sair desse mundo violento. Já Aryan se deliciava com cada lição que aprendia. Durante esses anos muita coisa mudou. Eles foram escolhidos para fazerem parte de um programa a qual treinavam e testavam a mente dos militares utilizando o medo, a violência e o trauma, a fim de deixa-los mais fortes e resistentes ao inimigo. Todos os escolhidos passaram nas primeiras etapas, mas depois a situação começou a piorar.
Os testes criaram em alguns pacientes, tipos de psicoses. Aryan foi um dos afetados. Num dos testes, Aryan matou seu parceiro e quase matou Khan. Quando o entrevistaram, ele disse que não se arrependia de nada. Depois de muito sofrimento e tortura, mandaram Khan para casa e Aryan sumiu, provavelmente continuou fazendo os testes. Afinal de contas, despejaram Khan porque ele não tinha “sangue frio”, não era apto para matar, não era apto para servir, não era apto para destruir. Não servia para nada, era apenas um louco com ressentimentos.
Todas as noites Khan sonhava com o irmão. Era sempre a mesma cena, Aryan segurando a arma em mãos e apontando para ele.
Num dia chuvoso, Khan recebeu uma carta avisando que seu irmão tinha fugido do exército após ter executado um batalhão médio (cerca de 260 militares) e que se porventura entrasse em contato com ele, era para chamar os oficiais. Khan enlouqueceu, mais do que já estava e deixou carregada uma arma que seria sua defesa.
Nessa mesma noite, Aryan visitou Khan e tentou o matar, mas foi ferido por Khan no peito. Khan ficou em estado de choque e abraçou o corpo já sem vida do irmão.
Depois, ligou para a polícia e o caso foi levado aos oficiais. Khan foi levado para um manicômio e o corpo de Aryan foi enterrado ao lado do corpo da mãe deles.
Todas as noites Khan ouvia risos e gritos vindos da sua própria mente. Estava cada vez mais louco e implorava a cada manhã para que alguém terminasse esse sofrimento. Até que um dia, ele mesmo fez com que esse sofrimento acabasse e a única coisa que restou foi um pequeno pedaço do que poderia ser amor.