E lá estava ela, sem vestido, sem carruagem, sem nada novamente. Pobre Cinderela, nada era o que tinha, sentia-se miserável. O que o pai pensaria se a visse assim? Se soubesse que seus amigos não passavam de, literalmente, ratos?
Seja gentil Cinderela. Sorria Cinderela. Pobre Cinderela. Pobre e trouxa Cinderela. Até quando sentiria pena de si mesma? Quando tomaria coragem para fazer algo?
Deixou que as lágrimas viessem e observava seu reflexo sobre a pequena fonte de água. Os soluços romperam entre as lágrimas, sentia-se miserável como jamais havia se sentido antes, seu coração doía profundamente, sentia-se impotente.
Ao observar seu reflexo novamente percebeu que seu rosto estava levemente inchado e seu nariz e bochechas estavam levemente vermelhos. Observou as lágrimas caírem e quando percebeu a água começou a brilhar, um brilho azul.
A fonte começou a tremer e a loira se afastou perplexa. Uma névoa formou-se acima da fonte, e dela alguém despencou, caindo com a bunda de encontro à água.
— AI DROGA! — gritou o ser quando se viu na água fria da fonte.
— Meu Deus! Você está bem? — Cinderela correu para ajudar a criaturinha molhada.
— Não precisa to bem. — disse a criaturinha se levantando — Odeio quando isso acontece, eu devia parar de tentar fazer entradas triunfais. — comentou a criaturinha, revelando-se ser uma menina.
Ela balançou o dedo indicador formando um “oito deitado” e disse as seguintes palavras:
— Bibidi Bóbidi Bu! — E em um piscar de olhos estava seca novamente.
Cinderela encontrava-se paralisada, observando a curiosa criaturinha de cabelos azuis. A mesma era baixinha, seus olhos eram negros e graciosos, a única coisa que parecia ser graciosa nela. Seus cabelos azuis eram curtos e levemente ondulados, mas não ao ponto de formarem cachos, eram um tanto armados, o que lhe dava uma aparência infantil.
Usava uma roupa um tanto incomum, uma calça jeans preta rasgada no joelho, uma blusa branca, botas marrons e uma jaqueta laranja neon, que brilhava na escuridão da noite. Cinderela também reparou que ela tinha orelhas um pouco pontudas.
Milhares de pensamentos e perguntas vieram à cabeça da loira, mas a única coisa que conseguiu dizer foi:
— Quem fala isso não é a fada azul?
— É, ela copiou isso de mim. Uma dica loirinha: não conte segredos para ela. Enfim, Ceci ao seu dispor! — respondeu a menor.
— Você por acaso é um duende? — perguntou Cinderela curiosa.
— Não droga! Você é a terceira pessoa a me falar isso essa semana, e estamos em uma terça! Duendes são verdes! — respondeu Ceci, claramente frustrada.
— Mas e as orelhas? — perguntou a loira confusa.
— Eu sou metade elfa!
— Mas você não é jovem demais para trabalhar? Eu não sabia que elfos crianças trabalhavam... — questionou Cinderela novamente.
—Eu tenho quase 17 anos! — Ceci já estava ficando irritada, percebendo isso a loira tentou se desculpar.
– Desculpa...hum...
— Ceci! CE-CI! — repetiu a elfa pausadamente, no limite de sua paciência.
— Ah sim, desculpe Ceci. — Cinderela abaixou a cabeça arrependida.
— Tá, só me lembre de nunca mais substituir a Fada Azul. — falou Ceci revirando os olhos. — Enfim, por que chorava loirinha? — perguntou mudando de assunto.
— Ah... É que tem esse baile, e o príncipe... — Cinderela acabou se enrolando com as palavras e Ceci percebeu que seu rosto tinha ficado levemente corado ao mencionar o príncipe, logo um sorriso malicioso se formou nos lábios da elfa.
— Ah, entendi tudo. — ela cruzou os braços. — O lindo, maravilhoso, cheiroso e perfeito príncipe, sonho de consumo de toda garota. — Ceci soltou um suspiro, claramente falso, porém mesmo assim havia algo nesse suspiro que incomodou a loira, como se a elfa estivesse debochando de seus sentimentos. — Até eu adoraria ter uma dança com ele... —ela piscou para a loira e deu um sorriso de cumplicidade.
— Não gosto desse sorriso... — murmurou Cinderela.
— Vou te ajudar com o boymagia loirinha! — concluiu Ceci. — O que quer que eu faça? — perguntou, e em um estralar de dedos estava ao lado da loira.
— M-mas...
— Aliás, qual seu nome? — Interrompeu Ceci.
— Cinderela.
— Ótimo loirinha! Me diga o que quer.
— Bom... Primeiro vou precisar de um vestido. — disse a loira pensativa.
— Com esses trapos você não passa nem do jardim. — comentou Ceci olhando o vestido desbotado de Cinderela.
— Olha quem fala... — murmurou a loira em um tom inaudível.
— Seus olhos são lindos, o que acha de um vestido azul?
— Claro. — concordou.
E novamente Ceci murmurou aquelas palavras “Bibidi Bóbidi Bu” e fez o mesmo gesto, o vestido de Cinderela começou a brilhar, e antes que pudesse imaginar estava com um lindo vestido de baile azul.
A loira estava surpresa e maravilhada.
— Precisamos de uma carruagem — pensou a elfa.
— Você pode transformar a carroça — sugeriu a loira.
— Nem! Isso é pensamento comum, precisamos ser originais, como espera conquistar o príncipe sendo igual às outras? — Ceci arqueou as sobrancelhas.
A pequena elfa olhou em volta e parou seu olhar sobre uma das abóboras no jardim, logo mencionou as palavras mágicas e a abóbora transformou-se em uma linda e elegante carruagem.
— Nunca pensei que um dia abóbora me seria útil...
— Isso é incrível! — disse Cinderela boquiaberta — não sabia que elfos faziam magia. — comentou a loira.
— Não fazem, usamos encantamentos. Mas como eu disse sou metade elfa, mas também sou metade fada — explicou. — Mudando de assunto, e esses chinelos? — Cinderela olhou para baixo envergonhada.
— Poderia me fazer sapatilhas? — perguntou a loira.
— Sapatilhas? – disse a elfa sarcástica — Olha para mim e vê se tenho cara de quem faz sapatilhas. — a loira preferiu não responder. — Me diz algo que goste.
— Como?
— Diamante, rubis, esmeraldas...
— Que tal cristais? — sugeriu.
— Meio simples, mas vai servir. — concluiu Ceci — Bibidi Bóbidi Bu!
Dito isso chinelos se transformaram em lindos e elegantes sapatinhos de cristais. Ceci se empolgou, e logo já estava transformando cerejas em brincos igualmente de cristais, fez um penteado elegante na loira e transformou os pobre ratinhos em cavalos para puxar a carruagem e um cocheiro.
— EU SOU OU NÃO SOU DEMAIS? — disse Ceci orgulhosa de si mesma.
— I isso é incrível! — disse a loira impressionada.
— Eu sei, eu sei. — a elfa fez uma reverência como se agradecesse aos aplausos de uma plateia.
— Muito obrigada Ceci! — disse Cinderela abraçando a pequena elfa, que imediatamente se sentiu desconfortável.
— Ta, sobe na carruagem e vai pegar seu homem! — disse Ceci apontando para a carruagem.
—Não sei como te agradecer. — disse Cinderela subindo na carruagem.
— Eu sei — novamente aquele sorriso malicioso — Aperte a bunda do príncipe por mim. — e piscou para a loira.
— Não! — disse Cinderela corada.
— Tá bom, mas cuidado, volte antes da meia-noite. — disse Ceci, agora séria.
— Por quê? — perguntou Cinderela.
— Sua madrasta volta mais ou menos essa hora. E também é o prazo para minha magia.
— Magia tem prazo?
— A minha tem... — respondeu Ceci com um pouco de rancor na voz.
—Certo. — estranhou a loira.
— Divirta-se loirinha! — sorriu Ceci, recebendo outro sorriso de volta.
— Eu vou! — afirmou a loira piscando.
Ceci fechou a porta e acenou para o cocheiro, e então a carruagem partiu em direção ao palácio. A elfa havia dado o impulso, o resto dependia da loirinha. O dia finalmente havia acabado, Ceci estava exausta, para alguém como ela ajudar era um verdadeiro desafio, mas ao final do dia valia à pena. Tinha que valer.