Nesta noite tão longa e fria
Refletia sobre o rumo das coisas
Debaixo de toda aquela chuva
Virando mente e coração do avesso
Tentando encontrar uma saída
Para uma existência tão escrota
Sentindo a realidade nua e crua
Bem mais fodida do que no começo
Foi muito tempo desperdiçado
Tantas e homéricas cagadas
Uma bela coleção de desilusões
E uma série de chances tolhidas.
Sentia que havia se perdido
No meio de inúmeras falhas
Carregando o ônus das decisões
Que agora se provavam mal escolhidas.
E o pior de tudo aquilo
Era ter que assumir a culpa
E também a responsabilidade:
Eram suas e de mais ninguém.
Fora a dor do arrependimento tardio,
A consciência de não ter desculpas,
E a vergonha ao encarar a verdade...
Tudo em doses cavalares que consomem
O escárnio de paz que consegue
Quando de alguma forma se distrai
E dribla toda a angústia que vicejou
Como uma erva daninha farpada
No cerne de uma alma que prossegue
Se despedaçando cada vez mais
No abismo em que há tempos adentrou
Em uma queda livre e inacabada.
E sem luz alguma no fim,
Apenas a escuridão que lhe engolia
Dragando-lhe para o leito desconhecido
De um fututo incerto em um mundo inóspito.
Então restava apenas seguir assim,
(Sobre)vivendo dia após dia,
Questionando se valeu a pena ter nascido
E se toda a merda seria limpa no óbito...