Ei, moço, o que há de tão errado
Em tentar ser feliz?
Por que eu preciso ser espancado e violado
Por buscar o que sempre quis?
Por favor, me dê uma explicação.
Qual o sentido de ensinar uma menina
Que desde o princípio
O seu lugar é na cozinha?
Por que não deixá-la jogar o futebol,
Brincar com carrinhos e se sujar na lama?
Pra que tirar a sua liberdade
Por rótulos que a sociedade proclama?
Por que induzir um menino a acreditar
Que brincar de boneca é indevido?
Por que fazê-lo rotular o uso do rosa
Como um ego masculino desprovido?
Por favor, me dê uma explicação.
Por que ensinar inconscientemente
Que uma menina deve ser do lar
Enquanto o menino sai pra trabalhar?
Ei, moço, o que há de tão errado
Em ser quem eu sou?
Por que eu preciso ser xingado e maltratado
Por não deixar a sociedade me impor?
Eu não tenho culpa das pessoas
Serem tão cruéis e desumanos,
E não se conformarem
Com as escolhas diferentes
De outro ser humano.
Entretanto, ninguém nasce odiando,
Se cresce sendo influenciado indiretamente
Que ser mulher é sinônimo de fragilidade,
Fixando-se na própria mente
Que parecer mulher é um xingamento
De ambiguidade.
Ei, moço, o que há de tão errado
Em amar outro garoto?
Por que eu preciso ser reprimido e quebrado
Como se fosse uma aberração do capiroto?
Eu apenas queria ser livre para amar,
Poder abraçar e viver o meu amor.
Mas nessa sociedade preconceituosa e imatura
Não se pode ser diferente deles
Sem sair ileso e com alguma dor.