Madrugada.
Silêncio.
Imerso em si mesmo,
Concentrado na sensação
De que nada tinha importância
Ou mesmo sentido
Exceto as por ele concedidos,
Tentava encontrar outra forma
De pensar
De sentir:
Viu que era tolice.
Abrindo os olhos,
Observou ao redor
Transcendendo os limites
Tanto do tempo quanto do espaço
Através da memória,
Do conhecimento
E da imaginação.
Observou o mundo como um todo
Ponderando sobre as civilizações
Desde o começo
Até os dias de hoje.
Refez seus questionamentos:
Certeza intensificada
Da falta de nexo,
De propósito
Daquilo.
Ergueu o olhar
Fitando o firmamento
A vastidão longuínqua
A escuridão poluída
Que em tese deveria fascinar
Mas cuja extensão infinita
Arremetia ao infindável vazio.
Haveria justificativas ali?
Acima? Não.
Foi-se a época
Em que perdia seu tempo
Elevando a voz
A mente
O coração
A alma para o Céu
Em busca de respostas
Que nunca teria
Pois se houvesse algo
Olhando de volta,
Se limitava àquilo:
Olhar.
Só lhe restava uma direção:
Para baixo.
O chão duro e cinzento
Outrora terra e grama
O símbolo silencioso
Da única certeza da Vida:
A derradeira sentença...
Inquestionável.
Invariável.
Implacável.
Suas dúvidas
Sua busca
Sua angústia
Tudo se encerraria lá:
Sete palmos sob o solo
Envolto em madeira,
Trevas e silêncio.
Que assim fosse.
Até porque... Um dia seria.
Como é e será para todos.