Os olhos turquesa estavam fixos no rosto da garota a sua frente. Seu sorriso enchia-lhe o peito com um calor que ele não conseguia explicar. Sua energia e felicidade deixavam-no, estranhamente, com um sentimento que apenas ela tinha a capacidade de proporcionar-lhe. Piscou duas vezes e sorriu. Estava feliz. Estava muito feliz. E muito triste ao mesmo tempo. Fechou os olhos e suspirou, levantando-se e indo até a janela da cozinha da casa dela.
Lembrou-se que ele não era o motivo da felicidade dela. Aquilo o irritava, e muito. Afinal, outro cara estava fazendo Julliet, a sua garota, sentir todo aquele turbilhão de sentimentos. E não, não era inveja. Até poderia ser, contudo ele estava com ódio por saber que o rapaz que ela dizia ser espetacular era, na verdade, um cafajeste.
Dizer ou não dizer? O que faço...?
Bryan engoliu em seco. Não queria estragar aquele sorriso perfeito de Jully, tampouco fazê-la chorar. Trincou os dentes e sentiu vontade de gritar o mais alto possível, até suas cordas vocais estourarem.
— Floquinho de neve...? Aconteceu algo? — A garota questionou com a voz baixa.
Ele, então, notou que parte da felicidade dela havia se esvaído. E teve a certeza que suas atitudes causaram isso. Fechando as mãos com força, odiou-se.
Maldição! Além de um covarde, encho a Julliet de preocupação...! O que eu faço...?
O coração do rapaz estava a mil. Uma hora ou outra, a garota iria sofrer. E muito. No fim de contas, ela era muito sensível. Tão sensível quanto uma flor de pêssego.
— Ah, não é nada, Jully. Não se preocupe. — Ele virou-se e deu de cara com a garota o observando de perto. Sem notar, seu rosto ruborizou-se um pouco. — Ahn.. Julliet, eu tenho que ir. Tenho que estudar para as provas. Felicidades com o Henry.
Sem esperar respostas, o garoto correu para fora da casa dela. Seu coração apertava-se com tanta força que, por um instante, ele perdeu a respiração. Ouviu a voz suave dela o chamando, porém ignorou. Correu para o mais longe que conseguiu, sem sequer ter noção de onde seus pés o levavam.
Parou, por fim, em uma praça. O sol se punha lentamente; o céu começava a colorir-se de alaranjado e logo um degrade formar-se-ia, puxando pro roxo até chegar, finalmente, na escuridão da noite.
— Droga! — Bryan gritou, socando uma árvore e pouco se importando com a dor que sentira. — Maldito Henry! Filho de uma...
— Ei, Redwood! — Chamou-lhe uma voz repleta de sarcasmo.
Só me faltava essa.
O garoto não olhou em direção ao voz que o chamava. Seu corpo tremia violentamente, banhado em adrenalina e ódio. A qualquer instante ele poderia perder o controle e acabar agredindo quem quer que estivesse em seu caminho.
— O que você quer, Caleb? — Perguntou, virando-se e encarando o rapaz a sua frente, cerca de uns dois metros de distância.
Rindo debochadamente, Caleb olhou para o outro. Seu riso o deixava completamente irritado, como um dia cheio de trabalhos infinitos. Tentou respirar fundo e deu meia volta, decidindo não perder mais tempo com o amigo-irmão de Henry. Sabia que não resultaria em nada bom.
Contudo, o dito cujo estava decidido a irritá-lo.
— Sabe quem eu vi ontem dando uns “pega” na sua garota? Isso mesmo, cara. Você sabe de quem eu ‘tô falando. E sabe, também, que ele não dá a mínima para ela. Não é? Ah, bobeira minha. Claro que sabe! — Caleb continuava a rir, atentando Bryan. Estava mexendo bem na ferida do loiro. E ele gostava disso.
A ira de Bryan apenas crescia cada vez mais. Suas mãos estavam fechadas em punhos e ele tremia. Tentava, em vão, permanecer calmo e apenas continuar a andar. Sem sucesso.
— Sabe o quão cômico vai ser quando Henry tirar a virgindade dessa vadiazinha? — Comentou e olhou para Bryan, sorrindo maliciosamente. — E eu irei participar dessa festinha, com certeza!
Sangue escorreu até a calçada. O grito de um garoto ecoou pela rua e algumas lágrimas misturaram-se ao líquido escarlate. Cambaleando para trás, Caleb caiu sentado. As mãos do rapaz estava pressionando seu nariz, recentemente quebrado pelo soco que recebera de Bryan.
O loiro, por sua vez, estava ofegante e mantinha a respiração curta e bem rápida. A mão que usara para socar o outro estava um pouco manchada de sangue. Então, retomando a postura, olhou, de forma superior, para Caleb.
— Não ouse tocar nela. Você não faz ideia do que sou capaz de fazer. — Disse entredentes. Ainda mantinha as mãos cerradas em punhos. — Avise para seu amiguinho Henry que, custe o que custar, eu vou transformar a vida dele num inferno. Quer dizer, não só a dele.
Então, sorriu para o garoto que ainda estava no chão. Estranhamente, sentia-se diferente. Mesmo repleto de ira, nunca havia usado violência para resolver as coisas. Virando-se e voltando a caminhar, Bryan piscou. Parecia ter saído de um transe.
O que houve comigo?
Engoliu em seco e correu para sua casa. Ele precisava ficar só e mergulhar-se em seus pensamentos.