Os dedos, ágeis e alongados, deslizavam pelas teclas do majestoso piano de cauda médio tão branco quanto a neve. Seus olhos estavam fechados e a cabeça movimentava-se suavemente para os lados, para frente e para trás, fazendo com que o cabelo caramelo balançasse conforme seus gestos.
Uma gota de suor escorreu por sua face. Pingou em uma tecla. Escorreu. E, por fim, caiu no piso cinza claro.
Os olhos esverdeados arregalaram-se e um aperto no peito fez com que cambaleasse para trás, caindo do banquinho negro, causando uma queda dolorida. Trincando os dentes, ele levantou-se e olhou para baixo. Ele havia quebrado o instrumento dela. O glorioso violão negro com detalhes dourados.
Lágrimas. Tudo o que ele era naquele exato momento eram lágrimas. Seus joelhos cederam e ele novamente caiu; dessa vez, no tapete peludo que ela tanto adorava. Suas mãos foram de encontro com o rosto, escondendo-o enquanto soluçava e chorava.
A saudade que sentia, assim como a dor, a angustia, estavam o matando. Literalmente. A cada dia ele sentia-se preparado para entregar-se ao seu desespero e saudades. c Abraçá-la tão forte quanto um urso o faria.
Ele precisava, necessitava, disso. E isso era a única coisa que sabia.
Então, simplesmente entregou-se de braços abertos à doce entidade que levara sua amada.
Seu sorriso estava radiante. Seus olhos, vidrados nos dela. O vento suave bagunçava o cabelo de ambos enquanto um beijo selava os lábios do doce casal. O pianista e a violonista estavam, finalmente, em paz e juntos novamente. No pequeno pedaço do paraíso deles, numa sala-estúdio de tonalidades claras com uma vista espetacular de um jardim perfeito, a felicidade de ambos seria infinita.