O que tu dirias ser poesia?
Seria o sentido escondido entre cada palavra?
Seria a palavra, para aquele alguém, tão mais amada?
Seria o céu límpido e claro?
Ou seria o friozinho de um dia nublado?
Seria a poesia a folha que em um dia de vento
Segue cambaleando entre tombos e destemperos de seu comandante?
Seria o odor de café, logo cedo da manhã, quando acordas atrasado?
Ver a capa do teu livro predileto nas mãos de alguém?
Seria esconder o riso ao pensar bobagens em público?
Ou rir descontroladamente para, do teu riso, ver a felicidade de uns,
Apesar da cara emburrada de outros.
Poesia seria tudo disto ou nem tanto de um pouco mais?
Seria aquela preguiça incontrolável ao amanhecer,
Olhar para o calendário e perceber que, diante de tua preguiça,
Podes, simplesmente, permanecer estirado em tua cama
Ou acordar, ainda que sem pressa, pular da cama completamente energizado,
Olhar para o céu aquém da janela e pensar neste como uma aquarela.
O que seria a poesia?
Seria a teatralidade do drama?
A sátira da comédia?
O amor do romance?
A simplicidade de um haicai?
A curiosidade da criança?
A serenidade de uma lembrança?
A nostalgia do senil?
A garra da juventude?
A amizade entre enamorados?
A bondade do samaritano?
Com lápis e caneta escreveram sobre a poesia,
Descreveram e soletraram,
Destoaram, cantaram e chamaram de maldita,
Afinaram-se, brandaram e aceitaram-na.
Enquanto isso,
A pessoa que tu dizes perdida na vida,
Aquela que perde-se na natureza
E vê além dos detalhes, em cada dia sua beleza,
Viveu na modéstia de sua felicidade,
Aquela tal de poesia,
Viu no bom e bem de cada dia
Que há o que não se defina,
Não por indiferença,
Mas por questão de abrangência,
Deixa ser o que houver de bom na vida,
E na dúvida para rimar,
A gente chama de poesia.