Pensei que você tinha me enterrado bem fundo
Esquecido aonde era meu túmulo
Não acendido uma só vela
E me deixado sem sentinela
A morte sempre me pega distraída
Mas eu sabia que você voltaria
Cavucaria a terra preta com sua mão
Abriria a tampa velha do caixão
Para me roubar da calmaria
Você checou a autópsia?
Se comunicou com minha alma
Através do Tabuleiro OUIJA?
Pediu a permissão de algum guia?
Viu tudo que sou inteiramente
Meus órgãos pretejados por dentro
Grudados aos ossos, como dejetos
E ainda achou bonito?
Decidiu sentir saudades,
Ou não havia nenhum corpo
Tão quente quanto
Toda esta minha friagem?
Acho que ao menos
Te assombrei bem
Seus olhos me perseguiram
Em meu sonho eterno também
Você tentou me ressuscitar
Com impulsos elétricos
Três mil volts em meu peito
Mas não deu certo:
Esse meu duro coração,
Temo já ter virado pó
E se não fosse por
Esse nosso nó
De prováveis outras vidas
Eu ainda estaria comedida
A não sentir falta
Do seu calor...
Não estou.
E se não há mais nada
Que eu possa fazer,
Ao menos eu
Sempre me lembrarei de você
Mesmo neste esquife
Para o qual rastejei de volta
Após perceber
Que não posso te deixar
Voltar para a minha rota
Pois eu me perderia de novo
E por querer...