Ao me aposentar, busquei um imóvel para alugar. Queria eu montar um negócio. E logo, logo achei um. Tive que arrumar um pedreiro ou um servente. Achei um servente. Marcamos o dia de começar os trabalhos.
No dia marcado, fui até o imóvel e lá estava o servente. Vi logo, pela conversa dele, que era um bom cidadão.
E indiquei a ele as modificações que queria que ele fizesse no imóvel. E ele se pôs a trabalhar.
Numa das conversas que tive com ele, ele me disse:
- Eu trabalho também para mim.
E eu perguntei:
- Em que?
- Num barraco para mim e uma morena.
E vi alegria nos olhos dele. Ele me disse que a amava.
Eu lhe desejei felicidades, independente do fato de que o veria ali nos dias seguintes.
E ele trabalhava seriamente. Vi que não me enganara, era um bom cidadão. Tanto quanto bom trabalhador.
No fim do dia, eu fui para casa. Ele já tinha ido para a dele. Eu pensei: nós humanos devemos saber o que queremos.
No dia seguinte, lá veio ele. E assim tudo correu bem. Até o fim dos trabalhos. Eu o remunerei bem. Ele agradeceu.
E hoje estou no balcão à espera dos clientes de armarinho. Armarinho foi o negócio que abri. Era um pequeno negócio de variedades. Só mesmo para me ter o que fazer.
Claro, nasci classe média, ali estava eu classe média. E contente da vida.
Pois tinha trabalhado muito em escritórios. E me sai bem. Graças a Deus.
Hoje eu me felicito a mim mesmo quando me lembro da minha vida. Claro, fui um bom cidadão também e honesto. E eu e o servente de há pouco éramos dois bons cidadãos.