Houve um tempo
Se bem me lembro
Em que tudo parecia normal.
Mas, na verdade
Minha vontade
Era de algo muito mais visceral.
Um sentimento
Sanguinolento
Muito diriam até que maligno
Que fervilhava
E se alastrava
Dentro de mim desde ainda menino;
Me impelindo,
Me seduzindo,
Sem que eu pudesse evitar.
Não que eu quisesse:
Até parece!
Foi algo tão natural de aceitar.
Então um dia,
Às escondidas,
Fui levar o meu cão para brincar.
A tarde inteira
A brincadeira
Foi com um objeto peculiar.
O enchi de cortes
Até a morte
Me sentindo tão bem no processo...
Ele morria,
E eu renascia:
Adorei cada segundo, eu confesso.
Foi o início
De um grande vício
Ao qual feliz me entreguei
Por alguns anos
"Brinquei" com tantos!
Até um "cemitério" montei.
Então o inédito
Se tornou tédio:
Os animais perderam a graça.
Já era hora
De coisas novas:
Escolhi então a minha própria raça.
Esperei bastante
Por uma chance;
Pensei até que eu ficaria louco.
Tal quarentena
Valeu a pena:
Todo cuidado era pouco.
Enfim, um dia
Para minha alegria
Encontrei um casal descuidado.
Duas garotas
Beijos na boca
Muito tesão em um local afastado.
Paixão proibida:
Homofobia
Naquela época era bem mais adequado.
Tiveram medo;
Melhor segredo
Do que agressões e escárnio.
Só que lá era perto
Do meu "cemitério":
Amor certo no lugar errado.
Não tive medo
E em segredo
As mocinhas acabei raptando.
No esconderijo
Em um cortiço,
Um longo convívio começava
Entre as pirralhas,
Minha navalha
E o monstro que o capuz ocultava.
O sofrimento
Foi tão intenso...
O máximo que pude causar.
Algumas partes
De suas carnes
Me vi obrigado a provar.
Foi tão gostoso
Da pele ao osso
Fazer a lâmina sem pressa retalhar...
Então a Morte
Para minha má sorte
Decidiu por fim atrapalhar.
Desde daquele fato
No anonimato
Fiz isso com várias pessoas.
Não há critério:
Pego quem quero
Toda escolha sempre foi boa.
Foi tanta gente
Que de repente
Eu simplesmente parei de contar.
Só as lembranças
Dessa matança
Permanecem para o meu bem-estar.
Não deixo provas
Nem mesmo as mortas
Pois delas faço um lanchinho.
Eis minha história,
Talvez inglória,
Para quem cruzar o meu caminho.
E agora eu vejo
Que esse desejo
Sempre estará em mim.
E esse anseio
Por sangue alheio
Nunca vai ter fim...