- E o que ficou? - perguntou ela.
- Muito pouca coisa. - disse eu.
- Mas por que? - continuou ela.
Eu não me vi em dificuldades. Estava ali terminando o meu ano em que me fiz setentão. Aquela chama do amor que me incendiou quando eu era bem mais novo, tinha meus vinte e cinco anos de idade, aquela velha chama se apagara. Morrera. Mas ela continuando a conversa me disse:
- Quer dizer que o amor não existe?
E eu, sem pensar:
- Existe, mas é preciso que o alimentemos.
- Como assim?
Eu olhei para ela, e subitamente perguntei:
- O que pretende com essas perguntas?
- Te conhecer melhor.
- Prá que?
- Prá nada.
Eu ri, que só rindo mesmo. Ela era uma jovem garota e eu um velho. E vi que o amor aos humanos pelo simples fato de serem humanos existe também. E quanto a mim, sendo eu católico, sigo a Cristo na medida do possível. E lembro-me da frase bíblica: 'Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.' Muito pouco praticada com a verdadeira sabedoria. Mas, praticada. Nós os católicos convivemos.
Então olhei aquela garota ali na minha frente, e disse a ela:
- Sabe, o amor tal qual o conheci: primeiro, a paixão. Em segundo, o amor. E finalmente, a amizade.
- Mas isso entre casados? - indagou ela.
- É, se têm longo tempo de casados.