Eu vinha andando pela rua, meio desligado. Não vi e me tocaram o braço. Eu olhei e vi e ouvi:
- Você anda por aí assim?
Respondi:
- Nunca me aconteceu nada de ruim.
Era meu irmão, ele também ia para o trabalho como eu. Nessa época ele estava casado. E morava longe de mim, mais ou menos longe. Não conversamos durante muito tempo. E eu me alegrei por vê-lo logo de manhã. Prestei a atenção à palavra 'desligado' que eu escrevi. E me lembrei que um músico já havia feito uma canção com aquela palavra. A canção dizia assim:
- "Ando meio desligado..."
Que parece que eu tirei a expressão 'meio desligado' dela para escrevê-la aqui. Mas não é. É que eu costumo andar mesmo desligado. Só presto atenção na hora de atravessar a rua.
E meu irmão, antes de se ir, riu um tanto de mim. Ele prometeu ir qualquer dia desses lá em casa. É bom ter um irmão e amigo ao mesmo tempo.
Ele estudava arquitetura e eu filosofia. Mas ele gostava de conversar sobre as letras filosóficas. E eu achava isso muito bom.
Era assim que eu me distraía dos meus estudos, conversando com meu irmão.
Éramos ambos filhos de uma enfermeira casada com um funcionário do governo. O que nos dá uma certa posição social até hoje. Mas, vou deixar claro, nenhum de nós, os filhos, tira onda desta posição. Porque tem uns que só de se verem respeitados, abusam.
Eu ao invés disso, rezo muito para que Deus nos proteja. Meus irmãos também têm religião. Fomos todos batizados na Igreja Católica. Meus irmãos foram mudando de religião, o que a Constituição nossa permite. E mesmo assim meus irmãos vivem bem com seus semelhantes. O que eu acho importante.
Agora, depois do trabalho, aqui vou eu, cansado, embora para casa. Mas antes passo numa igreja para rezar. E faço uma confissão: eu me conservei católico.