Hoje acordei pensando em mim. E sabem por que? Hoje é dia de São Francisco de Salles. O santo é padroeiro dos escritores. E é ele que deve me abençoar todos os dias. Pois que venho aqui todos os dias e escrevo alguma coisa. O que quero escrever hoje é muito simples. Mais um mês que eu viver acho que estarei algo mais maduro. Estou vivendo a transição dos setenta para os setenta e um anos de idade. Vai ser legal quando eu completar tal viagem.
Não vou fazer nenhuma reflexão muito importante. Quero apenas advinhar meu dia de hoje. Não vou cantar nada sobre solidão. Porque nunca estou só. Pode parecer que eu estou contando vantagem. Mas sabem porque nunca estou só? Porque sempre estou com um livro nas mãos. Sou, isso sim, um leitor voraz. E para mim quem traz um livro nas mãos, com as comodidades de todo o seu dia satisfeitas, está com a vida feita. A empregada deixou meu almoço e meu jantar de hoje e amanhã prontos. Eu já tomei meu café da manhã. E o que eu posso querer mais? E ela ainda ontem me disse:
- Se precisar de algo pode me telefonar.
E um livro nas mãos é um amigo a quem devemos prestar a atenção.
Pode parecer que eu estou ansioso por completar setenta e um anos de idade. Não é o caso. O caso é que eu estou achando ótimo envelhecer devagar.
Em primeiro lugar é que eu envelheço sem concorrência. Sem ter que ouvir daquele que diz:
- Descobriu isto agora?
Como se ele que diz isto soubesse de tudo. Já vi isso. Aquele tipo metido a sabichão, mas que é discípulo do Gérson que dizia na TV:
- Levar vantagem em tudo, certo?
E que eu sempre detestei.
Se eu tiver de falar algo da solidão, direi que aqui estou livre dos perigos e das hipocrisias. Mas, chega. Agora eu vou festejar um tanto.
Festejar o que, perguntará o leitor para quem festa tem que ter convidado.
E eu responderei:
- Claro, aqui não é o lugar. Porque aqui eu devo satisfação ao leitor. Mas aproveito o estar só para ler o livro que me mandaram de presente. Esperando que ele possa ser bom companheiro e se não for, escolherei outro nas minhas estantes.