No princípio tudo eram rosas. Ele e ela se diziam apaixonados. E quem os via, dizia que estavam mesmo. Mas quem disse:
- Olha, eu estou apaixonada.
Foi ela. Quer dizer, nada de novo, porque hoje as moças tomam a iniciativa. E foi o que ela fez ao se dizer apaixonada. Mas ele, o rapaz, era arrimo de família. E quando leva a moça a sua casa, a mãe dele não gosta. Ele antevendo a tempestade, resolve dar um jeito. Ele chama a moça a um canto:
- Querida, nosso noivado (porque estavam noivos) vai bem, mas...
- Mas...
- Sem mim em casa, a minha família...
- O que que tem?
- Tem que somos pobres, eu ganho pouco, e dou em casa o meu quinhão.
- ... (Ela ouviu e ficou muda.)
- Quer dizer que fazia hora comigo? - pergunta ela, depois de um minuto.
Ele fica ali, sem ter o que dizer. Pega a aliança de seu dedo e entrega a ela. Ele não tem o que dizer.
- Ainda bem que estamos no século XXI, as coisas mudaram. Se fosse no tempo do vovô e da vovó, ia dar polícia.
Ele diz algo afinal:
- Vira esta boca para lá, quem me disse que estava apaixonada foi você.
- Eu aprendi uma lição.
- Ainda bem.
E cada um seguiu seu rumo. E o rumo de cada um era o próprio lar de seus pais.