venho sobrevivendo
a mais de 20 anos
de insônia e pesadelos
eles não entendem, eles não entendem
pinto as unhas de preto
um tipo novo de segredo
pintei meu coração
com o nome dele
- por cima dos anteriores,
tal qual papel de parede
vocês já sabem o enredo
farejo meu próprio medo
abro as cortinas, nua
flagro o vizinho fazendo o mesmo
3 horas da madruga
ele vem sobrevivendo
a mais de 20 anos de insônia?
assim como eu, assim como todos
a culpa cristã sempre
levanta bem cedo
se gruda entre meus dedos
pago e pago por cada erro
nunca consigo acertar
mas Deus sabe, Ele sabe...
"mas você não vai
morrer tão cedo"
grito para meu rosto
emoldurado no espelho
meus olhos, vinhedo
minha boca, rochedo
meus dons, amoedo
por mim, intercedo
flagro meu pai fazendo o mesmo
flagro minha mãe fazendo o mesmo
todo mundo, sem gracejo
eles não entendem,
meus pulmões acendem
mais um dia daqueles
há vozes ancestrais
que me dizem
- mantém a calma e sorri
elas de mim,
têm se apossado
e, ano passado
por pouco sobrevivi
como nas fábulas de esopo
mas esse ano,
vou rumo ao topo