Meu pai era um marido muito ciumento. Às vezes parecia ter ciúmes da própria sombra. Um dia ele foi parar na porta da garagem do nosso prédio. E quando, seguindo um trato que fizeram, chegou a sobrinha dele e o namorado, para pegar minha tia e irem ao teatro, lá estava ele à porta da garagem. E portava um révolver. Até que, graças a Deus, ele viu que era a sobrinha. E tudo foi salvo. Minha tia e ele, a sobrinha e o namorado.
Minha tia nos contou isto sorrindo. Mas, no final assumiu que teve medo.
O que meu pai era? Era um marido ciumento. E conforme eu ouvira na rua, o ciúme é o câncer dos ossos. E confessei à minha mãe:
- Eu não sei porque meu pai é assim.
Claro, minha mãe nunca tinha dado motivos a ele. Não é porque ela é minha mãe, mas era uma esposa fidelíssima.
E eu como filho, fui um filho muito amigo da minha mãe. Ela merecia, um filho devotado.
E aquele ciúme que meu pai tinha dela, me afastou dele. Até o ponto em que eu disse:
- Mãe. meu pai me é um estranho.
E deveras, eu não aprendi aquilo com ele. Aquilo, que eu digo, era ter aquele ciúme maldito.
E com isso, nós três, eu, minha mãe e meu pai, fomos tendo nossas vidas, cada um a sua. Eu esperava meu pai chegar e depois saía. Se alguém chama isso de estilo de vida, que chame. A vida que aprendemos a levar, leva-nos a ter nosso estilo de vida.
O que não estávamos acostumados a viver, passamos a viver.
E isso me fez ver que muitas coisas são as não previstas. E aí surge-nos um novo preparo, aquele de nos preparar para o não dizível. Que nos faz dizer:
- Vamos ver no que vai dar isso.
E minha mãe, afinal disse:
- Isso é que dá ter um marido ciumento.