Lá está o aposentado. Trabalhou a vida inteira num escritório. Com o salário foi adquirindo seus livros. E, na medida em que o tempo passou ele os leu devagar. Ao mesmo tempo em que escrevia também.
E veio o tempo de se aposentar. Ele se recolheu a sua casa. Neste entremeio ele se casou e se divorciou. Não teve filhos.
Mas na sua vida a poesia o perseguiu o tempo todo. Se exercitou tanto que ganhou a mestria no escrever.
Um dia recebeu a visita de um ex-colega.
- Oi, como vai? - disse ele ao ver o colega.
O colega lhe sorriu e respondeu:
- Eu estou bem, também me aposentei.
- E o que você faz da vida?
- Fico em casa, minha filha vai sempre me ver.
- Eu me divorciei sem filhos - disse ele.
Conversaram e ele contou que agora trabalhava sem remuneração com a escrita literária. O outro se alegrou:
- Ora, vivas! Um escritor em carne e osso. E na frente dos meus olhos!
- Deixe de bobagens, iguais a mim há muitos.
O outro então lhe pediu:
- Deixe-me ver alguma coisa sua.
Ele mostrou ao ex-colega um conto que escrevera. Neste momento foi motivo de admiração
Ele, é claro, se envaideceu. Viu então que escrever mexia com as emoções.
E quando o ex-colega se foi, ele tomou notas. Quando pode, escreveu alguma coisa sobre a vaidade. E rezou em agradecimento. Pois a visita do ex-colega lhe dera ao cabo inspiração. E somos tão humanos que somos vaidosos.