Eu estava aqui querendo fazer uma crítica dos dias que tenho vivido. Veio-me um amigo e me disse:
- O amor morreu.
Eu estranhei a fala dele. Mas procurei me inteirar. E ele me contou que a mulher que jurara o amar até o fim, se fora e o deixara sem um único bem. Não encontrei palavras para consolá-lo. Não é que o caso dele fosse inédito. Nas estórias de amor que me contavam, o conteúdo delas era o mesmo.
Ele vendo o meu silêncio, o meu pasmo espantado acabou se indo. Eu continuei ali sem saber até o que pensar. Quanto mais o que dizer.
E me chegou esta estranha carta. A dizer-me:
- Ela há de chegar! e mais nada.
Foi quando tocaram a campainha de minha casa. Eu fui lá atender. Era uma mulher. Eu não a conhecia. Mas perguntei o que ela desejava.
- O senhor pode dar guarida a uma desvalida?
- Minha senhora eu nem a conheço.
- Fica conhecendo.
- Eu não posso. - eu disse a ela.
- Então passe bem o senhor.
Eu pensei, e veio -me ao pensamento uma só frase.
- Se ela há de chegar, que eu morra nos braços de uma mulher.
Ela, a estranha, pareceu advinhar o que eu pensava. Disse ao se despedir e desaparecer pela minha rua:
- Mulher não mata, as mulheres amam.
E ela se foi. Não seria aquela mulher nos braços de quem eu morreria.
Liguei para meu amigo:
- Ô amigo, quem sabe o seu caso tem solução? Procure sua mulher.
E fechei minha casa. E corrigi minha frase, para:
- Antes morrer de amor por uma mulher.